quinta-feira, outubro 16, 2014

Um Camões mais russo



Luís de Camões, o maior dos poetas portugueses, e Mikhail Travtchetov, tradutor russo de Leninegrado/ São Petersburgo. O que une estas duas figuras de países tão distantes? O seu fim trágico e a publicação dos Lusíadas em russo.
A sala da Biblioteca de Línguas Estrangeiras de Moscovo foi pequena para receber tanta gente, principalmente jovens, que quis participar na cerimónia de lançamento da primeira tradução poética para russo dos Lusíadas.
Esta foi a primeira tradução integral do poema épico de Camões para russo, mas não foi a primeira edição dessa obra em russo por motivos trágicos. A primeira edição dos Lusíadas, traduzidos por Olga Ovtcherenko, foi publicada nos anos de 1980, enquanto que a tradução de Mikhail Travtchetov foi feita nos anos de 1920 e 1930, mas só chegou aos leitores na terça-feira.
Este grande atraso deveu-se ao facto de o tradutor ter entregue à editora Gossizdat o manuscrito em 1940 e o livro não ter sido publicado devido ao Bloqueio de Leninegrado. As tropas de Hitler cercaram a cidade que só não se rendeu graças ao heroísmo dos seus habitantes.
Mikhail Travtchetov teve possibilidade de abandonar a cidade antes do cerco se fechar, mas não o fez, tendo falecido em Leninegrado em Dezembro de 1941, não se sabendo se de fome ou em combate. O fim do poeta português, como é sabido, também foi trágico, porque morreu pobre e esquecido pelo povo que ele cantou.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1941-1945), Sofia Dubrovskaia, irmã do tradutor russo, lutou durante 20 anos para que os Lusíadas fossem publicados, mas sem êxito.
Em 2011, quando fazia uma busca na Internet sobre Camões na Rússia, deparei com informações sobre Travtchetov e a sua tradução dos Lusíadas para russo. Alertados para este facto, o Instituto Camões, a Embaixada de Portugal na Rússia e o Centro de Língua e Cultura Portuguesa de Moscovo juntaram esforços e conseguiram esta proeza de publicar, com grande qualidade gráfica, a maior das obras literárias escritas em português.

A julgar pela forma como os excertos do poema recitados em português e russo foram recebidos pelo público, pode-se concluir que esta edição valeu a pena, tanto mais que foi prometido fazer chegar exemplares dos Lusíadas às bibliotecas de outras regiões e cidades da Rússia.

4 comentários:

Anónimo disse...

JM ao ler um artigo lembrei-me logo de si.

Udo Ulfkotte, ex-editor do Frankfurter Allgemeine Zeitung (http://en.wikipedia.org/wiki/Udo_Ulfkotte),
admite ter sido subornado para manipular informações e mentir aos seus leitores.

Com direito a video. Censure lá esta :)

https://www.youtube.com/watch?v=yp-Wh77wt1o#t=212

Anónimo disse...

JM ao ler um artigo lembrei-me logo de si.

Udo Ulfkotte, ex-editor do Frankfurter Allgemeine Zeitung (http://en.wikipedia.org/wiki/Udo_Ulfkotte),
admite ter sido subornado para manipular informações e mentir aos seus leitores.

Com direito a video. Censure lá esta :)

https://www.youtube.com/watch?v=yp-Wh77wt1o#t=212

Anónimo disse...

Caro José Milhazes se poder, veja o documentário em exibição no
doc Lisboa , de Sergey Loznitsa
Maiden.
Cinema documentário no seu melhor com uma perspectiva in loco.

ANTI-COWBOY disse...

É sempre com agrado que sabemos de uma tradução de uma das maiores obras da literatura portuguesa para uma língua estrangeira,desta vez o russo.É positivo e é de louvar.Um crítico e escritor brasileiro já antigo e que já não se encontra entre os vivos,suponho que se chamava Tristão da Cunha,mas como estou a referi-lo de cor posso estar enganado, mas apenas eventualmente no nome, dizia que "Os Maias" do nosso Eça de Queirós,era a 2ª obra de arte jamais escrita em português a seguir aos LUSÍADAS.Fica aqui esta nota.Não estou em condições de saber se a tradução é boa ou não até porque não domino o russo.Contudo é muitíssimo difícil uma tradução de obras literárias, e portanto com uma grande componente artística,seja prosa ou poesia,porque toda a construção estética e musical da língua nunca poderá ser verdadeiramente transcrita sem lhe ser roubado o seu mais profundo sentido e conteúdo.E quando estes não lhe são tirados, a musicalidade da língua é necessariamente afectada e perdida.Mas para isso há pouco a fazer embora haja especialistas próprios nesse sector.Ficam aqui todavia as minhas congratulações com tal facto,tão e sempre positivo.