Herman Van Rompuy,
que está de saída do cargo de Presidente do Conselho Europeu, vem
propôr agora a “federalização” da Ucrânia, ou seja, o
tratamento da “caspa” ucraniana com a “guilhotina” europeia,
como se não soubesse que isso será o princípio da balcanização
completa do maior país europeu.
Num discurso
pronunciado no Instituto de Ciências Políticas (Sciences Po), o
dirigente europeu declarou:
“É necessário
procurar uma solução global. Deve encontrar-se uma maneira para
que a Ucrânia se torne um país descentralizado (ou federalizado) e
inclusivo. É preciso definir o lugar da Ucrânia na Europa”.
Mas será que este
senhor, ainda por cima político belga, não compreende que, no caso
da Ucrânia, descentralização e federalização são coisas
completamente diferentes? Não ouve e não lê que não é por acaso
que os dirigentes ucranianos defendem a descentralização e recusam
terminantemente a federalização, enquanto que Moscovo, o patrão
dos separatistas no leste da Ucrânia, defende precisamente o
contrário?
Depois da sangrenta
guerra civil que decorre na Ucrânia e que já ceifou mais de 4000
vidas, a política de federalização da Ucrânia será equivalente à
sua balcanização. E não será só o Kremlin que participará na
partilha do bolo. Alguns setores políticos da Hungria, Roménia e
Polónia não estão contra esse cenário.
Claro que poderão
dizer aos ucranianos que, caso aceitem a federalização, eles
receberão garantias internacionais da integridade territorial do seu
país, mas os ucranianos já sentiram na pele o valor dessas
garantias. Em 1994, o Tratado de Budapeste garantia a integridade
territorial da Ucrânia em troca da entrega por esta das armas
nucleares. Esse documento foi assinado pelas potências nucleares
(Rússia, Estados Unidos, China, Reino Unido e França), mas, dez
anos depois, o Kremlin atirou-o para o caixote do lixo.
Não é segredo para
ninguém que a União Europeia não teve nem tem uma política
pensada, consolidada e coerente face ao antigo espaço soviético,
sendo ela, por isso, mais reativa do que preventiva.
Essa falta de
política é particularmente evidente durante toda a crise na
Ucrânia, que já dura há quase um ano. Ou mais exactamente, já
dura desde pelo menos 2004, quando em Kiev teve lugar a “revolução
laranja”. Bruxelas teve, depois, numerosas oportunidades de
aproximar a Ucrânia da União Europeia, mas não foi além das
palavras e da elaboração de um Acordo de Parceria com Victor
Ianukovitch, presidente cleptocrata, corrupto e que, há última da
hora, decidiu revender-se uma vez mais à Rússia a troco da renúncia
da assinatura do citado acordo.
Bruxelas sabia desde
há muito que Ianukovitch não iria assinar o acordo, mas continuou a
fazer de conta que a assinatura iria ocorrer na data marcada.
Quando começaram os
confrontos na Praça da Independência de Kiev, a UE tentou mediar as
conversações entre Ianukovitch e a oposição e, aqui, comete mais
um erro imperdoável ao tornar-se garante desse acordo que não era
para cumprir. Segundo o documento, Ianukovitch comprometia-se a
antecipar as eleições presidenciais e parlamentares, enquanto que a
oposição e o poder se responsabilizavam pela instauração da ordem
em Kiev. No dia seguinte, o Presidente ucraniano teve de fugir da
capital.
A continuação da
história já é bem conhecida, sendo de sublinhar que a Ucrânia
perdeu parte significativa do seu território, algum dele de
recupeação praticamente impossível num futuro próximo.
O que Herman Van
Rompuy faz é aconselhar a tratar da caspa com a guilhotina, mas
esperemos que a nova Comissão Europeia seja mais sensata a tratar
crises tão graves como a da Ucrânia.
8 comentários:
A federalização é, talvez, a unica solução para manter a Ucrania como a conhecemos hoje!
Justino disse:
“Ianukovitch comprometia-se a antecipar as eleições presidenciais e parlamentares, enquanto que a oposição e o poder se responsabilizavam pela instauração da ordem em Kiev”
Mas que conceito de democracia é este ? O resultado das urnas só contaria se os vencedores fossem contra Moscovo e coniventes com Washington/Bruxelas, caso contrário o vencedor seria convidado a abreviar e descartar o poder que o povo lhe concedeu pela via democrática?.
Pois bem, efectivamente a oposição tomou o poder a partir de Maidan e o que a seguir se passou foi, nomeadamente, perseguição e humilhação de deputados e jornalistas, ilegalização de um partido, abolição de língua russófona como língua oficial, aquele vergonhoso crime em Odessa. Mas que estranha e nova ordem é esta ??
“Victor Ianukovitch, presidente cleptocrata, corrupto”
Cleptocracia e corrupção são coisas que, como a poliomielite, foram banidas para sempre de países governados a partir de Washington/Bruxelas, aptos assim a darem lições de bom comportamento a todo o mundo incluindo a Ucrânia. E a oposição saída de Maidan é de uma impoluta candura imune a oligarquias, digna assim de povoar os céus ao som das trombetas dos querubins.
Não morro de amores por Putin, por Ianukovitch ou ainda pela actual poder da Ucrânia saído de eleições com partidos ilegalizados ou limitados, mas sou levado a pensar que com o acordo de gás recentemente celebrado entre Ucrânia e Rússia, a acrescer aos acordos de Minsk, estes países estão dar passos importantes para a pacificação sem interferências de mais ninguém, países estes que melhor conhecerão o que fazer em prol da paz, até porque não podem viver um sem o outro, estão historicamente e geograficamente casados para o bem e para o mal.
A este respeito, vale muito a pena toda a atenção para as palavras do insuspeito Henry Kissinger no seu artigo no Washington Post intitulado “Como resolver a crise ucraniana: Rússia e Ocidente precisam de um acordo equilibrado que crie confiança entre os dois lados” de que destaco estas duas frases:
"A Ucrânia não deve ser um ponto de discórdia entre o Oriente e o Ocidente, mas uma ponte entre eles"
'Para o Ocidente, a demonização de Vladimir Putin não é uma política, é um álibi para a ausência de uma [política]"
Quem quiser contestar a assertividade destas duas frases que se chegue à frente.
206Caspa com sangue!!!
Voltamos ao inicio: Mas com menos 5000 civis, 20.000 soldados...Apenas com a mesma estupidez. Afinal, a federalização era a resposta, mas agora, ainda é?
“Estamos preocupados com os múltiplos casos de violação de direitos humanos por batalhões paramilitares, embora tenhamos saudado a inclusão desses destacamentos no quadro orgânico do Ministério da Defesa da Ucrânia e do Ministério do Interior”, assinalou, adiantando “ser importante que esta decisão não seja formal, mas que contribua para o reforço da disciplina e a observação dos Convénios de Viena” - anunciou o diretor executivo da Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth. (Voz da Rússia)
Embora você não goste e tenha feito tudo à sua maneira e de acordo com os meios que possui, para que a Rússia fosse enxovalhada, vilipendiada, humilhada e derrotada nesta guerra contra os fascistas que empestam nesta desgraçada e tesa UE dos alemães, você está a entrar na fase daquele que é "enganado" pelas costas. Foi você que escolheu. Só me custa saber que você viveu naquela grande e orgulhosa nação e não aprendeu nada.
Ouvi o seu comentário na radio sobre a economia Russa , onde voçê afirma que a queda do rublo não é culpa do Oeste ou US e E.U. .
Seria melhor voçê antes de mandar essas opiniões para o ar que se informa-se , pois é capaz de se dár mal .
http://drudgereport.com/
http://infowars.com
http://rt.com
Por outro lado, caro Milhazes, eu propus a Russia a estudar um projeto de lei a incorporar o Estado do Alaska ao seu território. Quer dizer: o Alaska deveria ser novamente da Russia. Abraço daqui do Piauí, Brasil.
Everardo
Caro José Milhazes.
Já leu o debate entre os filosofos Olavo de Carvalho e Aleksandr Dugin.
http://debateolavodugin.blogspot.pt/
Também disponivel em livro:
http://videeditorial.com.br/index.php?page=shop.product_details&flypage=flypage.tpl&product_id=3345&category_id=10&keyword=Os+EUA+e+a+Nova+Ordem+Mundial&option=com_virtuemart&Itemid=55
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