Agora é que vai ser... Esta expressão vem-me à cabeça sempre que leio notícias deste género: Rússia testa míssil capaz de superar escudo anti-mísseis norte-americano. Basta dar uma vista de olhos por páginas como a da Suptnik em português e de algumas agências de informação russa para pensar que se trata de publicidade de uma loja de fabrico e venda de armas compreender. Vamos acreditar na propaganda oficial e considerar que está garantida a defesa do inimigo externo. Eu, e escrevo isto sem ironia, acredito nessa propaganda pois desde a era soviética, com o aparecimento de armas nucleares e mísseis de médio e longo alcance, que não passará pela cabeça de ninguém atacar a Rússia. Pelo menos desde 1941 que ninguém tentou fazer isso, pelo contrário, foram as tropas soviéticas/russas que invadiram outros países.
Pois bem, anulada a ameaça externa, agora é que vai chegar o tempo de Putin se lembrar dos seus cidadãos, mas tal não acontece, porque, actualmente, a capacidade de influência e até a força de um país não se mede pela quantidade de armas. Já ficou bem provado o que acontece aos países que enveredam na corrida aos armamentos sem bases económicas fortes. Lembro o melhor exemplo: URSS.
Como o regime russo teima em sacrificar os mais elementares direitos dos cidadãos à corrupção desenfreada das elites, a ideias falsas como a da superioridade moral de um povo em relação a outros, como a da "via original" para não se sabe bem onde, os cidadãos começam a ficar impacientes.
Segundo o centro de estudos sociais "Levada", no último ano, a popularidade de Putin de 59-60% para 39%. A queda da popularidade do ministro da Defesa, Serguei Choigu, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, sofreram a mesma queda. Chamo a atenção para a quebra de popularidade de Lavrov e Choigu, que alguns no Ocidente consideram ser dois grandes ministros, embora não façam mais do que transmitir as ordens do dono, porque é cada vez maior o número de russos que consideram que a política externa agressiva dos seus dirigentes podem ter consequências trágicas. A euforia da ocupação da Crimeia em 2014 está a ceder lugar ao medo da guerra, do confronto com a NATO e os Estados Unidos.
O estudo revela que, se ainda recentemente, apenas 45-50% queriam o estabelecimento da paz e cooperação com o Ocidente, hoje, esse número chega aos 79%. Os russos já estão cansados e fartos da verborreia militarista.
Os russos estão mais preocupados com o aumento da idade da reforma (90% contra), com os filhos (80%), com o perigo de uma guerra mundial 57%, com o aumento do poder Arbitrário da polícia e com o regresso às repressões em massa (40%). Estes medos são maiores do que os receios face ao desemprego (32%) e pobreza (45%).
Este estudo refere outra tendência importante: é cada vez maior o número dos que afirmam que estão dispostos a sair à rua para defender os seus direitos, coisa que já não acontecia há alguns anos.
Resumindo, os habitantes da Rússia querem uma vida normal, sem histerias militaristas e confrontos com os vizinhos, com o nível de vida digno de um país com as suas potencialidades. Se o poder continuar a não dar ouvidos aos cidadãos, depois não se queixe.
P.S. chamo a atenção para o preço do petróleo nos mercados internacionais. Se as turbulências continuarem, vários países, entre eles a Rússia, poderão ter problemas.
P.S. chamo a atenção para o preço do petróleo nos mercados internacionais. Se as turbulências continuarem, vários países, entre eles a Rússia, poderão ter problemas.
Подробнее: https://www.newsru.com/russia/26dec2018/gudkov.html
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