Recomendo a leitura do livro "Não faziam mal a uma mosca", da escritora e jornalista croata Slavenka Drakulic, publicado pela Pedra da Lua em língua portuguesa. Trata-se de uma obra com interesse não só para os que se interessam pelos problemas dos Balcãs, mas para todos os que gostam de refrescar a memória histórica, para que os homens não repitam os erros.
Numa linguagem simples, mas precisa e muito humana, Slavenka Drakulic mostra-nos "como os homens banais podem ser criminosos de guerra".
Deixo aqui dois trechos muitos fortes deste livro:
"Um dia, porém, descobrimos que não é preciso haver um inimigo externo para despoletar uma guerra. O inimigo podia estar no seu seio - e estava mesmo. Como se não bastasse o desenterrar do passado - o passado que tendemos a esquecer, o facto de, durante a guerra, a Jugoslávia ter sido ocupada ou controlada pela Alemanha nazi-, estava em curso uma guerra entre sérvios e croatas. Por outras palavras, havia uma história de derramamento de sangue no nosso país, e era fácil manipulá-la para criar antagonismos mútuos: os sérvios tornaram-se inimigos dos croatas, dos bósnios muçulmanos e dos albaneses, mas, a certo ponto, os croatas estavam igualmente em guerra não só com os sérvios, mas também com os muçulmanos, enquanto os inimigos dos macedónios eram os albaneses".
E
"Tal como na Alemanha, começámos na Croácia por deixar de cumprimentar uma pessoa de outra nacionalidade, talvez apenas porque tínhamos medo que os outros nos vissem a cumprimentá-la. [...] Virar a cara criou, de facto, a oportunidade para que alguém cometesse crimes de guerra em nome dos mesmos princípios de isolamento e eliminação dos «outros»".
Slavenka Drakulic dá uma resposta demolidora, atroz, mas exacta à pergunta: para que foi tudo aquilo?
"Para nada".
5 comentários:
Sem duvida caro José, já vi o preço e já está no meu plano de leitura! Obrigado pela sugestão!
Comentário enviado por mail pelo leitor João Moreira"
Caro Milhazes,
Raramente comento algum post, apesar de várias vezes gostar de o fazer, mas o tempo não permite.
Assim, e de um fôlego, apenas algumas referências:
1) "Chamem a Polícia" - os monumentos portugueses deveriam, a meu ver, possuir uns folhetos explicativos em seis/oito línguas, do tipo desdobrável com uma história e súmula do que se vai ver. Mais, um livro ou uma informação mais detalhada sobre o monumento em causa, também em várias línguas, junto à recepção. Este pagável o outro, livre. A cultura, a história, o turismo e o povo também se "informam" e devem-se dar a conhecer. Quem por curiosidade, interesse e gosto deseja saber deve/deveria ser informado. Turismo também é isto... e o turismo cultural é uma forma de divulgar!
2) Sobre a indústria aeronáutica russa - na URSS (como em todos os países que se fragmentaram) as peças e materiais necessários não eram produzidos, exclusivamente, numa dada zona ou região. No fundo, no "país" produziam-se vários tipos de componentes. Ora a desintegração levou a que determinaddas áreas ficassem "descalças"...
3) Sobre o livro da autora croata: os resquícios de ajustes antigos estavam latentes e explodiram quando os povos começarm a autodeterminar-se.
4) Um post mais antigo sobre a divisão da Ucrânia: as fronteiras ucranianas (e não só!) foram substancialmente alteradas após o segundo conflito mundial do século passado. o próprio eleitorado ucraniano actual traduz essa divisão...
cumprimentos,
João Moreira"
Olá!
Obrigado pela sugestão! Já faz parte dos livros a comprar. Interesso-me imenso pela história e cultura destes povos e por isso não vou perder este livro. Já agora aproveito e faço referência a um livro brilhante de Ivo Andric intitulado A ponte sobre o Drina editado pelo Cavalo de Ferro, onde o autor faz a história da Jugoslávia desde o século XV até à 1ª Guerra Mundial.
Caro leitor/leitora Lourrain, obrigado pela sugestão. Irei ler logo que possível o livro recomendado.
Olá José,
Um óptimo conselho, a par da "A Rússia de Putin" da saudosa Anna Politkovskaya (ambos ilustrados pelo meu companheiro Rui Ricardo).
Deixo-lhe assim, uma palavra amiga da Póvoa de Varzim.
Um abraço,
Ana Cancela
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