terça-feira, dezembro 01, 2009

Blog dos leitores (O assassínio de Kirov e a herança soviética no campo político russo actual)


O leitor António Campos enviou o texto que publico abaixo.

"Passa hoje mais um aniversário do assassínio de Sergei Kirov, o líder bolchevique que foi visto por muitos como uma figura central na oposição às políticas extremistas de Estaline e um contrapeso à crescente concentração de poder nas mãos do ditador. A sua morte constituiu um pretexto para Estaline desencadear a “Grande Purga”, na qual milhares de pessoas, opositoras ou nem tanto, foram presas, executadas ou enviadas para campos de trabalhos forçados.

Em 1934, as cúpulas do partido e o público em geral começavam a demonstrar desconforto com as políticas repressivas indiscriminadas e com a colectivização forçada. A atitude generalizada em relação a Estaline começava a deteriorar-se, o que levou a que este estabelecesse uma série de concessões, que tiveram como resultado, no curto prazo, um aumento da popularidade de políticos mais “moderados”, tal como Kirov. Tal era uma ameaça óbvia à hegemonia política do ditador.

A responsabilidade pelo atentado nunca foi estabelecida para lá de quaisquer dúvidas. A versão oficial do assassino solitário, Leonid Nikolaev, expulso do partido, desempregado e descrito como agressivo e manifestando indiferença pela própria vida, teve a sua confirmação dificultada pelo assassínio da sua mulher e filho, bem como do guarda-costas Borisov, que morreu dentro de um camião a caminho de um interrogatório. Por outro lado, um relatório de uma comissão especial instituída por Khruschev em 1956 para investigar o atentado coloca a responsabilidade sobre os ombros de Estaline. No entanto, estas conclusões nunca transpareceram para a opinião pública em geral.

Muitos historiadores equiparam o assassínio de Kirov ao incêndio do Reichstag em Berlim, que levou ao resultado eleitoral que levou Hitler a desencadear a vaga repressiva que lhe permitiu estabelecer de pedra e cal a sua ditadura e esmagar os seus opositores políticos.

Igualmente importante é o facto de muitos observadores actuais afirmarem que continuam a ocorrer incessantemente “incêndios do Reichstag” na cena política russa, com o objectivo de obter apoio popular para políticas repressivas que consolidam os poderes vigentes. Num comentário intitulado “O Reichstag continua a arder”, publicado ontem no Yezhednevny Zhurnal, Alexander Ryklin escreve: “Pessoalmente, o pior resultado (a seguir às mortes, claro) da tragédia do expresso Neva é a falta de esperança, num futuro previsível, de sabermos a verdade sobre o que se passou. Porque eu nunca mais vou confiar neles. […] Porque centenas de vezes apanhámo-los em mentiras monstruosas”. O comentador cita os casos do Nord-Ost, do Kursk, de Beslan, e mesmo dos atentados bombistas de Moscovo em 1999 e a subsequente descoberta de explosivos num prédio em Ryazan, como evidência da impossibilidade, imposta pelo governo, de estabelecer a total verdade dos factos.

Consistentemente, a manipulação da verdade tem óbvios beneficiários. Tal como no caso de Hitler e Estaline, que saíram reforçados, respectivamente, com o incêndio do Reichstag e com a morte de Kirov, as versões oficiais dos atentados terroristas e das catástrofes humanas na Rússia contemporânea têm servido de pretexto para consolidar o regime no poder, tanto através da manipulação da opinião pública como do encobrimento das incompetências da administração.

Enquanto este espírito soviético de governação não se extinguir, permitindo de uma vez por todas que entidades independentes investiguem as verdadeiras razões destas catástrofes, será muito difícil para a Rússia avançar no seu caminho para se tornar num estado de direito livre, onde a política ocupa o seu verdadeiro lugar: o de zelar pelos interesses da população."

49 comentários:

Anónimo disse...

Comparar os sanguinários Hitler e Estaline com a actual liderança russa revela facciosismo, desonestidade tendênciosa e má fé e descredibiliza por completo alguém que só tem revelado defender princípios que levam milhões à pobreza e miséria com um distanciamento e frieza desumanos. E o incêndio do Reichstag a 11 de Setembro de 2001 senhor Campos?

Anónimo disse...

Caro leitor anónimo,

Da próxima vez que se decidir a comentar um texto, seria desejável que, em vez de grunhir, acobardado por detrás do anonimato, chavões desconexos que só o insultam a si próprio, usasse alguma argumentação coerente que permitisse fazer os outros leitores pelo menos perceberem que tem um QI suficiente para entender as coisas que lê.

E já agora, por amor de Deus, use pelo menos um corrector ortográfico. Tal far-lhe-á o favor de não revelar a toda a gente qual foi o seu aproveitamento enquanto aluno da instrução primária.

António Campos

Anónimo disse...

"facciosismo?"

QUE DIACHO DE LINGUAGEM É ESSA?

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Jest nas Wielu disse...

off top

Recentemente debatemos aqui o papel do governo polaco no exilio, proponho um artigo interessante sobre o tema:
http://joanerges.livejournal.com/818420.html

p.s. neste momento o artigo esta em ucraniano, vou traduzi-lo brevemente.

Cristina disse...

Caro António
Na Rússia, toda a gente sabe que as conclusões oficiais sobre as várias catástrofes e assassinatos nunca contêm toda a verdade. Existe sempre o chamado "segredo de Estado", que impede a divulgação de determinadas coisas. `Todos já estão habituados a isso, desde há séculos. No Ocidente, a cultura é outra, há a "transparência", e as pessoas sentem-se no direito de saber tudo o que aconteceu.
São duas sociedades diferentes, com povos diferentes. Não é fácil transformar a Rússia num país de valores ocidentais e nem sei se o seu povo quereria sê-lo ou seria capaz de o ser.
Cristina Mestre

Anónimo disse...

Quem será mais cobarde? Alguém que faz observações mesmo que contundentes mas dentro da decência e boa educação ou o senhor Campos que além de não comprovar nada do que afirma parte para o insulto agressivo e gratuito? Um nome não o torna menos anónimo que eu e com as calças do meu pai também eu sou um ganda homem. Posso até ter menos instrução que o senhor mas tenho o mínimo de boa educação e correção coisa que o senhor já revelou não ter.

Anónimo disse...

Quem será mais cobarde? Alguém que faz observações mesmo que contundentes mas dentro da decência e boa educação ou o senhor Campos que além de não comprovar nada do que afirma parte para o insulto agressivo e gratuito? Um nome não o torna menos anónimo que eu e com as calças do meu pai também eu sou um ganda homem. Posso até ter menos instrução que o senhor mas tenho o mínimo de boa educação e correção coisa que o senhor já revelou não ter.

Luciano disse...

O paralelismo parece-me exacto. Este tipo de catástrofes, nomeadamente em países com tradição de poder autocrático, é uma forma efizaz de anestesiar a opinião pública para o que se segue.

Luciano disse...

Já agora, Sr. Milhazes, gostava de ter acesso a uma história da Rússia em língua portuguesa. Recomenda-me alguma obra em particular? Obrigado

Anónimo disse...

Olá Cristina,

Podemos aplicar essa lógica ao império russo, que se tecia em grande medida com as mesmas linhas do que as outras potências mais ou menos autocráticas do seu tempo, mas parece-me que o grande cancro foi exacerbado (e perdida a oportunidade de mudar) durante o império soviético, no qual por gerações esta cultura passou a ser parte da forma de viver quotidiana, de cima a baixo.

Seja como for, modernização não ocorre sem responsabilização. Ou seja, se a cultura não mudar, não vale a pena dar atenção à retórica de Medvedev e vai ficar tudo na mesma. O que é bastante provável.

No outro dia li um comentário no blog de Tim Collard no Telegraph, que começava com a morte de Magnitsky e acabava bastante pessimista quanto ao futuro da Rússia, que reflecte de certa forma o meu ponto de vista (que de dia para dia vai ficando mais pessimista). Dizia ele:

”A razão é que simplesmente o que aconteceu entre 1917 e 1991 envenenou toda uma nação até à morte, tal como o polónio-210. O respeito pela vida e pela dignidade humana foram destruídos permanentemente por Estaline e comparsas. Durante algum tempo, pareceu que as velhas tradições russas, especialmente as da Igreja Ortodoxa, poderiam constituir um foco para um renascimento genuíno. Mas a ferida é claramente profunda demais. A Igreja, sempre para tal inclinada, alinhou-se com o banditismo nacionalista. É triste. Dostoievsky figurará sempre entre a meia-dúzia dos meus escritores favoritos. Solzjenitsyn e Shostakovich esforçaram-se admiravelmente para manter a bandeira desfraldada durante o século 20. Mas tudo isto é passado. Não adianta negar. Um caso terminal. Esperemos apenas que a sua morte não seja demasiado dolorosa para os restantes de nós”.

António Campos

Anónimo disse...

Eu até ouvi dizer que o FSB está a preparar um terramoto para se livrar dos inconvenientes.

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Dê uma olhadela ao último pagamento da Ucrânia no que respeita a gás.

Ukraine to Pay $770 Million for Russian Gas on Time

Ukraine will pay about $770 million to Russia for November natural-gas imports on time after the government converted the International Monetary Fund’s special drawing rights into dollars...


http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601095&sid=a8Km57YGjlB4

Podemos dizer que a cada mês que passa eles arranjam uma nova maneira de pagar a conta.

A situação está mesmo muito complicada. Penso que para o ano, não vai interessar muito quem ganhe as eleições. A prioridade terá que ser a renegociação do valor do gás com a Rússia e parece-me que vão ter que pagar um preço bem alto, para ter esse desconto.

MSantos disse...

Cara Cristina

Relativamente à sua afirmação

"No Ocidente, a cultura é outra, há a "transparência", e as pessoas sentem-se no direito de saber tudo o que aconteceu. "

Concordo quase em absoluto nesta afirmação (embora a dita transparência seja muito questionável) no entanto há países ocidentais que quando determinados segredos estão em causa também não hesitam em usar os ditos métodos russos. Estou a recordar-me dos Estados Unidos que ao abrigo da luta ao terrorismo instituiram legislação que lhes permite raptar (sim, raptar é o termo correcto) qualquer cidadão de qualquer nacionalidade não interessa aonde, coisa que eles já faziam antes e do Reino Unido onde exactamente em 2002 ou 2003 salvo erro morreu aquele cientista que insistia em que as armas iraquianas de destruição maciça eram uma mentira e apenas um pretexto. A sua morte decorreu em circunstâncias muito misteriosas e nunca esclarecidas.

Infelizmente o historial dos serviços secretos franceses também não é lá grande coisa.

Creio que essa pretensa superioridade e autoridade moral do Ocidente existia de facto nos anos da guerra fria em que a URSS era uma ameaça inegável.

Depois da queda do muro, infelizmente e contrariamente à lógica evidente, alguns países ocidentais everedaram por um caminho mais radical (provavelmente porque o bicho papão desaparecera) que os fez descurar princípios e valores.

Apenas os ocidentais ao fazer este tipo de coisas são mais inteligentes, discretos e menos emocionais que os russos.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Os caros leitores vão-me perdoar, mas não resisti a traduzir a seguinte peça da edição de hoje do Moscow Times. Creio que não necessita de comentários adicionais.

Estado cancela concurso para empreitada após tumulto na blogosfera

Por Maria Antonova

Um concurso para uma empreitada para a manutenção de uma residência governamental foi cancelado três dias após os pormenores terem sido publicados na internet e intensamente criticados por bloggers, que afirmaram que fundos estatais não deverão ser usados para manter campos de golf e um “minicasino”.

O gabinete dos assuntos presidenciais, que anunciou o concurso de 77,5 milhões de rublos (2,6 milhões de dólares) atribuiu o rápido cancelamento a “falta de financiamento no orçamento federal”.

A residência em questão situa-se no lago Valdai na região de Novgorod, 15 km da cidade de Valdai e a 0,7 quilómetros a sul da aldeia de Roshchino. Embora o concurso se refira ao imóvel como uma “base recreativa”, a sua localização aparenta ser a mesma da residência governamental “Uzhin”, usada desde os tempos de Khrushchev.

De acordo com um decreto governamental, todos os contratos deverão ser objecto de concurso público, para aumentar a transparência dos gastos estatais. No entanto, o sistema, elogiado por Medvedev no seu discurso do estado da nação, só começou em força no ano passado, por ocasião do relançamento da plataforma zakupi.gov.ru.

O documento do concurso público, de 175 páginas, dá um vislumbre sobre as altamente secretas dachas governamentais.

Além do edifício principal, de 3 andares, a propriedade dispõe de uma casa de hóspedes, uma igreja, uma instalação de banhos, banya e sauna, quatro piscinas, uma cavalariça, uma pista para automóveis, campos de golfe e minigolfe, um complexo desportivo que inclui um campo de hóquei, duas plataformas de helicópteros e pontões para embarcações.

A maioria dos quartos (com nomes românticos tais como Flora, Turquesa e Pistachio) está equipada com plasmas de 50 polegadas e jukeboxes de 300 CDs. O spa tem um banho turco e um duche suíço, enquanto que o restaurante VIP, tal como é conhecida a zona de refeições principal do complexo, inclui aparentemente um mini-casino.

Anónimo disse...

Parte 2

A presença de instalações de jogo, em particular, levantou os cabelos dos bloggers, uma vez que o governo baniu virtualmente todo o jogo excepto em quatro zonas remotas desde 1 de Julho. A descrição do concurso público foi editada um dia após a publicação original, sendo as palavras “mini-casino” substituídas por “sala de relax”.

Um porta-voz do gabinete dos assuntos presidenciais, que gere o vasto acervo imobiliário usado pelo Kremlin, governo e deputados, disse aos jornalistas que “casino” era apenas um nome usado nos documentos. No entanto, um antigo membro da administração presidencial confirmou à Gazeta.ru que o casino existia, partilhando o mesmo edifício com uma instalação de bowling de 2 pistas.

O primeiro-ministro Vladimir Putin possui uma dacha na zona de Valdai, embora não tenha ficado claro que seria a mesma listada no site do concurso.

Em Fevereiro, um membro de uma banda de tributo aos ABBA disse ao Moscow Times que realizou um concerto numa residência em Valdai para uma audiência restrita, que incluiu Putin. Um porta-voz do governo disse na altura que desconhecia tal concerto.
Em Outubro, alguns jornais, incluindo o Financial Times, reportaram que Putin celebrou um aniversário “atrasado” em Valdai com pessoas como o antigo chanceler alemão Gerhard Schroder e o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. Este foi ridicularizado pela imprensa italiana por ter faltado a reuniões do governo no dia seguinte.

O serviço de imprensa de Putin negou estes relatos.

O contrato de manutenção da dacha de Valdai (juntamente com concursos que demonstram o luxo que envolve os funcionários governamentais) foi noticiado em primeira mão pelo Zakupki-News, uma comunidade do LiveJournal.

O grupo foi iniciado por Alexander Malyutin, editor-adjunto do jornal Gazeta, sendo agora lido por quase 2000 pessoas. Malyutin, que chamou ao site dos concursos principais um “cemitério de prémios Pulitzer” numa recente coluna do no jornal, levou a sua cruzada pela transparência um passo mais adiante, abrindo o Migalki-News na segunda-feira.

O grupo do LiveJournal documenta todos os carros que fazem uso das detestadas luzes intermitentes azuis que permitem aos funcionários superiores do governo ignorar as regras de trânsito.

Entre as descobertas notáveis que constam da base de dados podem encontrar-se uma cama trabalhada a ouro para o ministro do interior e sedans Lexus com sistemas de entretenimento para uma agência governamental cuja função é a de extinguir incêndios florestais.

Anónimo disse...

Pensando melhor, tenho 2 títulos alternativos para a peça acima traduzida:

"Imoralidade parola"

ou

"O porquê da falta de fundos federais para equipar os hospitais com água corrente"

António Campos

Anónimo disse...

Ó caro Manuel Santos, os seus comentários não deixam de me pasmar…

Então o Manuel Santos, que está constantemente a arvorar-se em paladino dos pobres, fracos e oprimidos e em incorrigível idealista (chegando a citar o poema do António Gedeão em pano de fundo, pasme-se…até a música me está a vir à cabeça, veja-se lá, fazendo-me verter uma lagrimita ou duas) vem aqui depois esgrimir relativismos morais do tipo “pois eles lá fazem isso, mas aqui lincham pretos”, primeiro, como se houvesse sequer comparação possível entre o que acontece na Europa (apelidando a superioridade moral do ocidente de “pretensa”, tal como se a expressão fosse tão vazia como a “modernização” de Medvedev), e depois, como se os podres ocidentais (e note que não lhes chamo “pretensos”) se transformassem em justificação para o maior deboche político de que há memória na história recente?

Presumo que tenha alguma simpatia pelo povo russo. Caso contrário, não andaria por aqui. Assim, como é que acha que uma postura destas se encaixa nos seus sólidos preceitos morais e vai fazer avançar a sua causa idealista em prol da defesa dos pobres, fracos e oprimidos da Rússia?

António Campos

Pippo disse...

Isso faz-me lembrar o contrato de aquisição (por ajuste directo) que a CM de Alcobaça fez com a Concentra SA para a aquisição de brinquedos "para a Festa de Natal dos funcionários do Município de Alcobaça".
Preço? 8.849,60€

No meu trabalho, à excepção de mais trabalho, não me deram nada pelo Natal, nem este ano, nem no passado, nem nos anteriores...

http://www.base.gov.pt/_layouts/ccp/ajustedirecto/detail.aspx?idajustedirecto=10878


Mas não há dúvida que os cidadão devem denunciar os abusos cometidos pela Administração, seja em que país for.

O Manuel Santos apontou o caso daquele cientista britânico (David Kelly) que denunciou a inexistência de Armas de Destruição de Massas (WMD) no Iraque e que por isso foi morto.

Também poderiamos apontar o caso do engenheiro de armas Gerald Bull (o inventor do G-5 sul africano) que andava a fazer um super-canhão para o Saddam e que morreu misteriosamente. Não me parece que tenha sido obra, nem de iraquianos, nem de soviéticos.

E claro, no campo da manipulação da informação e encobrimento, para além dos casos que estão à vista na nossa praça pública, temos o Iraque, as "WMD" iraquianas, os mortos da guerra e o destino dado aos principais actores do conflito. Um deles é Presidente da Comissão Europeia... e não é, nem soviético, nem russo.

Gilberto disse...

O paralelo -- guardadas as devidas proporções -- é válido sim.

Gilberto disse...

O trecho do texto do tal Tim Collard, aqui postado pelo António, perde totalmente o respeito nessa parte...

""Solzjenitsyn e Shostakovich esforçaram-se admiravelmente para manter a bandeira desfraldada durante o século 20. Mas tudo isto é passado. Não adianta negar.""

... e pra mim fica claro que esse é somente mais um histérico russófobo ou anti-comunista desprovido de qualquer base ou coerênica.

Pois criticar a devastação cultural promovida pelo stalinismo e a atual onde pró-nacionalista promovida pelo Kremlin(no que está certa as críticas), e citar um canalha fascistóide do porte de Solzhenitsin é de uma cretinice estrambólica.

Desonestidade pura.

No mais, concordo com grande parte das análises do António Campos.

Anónimo disse...

Caro Gilberto,

A meu ver, os artistas foram citados não pelas suas personalidades mas pela importância da sua arte e o seu impacto na história do século XX. Pode criticar-se Solzhenytsin, mas é inegável que a sua obra literária é um marco na história desse século. O mesmo de pode dizer de Shostakovich, que chegou a ser membro do partido comunista e muita gente ainda o rotula de cobarde (um pouco como Konstantin Simonov e a sua ligação a Estaline. Poderá argumentar-se que o homem foi um vendido, mas a sua obra é inegavelmente importante).

O essencial da opinião deste comentarista é que o mesmo tem dúvidas legítimas quanto ao renascimento do país, que considera envenenado irreversivelmente pela praga do estalinismo. Eu também as tenho. Neste momento, concorde-se ou não com esta posição, dá que pensar. E é isso que é importante.

António Campos

Luciano disse...

Será que este tipo de manobras são um exclusivo da Rússia Soviética? É óbvio que, durante o período soviético, mais concretamente o estalinista, a ideia de purga e de sistema auto-referencial atingiu o paroxismo, por razões que são explendidamente explicadas por Hanna Arendt na sua obra de 1951: "As origens do totalitarismo". De resto, a ideia subjacente às purgas de 1937-38, iniciadas pelo assassínio de Kirov, ou, pelo menos, às quais este deu o mote, não foi um exclusivo de Estaline. Veja-se as purgas desencadeadas por Pedro, o Grande, em relação aos boiardos.
Penso que o que está na base do pessimismo do Sr. António Campos é uma certa ideia da Rússia, e até uma certa ideia de história. O mesmo se passa com a Cristina, quando diz que a Rússia nunca será um país ao estilo ocidental. É claro que nunca será um país ao estilo ocidental! A Rússia empre viveu dilacerada (tal como o grifo bicéfalo da sua bandeira) entre dois mundos: o ocidental e o oriental. O seu próprio colossal território o atesta. Forjou uma história com base num apego extremo à tradição, e só com Pedro, o Grande, por influência do iluminismo (ou despostismo esclarecido, mais precisamente) a Rússia resolve dar um passo em frente em direcção ao ocidente, rumo à modernização. Esta evolução apenas foi refreada em finais do século XIX, com o movimento Pan-eslávico, no qual se pode enquadrar o próprio Dostoievsky. Atrevo-me a enquadrar Dostoievsky entre aquelas personalidades russas que defenderam o desenvolvimento de valores e cultura próprias à margem do ocidente. Não o foi de uma forma militante, mas quem pode ficar com outra ideia que não esta quando lê obras como "Os irmãos Karamazov", de 1887? Mas não nos iludamos nem deixemos levar pelas frases feitas, porque, bem vistas as coisas, o que é o bolchevismo senão um exemplo extremo de uma iedeologia ocidental, proclamado em tom inflamado por um Lenine enfiado num fato suíço?
Por isso, a Rússia deve encontrar o seu caminho dentro da sua especificidade cultural. Quiçá,também, conviver pacificamente com essa alma russa, que num arremedo tão asiático confia tudo no chefe, no líder, terrível, que nos exime de toda responsabilidade, que nos faz mergulhar na profundidade do devir humano porque nos oprime.

Anónimo disse...

Não sei se hei-de rir ou simplesmente ficar revoltado com aqueles que por aqui aparecem e que estão constantemente a criticar os outros pela sua “desonestidade intelectual” e que depois atiram para o ar estas verdadeiras pérolas do ajuste directo de 8 mil euros em brinquedos para Alcobaça, mais uma vez, como se dissessem, com ar enfadado: “e depois? Aqui também acontece…”. Tendo os meus pais sido funcionários públicos toda a vida, eu também tinha direito a prendas de natal todos os anos quando era miúdo. Não sei qual o número de funcionários da CMA, mas se isso der 200 crianças, o valor não me parece sequer exagerado (40 euros por criança? Ena, uma pipa de massa.), se o orçamento camarário tiver margem para tal. Nem me parece de todo descabido dar um bónus destes às famílias que lá trabalham, tendo especialmente em conta o nível salarial médio dos funcionários camarários. Mesmo que tenham havido kickbacks (é bem possível), tal não será seguramente um entrave à actividade económica da região. Aliás, o nível de corrupção em Portugal não é de todo um dos factores do marasmo da economia.

O mesmo não se pode dizer da Rússia. Um país refém de uma elite corrupta que despudoradamente chafurda em opulência, ao mesmo tempo que é totalmente indiferente à mais abjecta miséria da maioria dos seus 140 milhões de constituintes. Na Rússia, a corrupção que serve a elite paralisa a economia e barra o caminho para a prosperidade de quem não é membro do clube. Na Rússia, as pessoas têm mais medo da polícia do que dos bandidos. Em suma, parafraseando a nossa saudosa comentarista que dá pelo nome de “oh well okay”, comparar os brinquedos de Alcobaça com a atitude generalizada dos funcionários da administração russa é pura e simplesmente…parvo.” Para não lhe chamar pior.

Não resisto a mencionar a outra pérola de colocar o pobre diabo do Durão Barroso na lista dos “principais actores” da guerra do Iraque. Simplesmente impagável.

António Campos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro António, não posso deixar de concordar com o que diz quanto à corrupção. Há leitores que parecem não querer entender que, segundo a organização Transparência Internacional, Portugal está, se não me engano, em 26º lugar, enquanto que a Rússia está mais de cem lugares abaixo, no meio dos países africanos.
Não sou daqueles que acredita na irradicação total da corrupção no mundo, mas o que aconteceria aos cidadãos russos se o seu país subisse cinquenta ou cem lugares na tabela?

PortugueseMan disse...

...mas o que aconteceria aos cidadãos russos se o seu país subisse cinquenta ou cem lugares na tabela?

Você deve saber meu caro. Em 2004 estavam nessa posição (uns menos 50 lugares na tabela)

Há um pormenor que deve ser equacionado (na minha opinião), sobre esta coisa da corrupção e do seu ranking.

Quanto mais dinheiro a Rússia tem, mais corrupção existe. A Rússia coloca mais dinheiro para projectos a serem implementados e quanto mais dinheiro está disponível mais corrupção aparece. Isto porque ela já está instalada.

É mais fácil para a Rússia arranjar dinheiro, principalmente devido à exploração dos recursos energéticos, do que erradicar a corrupção.

E quanto mais a Rússia ganha dinheiro, mais ricos e poderosos se tornam os corruptos, pois é mais fácil de desviar dinheiro.

O combate à corrupção é uma coisa complicada seja onde fôr. A Rússia tem um longo caminho a percorrer.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, você está mesmo pessimista!

PortugueseMan disse...

Bem meu caro,

Se falamos de corrupção, sim. Eu não vejo uma solução rápida e fácil.

A corrupção é como um cancro, instala-se, espalha-se, corroi...

Combater isto...

Agora também penso deste modo, o aumentar do nível de vida russo, geração de emprego, etc, etc, se estiver numa curva ascendente é um bom passo para combater essa mesma corrupção.

Eu confesso dividir a corrupção em duas vertentes, a dos poderosos, a grande corrupção e a pequena corrupção, feita digamos no dia a dia pelas pessoas, que muitas vezes acaba por existir devido ao nível insuficiente de ganhos.

A pequena corrupção terá a tendência de diminuir com o aumento do nível de vida.

A outra... a outra é complicada seja onde fôr. Tudo o que mexe com grandes é complicado.

A ver vamos.

MSantos disse...

António Campos, pu-lo a chorar com a música do Manuel Freire!

Você é um sentimental!

Sobre ser paladino, sabe como é que é. Era trabalho a mais só para o pobre Capitão América. Nós os super-heróis temos de ser uns pros outros.

Mas deixe lá! Já há muito passei essa fase de ter medo de passar pelo ridículo apenas por defender aquilo em que acredito mesmo se isso for contra a moda corrente.
Digo o que tenho a dizer e o que penso mantendo o respeito e consideração por todos. Se mesmo assim alguém não gosta ou se sente incomodado, como diria o outro, temos pena!

Sobre o relativismo moral e se o António Campos tivesse lido o meu post de mente aberta e livre de instintos pré-concebidos no intuito de ver qualquer ponto fraco ou de me apanhar em falso para rebater as minhas convicções que tanta comichão lhe fazem constataria que apenas chamei à atenção o facto de alguém ter dado determinada classificação ao mundo ocidental, que todos nós no fundo sabemos que já não corresponde à verdade (embora alguns não o admitam).

E se fosse ver todo o historial dos meus posts neste blogue, coisa que não lhe peço pois deve ter mais que fazer, constataria essa mesma coerência.

Já nem lhe falo das vezes que também me ponho ao lado dos críticos da Rússia. Porque "lá também lincham pretos".

A minha simpatia pelo povo russo não é maior do que por qualquer povo com o qual lido e conheço, estimando qualquer deles e também vendo os seus defeitos.

A principal razão de andar por aqui, como você diz, tem a ver com o meu gosto e interesse por assuntos geoestratégicos, relações internacionais e actualidades mundiais que quer se queira quer não a Rússia vem sempre desempenhar um papel fulcral e em especial no nosso contexto europeu.

Outra razão muito importante é de também andarem por aqui outros comentadores que considero terem muito nível, coisa muito rara em qualquer blog e com os quais tenho aprendido tanta coisa além das mais salutares e entusiasmantes discussões.

Por último António Campos, eu aceito as suas convicções, respeito-as e posso conviver com elas.

Será que você está disposto a fazer o mesmo pelas minhas?

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Notícias da cruzada anti-niilismo-legal do presidente Medvedev

O Telegraph de ontem publicou uma interessante notícia, que refere que dois dos mais importantes juízes do tribunal constitucional da Rússia foram forçados a demitir-se, depois dos mesmos acusarem o Kremlin de manter o sistema jurídico refém dos seus objectivos políticos.

O jornal afirma que ambos concordaram em demitir-se, após os outros juízes do mesmo tribunal lhes terem “recomendado” que saíssem, na sequência de entrevistas nas quais aqueles manifestaram uma postura crítica do sistema legal russo.

Mais adiante, pode ler-se que “os problemas começaram quando o juiz Yaroslavtsev deu uma entrevista ao El País, onde dizia que os órgãos legislativos russos estavam “paralisados”, tendo alegado que as mais importantes decisões judiciais são tomadas pela administração presidencial”. Além disso, classificou o governo russo como “autoritário”, afirmando que “durante as presidências de Putin e do seu sucessor Medvedev, o poder judicial transformou-se numa ferramenta nas mãos do executivo e a justiça da Rússia está em ruínas”.

O juiz Kononov, também forçado a abandonar o cargo, terá defendido o seu colega numa outra entrevista, na qual manifestou o seu desagrado quanto à forma como o tribunal criticou Yaroslavtsev por se manifestar publicamente.

É interessante contrastar este facto com a seguinte afirmação de Medvedev, em Fevereiro de 2008: “Um dos elementos-chave do nosso trabalho nos próximos 4 anos vai ser garantir a independência do nosso sistema legal relativamente aos poderes executivo e legislativo”

António Campos

Anónimo disse...

Já agora, o link da entrevista fatídica ao El País:

http://www.elpais.com/articulo/internacional/Rusia/mandan/organos/seguridad/epoca/sovietica/elpepiint/20090831elpepiint_6/Tes

António Campos

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

A corrupção não pode ser derrotada completamente. Mas pode ser reduzida batante, com vontade política e fortalecimento das instituições democráticas e da sociedade civil, até níveis aceitáveis.


Um bom exemplo é o Chile, país menos corrupto da Amércia latina, que em 8, 10 anos estará no primeiro mundo e com um nível de desenvolvimento maior que muitos países da europa ocidental.


O Brasil luta, faz o que pode com relação a isso, mas o problema tb é a mentalidade patrimonialista herdada da colonização(Claro que isso não justifica, mas ajuda a explicar). Aqui as coisas melhoraram muito de 20 anos pra cá, mas é preciso muito, muito mais.

Anónimo disse...

Gilberto Múcio, seja ao menos honesto intelectualmente. Vc já leu alguma coisa sobre as brutalidades ordenadas pelo CRIMINOSO LÊNIN, CEAUSESCU, MAO?

Já leu Leszek Kolakowski?

Vou desenhar pra vc: Sua obra principal é o livro "Principais correntes do marxismo: sua ascensão, queda e dissolução", publicada em 1970, que já apontava que a doutrina de Marx era "A MAIOR FARSA DO NOSSO SÉCULO", enquanto nós, no Brasil, embarcávamos com tudo nessa canoa furada.


A destacar: O "stalinismo" NÃO É uma perversão do marxismo, mas a sua CONCLUSÃO LÓGICA...


NÃO EXISTE STALINISMO.



O que existiu, e massacrou milhões desde o começo, foi o COMUNISMO, SOCIALISMO, MARXISMO. Essa porcaria toda, ainda defendida por gente como vc, e que ao meu mer e de muita gente, deveria ser igualado ao NAZISMO, e PROIBIDA a formação de partidos que defendam esse lixo genocida.


Fui claro?

Pippo disse...

Pois é, é verdade que oito mil euros são uma pérola comparados com os milhões dispendidos na Rússia. Oito mil euros dão vontade de rir. Assim como dão vontade de rir os casos Freeport, Face Oculta e afins, que movem montantes um bocadinho mais avultados. Os meus vizinhos já nem aguentam as minhas gargalhadas diárias.

Curiosamente, quem mexe cá no burgo com os grandes valores parece estar acima da justiça. Chafurdamos, é certo, mas rapidamente as coisas são abafadas, com ou sem a ajuda das entidades oficiais, e tudo fica na mesma: quem tem poder e dinheiro mantém o poder e o dinheiro, e o povo caminha cada vez mais para a miséria. Mas isso pouco ou nada preocupa a nossa elite corrupta que despudoradamente chafurda em opulência.

Olhe, é cá como lá. Com a diferença que aqui, no Ocidente, os meios usados são mais subtis, mas com consequências não menos gravosas. Os conluios nepotistas entre políticos activos e políticos aposentados que são promovidos a cargos dirigentes de entidades públicas e privadas permitem exercer o controlo - ou melhor, o estrangulamento - sobre a economia e o desenvolvimento e sustentabilidade regional. Vide, mais uma vez, o Freeport, construído em zona de Reserva, e a contínua destruição de zonas de Reserva Agrícola e alterações aos PDM com vista a construir loteamentos. Muita "gente" ganha dinheiro com isso, mas é hipotecado o nosso futuro.

E se atendermos ao volume das respectivas economias, comparativamente à Rússia poderemos não estar assim tão longe como pensamos. É que, como sabe, a Transparency International não mede a corrupção mas sim a "percepção da corrupção", o que é bem diferente. É como o "toda a gente sabe que os funcionários públicos não fazem nenhum". É uma percepção, ainda que totalmente errada.
Daqui a um ano iremos ver se Portugal subiu ou desceu no ranking. Eu cá acho que vai descer, mas é só uma ideia descabida das minhas, das tais que fazem rir, ou talvez chorar.

O tal nepotismo de que falei também atinge os média, condicionando-lhes a sua linha editorial e colocando em risco dezenas de jornalistas e respectivas famílias (vide a revista Sol, que quase foi à falência porque, após publicar as notícias do Freeport, viu a sua linha de crédito com o BCP ser interrompida). Na Rússia os jornalistas são mortos a tiro (e transformados em mártires), em Portugal, e no Ocidente em geral, são mortos à fome, e em geral esquecidos.

Claro que pode insistir que aqui neste blog só se deve apontar o dedo aos russos, mas essa posição, restritiva e que critica nos outros aquilo que nós próprios fazemos, essa sim, posso dizer que é desonesta, intelectualmente e não só. Ou parva... para não lhe chamar pior.

Por fim, e voltando ao princípio, esse oito mil euros, até mesmo esses oito mil euros, são pagos com os meus impostos. E sinceramente eu não ando aqui a comprar prendas aos filhos dos outros. Para isso compro aos meus.

Anónimo disse...

Ah, Gilberto Múcio, e aproveitando a oportunidade pra pedir sua assinatura na "Declaração de Praga", pelo reconhecimento da natureza intrinsecamente má do comunismo.

COMUNISMO É NAZISMO.


http://praguedeclaration.org/sig

Roman disse...

António Campos disse...

...e acabava bastante pessimista quanto ao futuro da Rússia, que reflecte de certa forma o meu ponto de vista (que de dia para dia vai ficando mais pessimista).

Quando “telegrafistas” como vocês começam a ficar pessimistas, eu fico optimista). Mas em compensação, para aliviar um bocadinho o Seu pessimismo, uso o corrector ortográfico. Ah desculpe! – spell check.

Além do edifício principal, de 3 andares, a propriedade dispõe de uma casa de hóspedes, uma igreja, uma instalação de banhos, banya e sauna, quatro piscinas, uma cavalariça, uma pista para automóveis, campos de golfe e minigolfe, um complexo desportivo que inclui um campo de hóquei, duas plataformas de helicópteros e pontões para embarcações.

A maioria dos quartos (com nomes românticos tais como Flora, Turquesa e Pistachio) está equipada com plasmas de 50 polegadas e jukeboxes de 300 CDs. O spa tem um banho turco e um duche suíço, enquanto que o restaurante VIP, tal como é conhecida a zona de refeições principal do complexo, inclui aparentemente um mini-casino.


E ao dormitório não deu um pulinho, não? Que pena! Será que encontraria lá um Klintonoff com alguma Shmónika Stervínski? Imagine só o barulho que podia levantar! Tais oportunidades não se se pode perder, o “Telegraph” não perdoará.

"O porquê da falta de fundos federais para equipar os hospitais com água corrente"

O Sr. António Campos outra vez está com suas anedotas velhas (barbudas, como costumamos falar na Rússia). Arranje afinal alguma coisa mais fresca, no “Telegraph”, por ex., pois as piadas do “Washington Post” já começam a chatear.

Mas o seu “silovoki” é do melhor, eu gosto. Continue do mesmo modo.

Anónimo disse...

Eu até ouvi dizer que o FSB está a preparar um terramoto para se livrar dos inconvenientes.

Ó agente Anónimo! Porque é que está a divulgar os planos segredos do KGB? Eh? Tome repreensão! Em castigo durante uma semana não receberá o seu copo de vodka e no fim de semana não vai com colegas ao cinema para ver o filme «O Grande Estáline, o pai dos povos».

anónimo russo disse...

Meu deus, de novo um internet-delírio sem provas concretas e com demasiada confiança em si próprio (sem quaisquer razões reais para isso). Até não entendi muito bem o que o sr. russófobo belorússo quis dizer, alegando atos terroristas. Quis dizer, que não foram atos terroristas, mas alguma coisa diferente? E, realmente, seria muito bom lembrar 11 de setémbro, antes de dizer qualquer coisa sobre a Rússia.

anónimo russo disse...

O mais engraçado é que o sr. Campos, pelos vistos, não entende o que foi a União Soviética e o totalitarismo desse sistema. Senão, nunca ousaria comparar a Rússia atual com o estado soviético. E mais uma coisa: aqueles que viveram na União Sóviética, sabem muito bem ler entre as linhas e entender a verdade, muito mais bem, pelos vistos, que cidadãos de alguns países ocidentais. E afirmar que existe alguma diferença na mentalidade nesse sentido e que a União Soviética conseguiu transformar a mentalidade da nação russa é pura incompeténcia. Seria bom entender de uma vez por todas: se a população russa não se revolta e não faz alguma revolução é porque não há razões para isso, por mais que alguns srs. Campos quisessem o contrário. Ler frutos de miólos inflamados de alguns blogueiros aínda não significa conhecer a realidade rússa por dentro. Esses "opositores de papel" existiram e existirão sempre. Mas constituem apenas alguns 3% da população.
Mas, no fundo, torna-se cada vez mais aborrecivel ler esses "artigos" do sr. Campos. Não pode inventar alguma coisa mais original?

anónimo russo disse...

Meu deus! Alguem pode explicar a esses analfabetos quem era Solzhenítsin? Já nem tenho vontade de gastar o meu tempo com sr. Campos e outros Múcios.

Anónimo disse...

Notícias

Papa diz que comunismo foi imoral e desumano



O papa Bento XVI chamou o Muro de Berlim nesta sexta-feira de "fronteira da morte" e disse que todas as ações da ditadura comunista foram "sempre imorais" e que o "partido" considerava "bom" tudo o que servia a ele, "por mais desumano que fosse".

Bento XVI discursou após um concerto na Capela Sistina do Vaticano oferecido a ele pelo presidente da República Federal da Alemanha, Horst Kohler, por ocasião do 60º aniversário da fundação do país e do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim.

Falando em alemão, o papa lembrou os dois eventos e disse que o Muro de Berlim foi uma "fronteira da morte que durante muitos anos dividiu nossa pátria e separou homens, famílias, vizinhos e amigos pela força".

O papa disse que muitas pessoas já se deram conta de que os fatos de 9 de novembro de 1989 (a queda do muro) eram o princípio inesperado da liberdade "após uma longa e sofrida noite de violência e opressão de um regime totalitário que levava a um niilismo, um vazio das almas".

"Na ditadura comunista não havia ação que fosse considerada má ou imoral. O que servia aos objetivos do partido era bom, por mais desumano que pudesse ser", disse.

Bento XVI acrescentou que a atual República Federal Alemã é a prova de que a ordem social ocidental é melhor e mais humanitária e isso é graça à sua constituição. O papa defendeu o respeito à dignidade, ao casamento e à família como base de qualquer sociedade.

Anónimo disse...

António Campos

Gostava de dizer que gosto imenso dos seus posts, acho-os perfeitamente pertinentes e com muito nível. Como vê, suscitam sempre grande discussão, confronto de ideias, o que é sempre interessantíssimo.
Se não comento mais é porque tenho alguma reserva em apoiá-lo publicamente (prefiro fazê-lo em privado): a razão é que tenho família na Rússia, posso vir a precisar de um visto da Embaixada russa e nós sabemos que eles fazem a "monitorização" dos blogues.
Acho que os 15 anos de vida na União Soviética e na Rússia acabaram por deixar em mim aquilo que está presente em muitos russos: a semente do medo.
É mesmo assim como disse no seu último post: o comunismo deixou muitas marcas em todos os que passaram por ele, quer nos cidadãos anónimos quer naqueles que actualmente se encontram no poder na Rússia. São essas marcas que continuam a fazer do país aquilo que hoje é.
"As versões oficiais dos atentados terroristas e das catástrofes humanas na Rússia contemporânea têm servido de pretexto para consolidar o regime no poder, tanto através da manipulação da opinião pública como do encobrimento das incompetências da administração" - Totalmente de acordo.

Só há uma coisa que acho que o António deixa esquecida (ou lhe falta) : a admiração e o amor por todos aqueles russos anónimos, pessoas de uma grande instrução, nível intelectual e cultura humana (especialmente na província russa) que, com o seu exemplo moral e humano continuam a fazer da Rússia e da cultura russa um exemplo para todos nós. Encontrei pessoas exemplares na Rússia, pessoas que eram capazes de dar aos outros "a última camisa", que eram capazes de ajudar desinteressadamente e de assumir a humildade, o amor ao próximo e os seus próprios defeitos.
Tudo aquilo que admiramos na cultura e na grande literatura russa do século XIX renasceu nas últimas décadas e ainda continua a viver na Rússia actual, nas suas pequenas cidades escondidas, nas famílias humildes que não conhecemos, na "Rússia profunda".
A Rússia tem muitas faces. O interessante é conhece-las todas.

José L.

Anónimo disse...

Caro José L., obrigado pelas simpáticas palavras

Anónimo disse...

Caro Pipo,

Sem querer denegrir mais os seus dotes intelectuais (decididamente você não precisa de ajuda nesse departamento, fazendo sozinho o trabalho todo), seria pelo menos conveniente que não pensasse que os outros leitores têm uma capacidade de raciocínio igual à sua.

Para já, para que conste, convém esclarecer que a expressão “pérola” é usada em português para designar um disparate tão grande que, sendo repetido de boca em boca, acaba por ocupar um lugar de honra no panteão das gaffes.

Passando às partes mais “sérias” do seu comentário, a Transparency International não pode, obviamente, “medir” o valor da corrupção, uma vez que, pela sua natureza, não há registos financeiros da mesma. Mas também, contrariamente ao que sugere, a “percepção” da corrupção não é exactamente medida telefonando a donas de casa perguntando-lhes se acham que há corrupção ou não.

Se o caríssimo pipo tivesse algum conhecimento (pelo menos um bocadinho de curiosidade poupar-lhe-ia alguns embaraços) da metodologia usada pela organização, saberia que os índices são compilados com base em milhares de questionários a empresários e a jornalistas financeiros (que são a sonda por excelência dos níveis e da frequência da corrupção em cada país) sobre a sua experiência como gestores de um negócio num determinado contexto sociopolítico, fazendo-se depois a agregação de múltiplos índices com origens diferentes, análises estatísticas e determinação de intervalos de confiança. A percepção calculada, que o pipo, o perito, sugere que é tão errada como dizer que os funcionários públicos não fazem nada, é usada por seguradoras, instituições financeiras, agências de rating e investidores em todo o mundo para estimar QUANTITATIVAMENTE o risco de entrar num negócio de um determinado país.

Os jornalistas em Portugal podem andar a ir à sopa dos pobres (essa foi linda), mas pelo menos não passam a vida a voar de um 14º andar até ao chão, tal como aconteceu a Olga Kotovskaya na semana passada, dias depois de ter ganho um processo judicial contra um grupo de burocratas de Kaliningrad, que lhe confiscou a sua estação de televisão local (Adivinhem! Altamente crítica da administração do enclave. Ooooh!).

Por fim, acho muito bem que não esteja para dar prendas aos filhos dos outros. Assim é que é! Cada um por si! Também não tem nada que pagar os hospitais, as estradas e a polícia que os outros usam, nem os outros têm nada que andar a dar prendas aos seus piquenos nem a pagar as reformas dos idosos da sua família. Na verdade, este foi o maior elogio ao nefasto neo-liberalismo individualista americano que ouvi desde há muito.

O seu compincha, admirador e reputado humanista keynesiano Manuel Santos, se reparou nisto, deve ter adorado.

António Campos

anónimo russo disse...

Anónimo disse...
António Campos

"Gostava de dizer que gosto imenso dos seus posts, acho-os perfeitamente pertinentes e com muito nível. Como vê, suscitam sempre grande discussão, confronto de ideias, o que é sempre interessantíssimo.
Se não comento mais é porque tenho alguma reserva em apoiá-lo publicamente (prefiro fazê-lo em privado): a razão é que tenho família na Rússia, posso vir a precisar de um visto da Embaixada russa e nós sabemos que eles fazem a "monitorização" dos blogues."



1. Seria interessante saber como é que "eles fazem a monitorização dos blogues". Porque, se conhece um pouco a internet russa, deve saber que um grande número de "oposisionistas" tem os seus bloques, onde nem escolhem palavras, chamando "Putler" a Putin etc. E, pelos vistos, nada acontece com eles e com suas famílias.


"Acho que os 15 anos de vida na União Soviética e na Rússia acabaram por deixar em mim aquilo que está presente em muitos russos: a semente do medo."


2. Um pouco mais de 30 anos de vida na União Soviética e na Rússia não deixaram nenhum "semente de medo" nem em mim, nem naqueles a quem eu conheço. Mais que isso. Já cresceu uma geração nova, dauqeles que têm hoje 20 anos de idade, que nunca soube o que era a União Soviética e, infelizmente, foram influenciados muito mais pelos filmes do Hollywood que pelos filmes russos, porque nos anos 90 os filmes russos quase não se produziam. Graças a deus, a situação está a mudar agora nesse aspecto.

anónimo russo disse...

P.S. Mais uma coisa sobre a "monitorização dos blogues". Eu conheço um blog de um jornalista, que trabalha numa das agéncias noticiosas centrais rússas. Pois, no seu blog ele se apresenta como um “oposicionista”. Não é um radical e não chama “Putler” a Putin, mas, mesmo assim, escreve o que quer e chama muitas vezes “medvedik” a Medvedev. E, ao mesmo tempo, continua tranquilamente a trabalhar numa das agéncias noticiosas russas, conhecidas tambem no estrangeiro. Na vida quotidiana, repito, não vejo nenhuma “semente do medo” à minha volta, e francamente, já estou um pouco aborrecido com esses gritos todos sobre “censura”, “opressões” etc. Porque, ao meu ver, isso não é verdade.

anónimo russo disse...

P.P.S.
Jose L. È até engraçado, mas seria bom olhar para o sr. Milhazes que tambem escreve o que quer neste blog, pelos vistos, sem muito medo de um dia não receber o visto.

Anónimo disse...

Anónimo russo:
Por via da sua actividade, é natural que não tenha medo.
Se digo que há medo no país é porque falo com pessoas concretas que vivem na Rússia e que o testemunham. Ainda ontem à noite conversei com uma amiga russa que falava "entre-linhas", do tipo "os colegas do primeiro-ministro", sobre a situação em Moscovo, por não se sentir à vontade.
Sei perfeitamente que na blogosfera russa há muito mais liberdade mas muitos dizem que esta liberdade não durará muito, já se fala do controlo da Internet. O José Milhazes escreve coisas corajosas mas tem o estatuto de jornalista estrangeiro acreditado, o que de certa forma o defende.
Só para exemplificar e para provar que não estou a inventar, envio-lhe um link sobre as "salas negras" e o controlo de toda a correspondência postal pelos serviços secretos russos.
http://internetua.com/pocsta-otdala-specslujbam-nashi-pisma

José L.

anónimo russo disse...

Anónimo disse...
Anónimo russo:
"Por via da sua actividade, é natural que não tenha medo.
Se digo que há medo no país é porque falo com pessoas concretas que vivem na Rússia e que o testemunham. Ainda ontem à noite conversei com uma amiga russa que falava "entre-linhas", do tipo "os colegas do primeiro-ministro", sobre a situação em Moscovo, por não se sentir à vontade.
Sei perfeitamente que na blogosfera russa há muito mais liberdade mas muitos dizem que esta liberdade não durará muito, já se fala do controlo da Internet. O José Milhazes escreve coisas corajosas mas tem o estatuto de jornalista estrangeiro acreditado, o que de certa forma o defende.
Só para exemplificar e para provar que não estou a inventar, envio-lhe um link sobre as "salas negras" e o controlo de toda a correspondência postal pelos serviços secretos russos.
http://internetua.com/pocsta-otdala-specslujbam-nashi-pisma"



1. Não gosto de calúnias, por isso não vale a pena vir com as frases do tipo "por via da sua atividade", está bem?

2. Não gosto de mentiras, por isso não vale a pena alegar as "pessoas concretas que vivem na Rússia e que o testemunham", está bem? Pelos vistos, eu conheço muito mais "pessõas concretas" que o sr.

3.Não gosto de sites ucranianos engajados a não falar a verdade da Rússia, por isso vamos escolher com mais atenção as fontes, está bem?

Anónimo disse...

Anónimo russo

O que digo não são mentiras e o facto de o sr. conhecer mais pessoas não é argumento (nem toda a gente anda na rua a falar destas coisas).
Se acha que a fonte que indiquei não fala verdade, aqui vão duas outras fontes russas.
Numa delas, fala-se do desejo do FSB de controlar a runet (internet russa). A notícia é transmitida pela RIA Novosti e não me venha dizer que esta agência também é engajada.

http://webplanet.ru/news/law/2009/07/17/letters.html

http://www.webplanet.ru/news/lenta/2005/4/28/control.html
José L.