sexta-feira, janeiro 29, 2010

Rússia comemora em grande 150º aniversário do nascimento do dramaturgo Anton Tchekhov


O grande dramaturgo russo, Anton Pavlovitch Tchekhov, cujo 150º aniversário do seu nascimento se assinala hoje, não gostava de comemorações, mas a sua pátria decidiu assinalar esse acontecimento com dezenas de espectáculos de teatro, baseados na sua obra.

Em 150 anos, Tchekhov foi dos escritores mais encenados nos teatros de todo o mundo, mas o IX Festival Internacional de Teatro Tchekhov quer mostrar que ainda nem tudo foi revelado e descoberto na obra do grande dramaturgo russo.

Até 31 de Janeiro, os moscovitas poderão apreciar artistas do Teatro Académico da Bielorrússia Ian Kupala a representar “O Casamento”, SoudDrama num acto encenado por Vladimir Pankov; os encenadores russo Andrei Kantchalovski e lituâno Rimas Tuminas apresentarão as suas leituras de “Tio Vânia”; o conhecido realizador de teatro e cinema russo Mark Zakharov leva à cena o “Gingeral”.

Mas o espectáculo mais esperado da primeira etapa do “ano de Tchekhov” é “Mensagem a Tchekhov”, que será representada pela troupe do Teatro Sunil (Suíça), sob a direcção de Daniele Finzi Pasca.

“Eu sou um coleccionador de instantes, de pequenos pormenores. O meu teatro é um teatro de imagens, que se sobrepõem umas às outras e nem sempre formam uma linha recta”, declarou o encenador.

Misturando elementos de teatro e circo, Daniele Finzi Pasca conquistou os moscovitas, no Festival Internacional de Teatro Tchekhov do ano passado, com as peças “Chuva” e “Nevoeiro”, prometendo ultrapassar esses êxitos com “Mensagem a Tchekhov”.

Em Ialta, na Ucrânia, onde Tchekhov viveu alguns anos a fim de tratar da tuberculose de que sofria, o dramaturgo será recordado com a encenação da peça “Três Irmãs” pelo britânico Declan Donnellan.

O festival tchekhoviano regressará a Moscovo entre 25 de Maio e 30 de Junho e as peças a representar são todas encenadas por estrangeiros, de países como França, Espanha, Alemanha, Canadá, Suíça, Suécia, Bielorrússia, Arménia, Japão e Taiwan.

Além disso, os críticos chamam a atenção para a estreia em Moscovo da peça “Tio Vânia”, encenada pelo dramaturgo argentino Daniel Veronese, e do espectáculo “Céu”, do chileno G. Calderon.

Mas, durante todo o ano de 2010, as obras de Tchekhov serão representadas em cidades russas como São Petersburgo, Ekaterimburgo, Tcheliabinsk, Kazan, bem como em Paris, Berlim, Madrid, Estocolmo, Viena, Chicago. Montreal, São Paulo, Rio de Janeiro, Minsk, Baku, Erevan, etc.

Serguei Dovlatov, conhecido escritor russo, foi, talvez, o que melhor revelou a causa da popularidade de Anton Tchekhov: “Posso venerar o intelecto de Tolstoi, avaliar o feito moral de Dostoevski ou o humor de Gogol, mas quero ser apenas parecido a Tchekhov”.

8 comentários:

Anónimo disse...

JM, belo artigo e muito oportuno!

Só uma pequena nota: "Gingeral" não me soa bem.
Acho que o nome consagrado é "Cerejal" ou "Jardim das Cerejeiras".

A diferença entre cereja e ginja não me parece fundamental.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Anónimo, em russo, a peça é «Вишнёвый сад», que para português se traduz como Pomar de Gingas ou Gingeral. Cerejal ou Jardim das Cerejeiras é uma tradução incorrecta. A propósito, se não me engano, a última tradução para português desta peça, realizada por Filipe e Nina Guerra, chama-se Gingeral.

Anónimo disse...

JM
Permita-me discordar da tradução "Gingeral".
Em primeiro lugar, mesmo sendo uma tradução mais rigorosa, soa mal.
Depois, se pesquisarmos no Google a palavra, dá-nos em Portugal apenas 18 (!) resultados, o que significa que a palavra não é utilizada, logo, não é conhecida.
Em certos casos, os "purismos" na tradução podem não ser a melhor opção.
Por último, qualquer tradutor sabe que existe a noção de estilo. A tradução pode ser correcta mas não ter o estilo adequado.Para além disso, ao que sei, o tradutor deve, para além de transmitir o conceito original, adequá-lo à vivência dos leitores. Recorde-se como exemplo negativo aqueles chavões russos do tempo da URSS que, quando traduzidos à letra para português ficavam um horror... Uma cultura estrangeira, para ser adequadamente entendida noutra língua, deve ser traduzida com flexibilidade, para que o leitor se reconheça nela e não a veja como totalmente estranha.
Por isso, acho que a palavra Cerejal é mais adequado do que Gingeral, já que muitos leitores nem saberão o que esta última significa.

Gilberto disse...

É meu escritor preferido. Na minha humilde opinião, o maior nome da literatura russa.

Ninguém jamais descreveu tão bem -- de maneira tão prática e sem baboseiras 'metafísicas'(Dostoievsky que me perdoe) -- a tão falada "alma russa" quanto Anton Tchekhov.

Se eu escolhi este país para passar uma parte de minha vida, isso se deve em boa parte a ele.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Anónimo, frequentemente, a primeira tradução está errada e pesa nas seguintes, mesmo que melhores. Quer um exemplo, Bulgakov escrever O Mestre e Margarida, mas al´guém taduziu como Margarida e o Mestre. Eu tenhjo estar mais próximo do original, mas a sua opinião tem razão de existir.

Anónimo disse...

JM
Agradeço-lhe a resposta quanto à tradução.
De facto, há muitas designações que já estão consagradas e, mesmo não sendo as mais correctas, são as conhecidas por todos.
Por exemplo, a obra de Tolstoi "Guerra e Paz", inicialmente significava "A Guerra e o Mundo", pois, antes da reforma ortográfica bolchevique, a palavra russa "mir" (no significado de "Mundo") era escrita com um "i". Depois disso, passou a ser escrita com o i cirílico e as duas noções (paz e mundo)passaram a escrever-se da mesma maneira, o que confundiu os primeiros tradutores. Mesmo assim, ninguém se lembra agora de mudar o nome da obra-prima.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro anónimo, essa versão sobre " Guerra e Paz" nasceu num erro de impressão de uma das edições da obra, se não me engano, em 1911. Na verdade, o título do livro é "Guerra e Paz" e foi inspirado numa obra de Proudon "De la guerre e de la paix".

Miguel disse...

Li recentemente que o próprio Tolstoi ao escrever o título em francês escreveu "Paz" e não "Mundo".