domingo, setembro 23, 2012

Alexandra: João Pinheiro encontra-se com menina russa depois de três anos de separação




          ***José Milhazes, agência Lusa***

         *** Foto de Verónica Kulakova***

Pretchistoe,  23 set (Lusa) – João Pinheiro, chefe da família de acolhimento de Alexandra, a criança russa que foi entregue à mãe biológica pelo Tribunal de Guimarães há três anos atrás, esteve na Rússia para se encontrar com a família da menina e “estabelecer um diálogo normal com ela”.
“É impossível descrever o que vai dentro de mim. Nem quero acreditar que tenho os pés em Moscovo”, declarou ele à Lusa, depois de uma longa e atribulada viagem entre o Porto e a capital russa.
João Pinheiro tinha requerido junto do Consulado da Rússia em Lisboa um vista para entrar no país, mas foi-lhe várias vezes recusado.
“Não sei o que aconteceu desta vez, mas recebi o visto e aqui estou. Foi três anos a lutar por este momento e cá estou”, frisou.
Como a família de Alexandra não se quis dirigir a Moscovo por motivos económicos, João Pinheiro lançou-se numa longa viagem até Pretchistoe, vila onde reside a menina, situada a mais de 360 quilómetros de Moscovo. Nos dois sentidos, foram precisas onze horas, mas o português de Barcelos tinha o seu objetivo.
“Por essa menina, vou mesmo até ao fim do mundo. Vim aqui precisamente para isso. Quero abraçá-la, dar-lhe um beijo e entregar-lhe as prendas que trouxesse”, continua João Pinheiro, enquanto, através da janela do carro, olha para aldeias russas com enorme curiosidade.
Não sabendo como iria ser recebido, bateu à porta da velha casa da família de Natália Zarubina com um certo receio, mas não havia motivo para tal, pois recebido com a possível hospitalidade russa: abraços e beijos.
A Xaninha não estava em casa, andava a brincar com as amigas. Veio pouco depois e recebida por João Pinheiro com abraços e beijos, mas sem que ela respondesse em português a algumas das perguntas dele.
A menina dirigiu-se rapidamente para as prendas, prestando pouca atenção às conversas entre os adultos.
“A camisola de que gosta! E que estojo com perfumes bonitos! Mais uma camisa e meias bonitas!”, exclama Alexandra entusiasmada, mas falando sempre em russo.
Apenas disse em português: “obrigada!”, mas só após a insistência da mãe.
Durante o almoço no restaurante local onde Natália ganha a vida como empregada de mesa, João Pinheiro contou como corria a vida da sua família em Portugal, tentando, ao mesmo tempo, apelar às recordações de Alexandra sobre a sua vida passada, mas a menina raramente reagia, distraindo-se com outros afazeres.
Irrequieta e traquina, não tardou a insistir com a mãe para voltarem para casa, pois queria ir brincar com as amigas.
“Quando não está na escola, passa a vida a brincar na rua com as amigas. Não está parada”, justifica Natália, mãe de Alexandra.
Entretanto, o telemóvel não parava de tocar. Um grupo de portugueses que apoiam de várias formas a família Pinheiro desde a partida da menina querem saber notícias, saber como estão a correr as coisas. Florinda, esposa de João Pinheiro, também está ansiosa para “saber como está a minha menina”.
“Tem medo que lhe roubem o marido”, comenta ela com um sorriso nos lábios.
Rapidamente chegou a hora da despedida, pois João Pinheiro tinha ainda de regressar a Moscovo e as estradas russas não permitem grandes velocidades.
Ao distribuir velhos e abraços por entre todos os membros da família da Alexandra, desde o avô até ao padrasto, João  propôs a Natália e ao marido que viessem passar o Natal e Ano Novo a Portugal.
“Está bem, nós vamos! Mas temos de tratar de passaportes e vistos”, declarou Alexei, o padrasto da menina, dando a entender que há apenas um “pequeno” problema: a grave falta de dinheiro.
“Eu vou ajudar. Irei dar todo o apoio para vos ver lá em minha casa”, retorquiu João Pinheiro.
O português não quis deixar a vila sem ver a Lúcia, cadela que acompanhou a menina para a Rússia. A coxear de uma das patas, o animal, que vagueia por Pretchistoe à procura de comida, saltou para João e começou-lhe a lamber as mãos e a pedir festas.
“Lúcia, Lúcia, ela reconheceu-me, não se esqueceu de mim”, exclamou ele, ficando sufocado por lágrimas e desviando-se de Alexandra e das outras pessoas para que não o vissem a chorar.
“Tentarei fazer tudo para ajudar esta família, e agora muito mais”, concluiu João Pinheiro ao deixar para trás a vila de Pretchistoe.
JM
Fim/Lusa

2 comentários:

Jest nas Wielu disse...

Cadelinha foi a mais fiel, lembro que a primeira coisa que lhe aconteceu é ser amarrada à uma corrente metálica, um símbolo, mas não deixa de ter o seu significado...

Raquel disse...

Não conheço a menina mas nunca esquecerei as imagens da entrega, e a angustia das noticias que nos iam chegando da Russia, continuo a comover-me mesmo passados 3 anos.....obrigada por nos ir informando e muita força à familia Pinheiro a quem mando um grande beijo.