Nos últimos dias, por motivos
profissionais, mais propriamente devido ao jogo Rússia-Portugal, tive de me
confrontar com tradutores e a qualidade do trabalho era tão má que me levou a
escrever este texto.
Começo por dizer que tanto na Rússia,
como em Portugal, há excelentes tradutores de russo-português e
português-russo, mas, não sei porque razão, nem sempre são eles que aparecem a fazer
trabalhos de responsabilidade.
(Quero fazer aqui um parêntesis para
sublinhar que tenho em vista não a tradução literária, pois isso é um tema à
parte, mas a tradução por escrito e simultânea noutros sectores).
Eu considero que a tradução de
treinadores é um trabalho de muita responsabilidade e, por isso, fiquei
surpreendido com os tradutores escolhidos. Na conferência de imprensa de Paulo
Bento antes do jogo, o tradutor, se alguma vez estudou português, devia estar
em mau dia e não acertava uma. Na realizada depois, sentia-se que a tradutora
estudara português, mas falhou em momentos determinantes. Por exemplo, pôs na
boca do treinador português as palavras de que Fábio Coentrão iria jogar contra
o Azerbaijão no Dragão, enquanto que Paulo Bento tinha dito exactamente o
contrário.
Tendo em conta que em Moscovo há
excelentes tradutores de português-russo e vice-versa, só se pode explicar a
presença de tradutores tão fracos com a falta de atenção ou o desconhecimento
da Federação de Futebol da Rússia.
Mas enganam-se aqueles que pensam que
isto só ocorre na Rússia. Não, acontece também em Portugal, e frequentemente.
Ainda há pouco tempo, tive a
possibilidade de ler publicidade em russo de conhecidas empresas portuguesas do
sector do turismo e do imobiliário. Não queria acreditar! Pareciam tratar-se de
traduções feitas com a ajuda do Google. Se eu fosse russo rico, jamais compraria
serviços ou bens oferecidos por essas empresas depois de ler o texto russo
sobre elas nos sítios oficiais.
Consegui apurar os “autores” da
tradução: uma empresa russa do Algarve “acreditada junto da Embaixada da Rússia
em Lisboa”, que levou uma soma considerável em rublos pelo seu “trabalho”.
Neste caso, nem foi a busca do mais
barato, como acontece na maioria dos casos, mas a demasiada confiança do
cliente na empresa de “tradução”.
Acontece, às vezes, que empresários
portugueses, a fim de poupar dinheiro, recorrem aos seus empregados ucranianos
ou moldavos como tradutores por escrito, embora alguns deles não saibam
português e russo ao mais elementar nível, porque eles têm outras
especialidades.
Sabendo que existem bons tradutores na
Rússia e Portugal, apenas aconselho a não pouparem uns euros e a recorrem a
bons tradutores. Caso contrário, os prejuízos podem ser significativos.
Lembrem-se de que traduzir uma certidão
de nascimento ou de casamento não é a mesma coisa do que traduzir um contrato.
Trata-se “só e apenas” de traduções de nível diferente.
3 comentários:
Sem dúvida, este é um tema muito complexo e que implica vários factores. Como pode um empresário ou uma entidade certificar-se da qualidade do tradutor antes de o contratar? Acontece que quando o tradutor traduz para uma língua não-materna (o caso dos tradutores russos para português) nem sempre eles próprios conseguem perceber que estão a traduzir mal :) Se bem que, mesmo na língua materna, haja bastantes queixas.... Não sei se não se deveria instituir um exame qualquer internacional de "avaliação da capacidade profissional", para reconhecimento da profissão, já que parece que a área anda totalmente desregulada.
No caso do jogo Rússia-Portugal o mais estranho foi o facto de não ter havido tradução da conferencia de imprensa do Capello. Conheço o tradutor do treinador italiano, aliás ele também é tradutor no Zenit e ele estudou em Lisboa, falando bastante bem português.
Aconselho que traduzam para inglês, nem que seja no automático. Convém não se fiarem nos tradutores, porque podem servir outros interesses. Por exemplo, se tal tivesse sido feito com textos e comentários de blogs,inclusive neste, muitas coisas más se teriam evitado.
E mais não digo.
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