sexta-feira, janeiro 24, 2014

Ucrânia dirige-se a passos largos para guerra civil e desintegração



Tal como já era previsível, as conversações entre o Presidente da Ucrânia, Victor Ianukovitch, e os líderes da oposição terminaram sem resultados visíveis. O dirigente ucraniano prometeu apenas libertar os participantes nos confrontos em Kiev que foram detidos pela polícia. Os manifestantes que se encontram na Praça da Independência ficaram insatisfeitos e votaram contra a continuação de conversações.
Estamos claramente perante aquilo a que Vladimir Lénine, dirigente dos bolcheviques russos, definiu como “situação revolucionária”: as cúpulas já não conseguem governar e as bases já não querem ser assim governadas.
Dizem que as conversações continuam e, em Kiev, a situação está aparentemente mais calma, mas, como já escrevi ontem, os confrontos saíram além da capital ucraniana e começam a alastrar-se rapidamente pelo país. Manifestantes da oposição invadiram a sede dos governadores ou assembleias de várias regiões do país: Lvov, Tcherkass, Tchernovtsi, Lutzk, Ivano-Frankovsk, etc. Alguns dos governadores, como os de Volyn e Lutzk, demitiram-se. A organização de Lvov do Partido das Regiões, o principal apoio de Ianukovitch, anunciou ter abandonado essa força política!
Por outro lado, o Parlamento da Crimeia, região do Sul da Ucrânia que fez parte da Rússia até 1954 e onde existe um forte espírito pró-Moscovo, exige que o Presidente ucraniano imponha o estado de sítio no país para acabar com as manifestações da oposição.
As autoridades ucranianas reforçam as fileiras da polícia de choque em Kiev chamando agentes de segurança das regiões do Este e Sul do país, onde o apoio a Ianukovitch é maior.
O perigo de desintegração do país é cada vez maior e o poder de manobra de Ianukovitch é cada vez menor. Alguém terá de responder pelos mortos e feridos em Kiev, pela situação económica catastrófica em que se encontra o país, pela corrupção e pelos negócios da “família”, que colocaram os seus filhos entre as pessoas mais ricas do país.
É de salientar que as pessoas que protestam em Kiev e noutras cidades ucranianas não só e nem tanto protestam contra o afastamento da Ucrânia em relação à União Europeia, mas contra o sistema corrupto instalado no país.
Quanto à oposição, não parece existir um líder à altura dos acontecimentos.
A solução pacífica da crise parece mesmo passar por eleições gerais, devendo Ianukovitch e a sua clã receber garantias de segurança, tal como aconteceu com anteriores presidentes da Ucrânia.
Na situação existente, a União Europeia terá de continuar a apoiar a oposição e, ao mesmo tempo, a fazer os possíveis para que a situação não desague num grande banho de sangue. No fim de contas, a UE tem responsabilidades no início desta situação e não pode fazer agora figura de fraca. Já não se trata de ver os seus dirigentes a visitarem as barricadas, mas a darem uma contribuição real para a solução do problema.
Bruxelas começa a falar em sanções, mas não parecem ser muito eficazes, a não ser que a UE congele as contas bancárias dos dirigentes e magnatas ucranianos. O que essas sanções não devem atingir as pessoas simples.
Moscovo está muito nervoso, pois o maior receio de Vladimir Putin, que considero não ter fundamento, é que algo de semelhante se repita na Rússia. Iúri Uchakov, assessor de Putin para assuntos internacionais, declarou que o seu país mantém uma posição de “não-ingerência clara” em relação à Ucrânia, mas reconhece que existem contactos ao mais alto nível.
Não é de esperar que Moscovo, depois de tantos esforços e pressão, que levou, nomeadamente a Ucrânia a não assinar o Tratado de Parceria com a UE, venha agora abandonar Ianukovitch ao seu próprio destino (o exemplo de Kadhafi paira no ar) e “deixe escapar” o seu vizinho. Porém, apostar na desintegração da Ucrânia é um passo muito arriscado, pois isso implicará um confronto direto com a UE e os EUA.

Ainda há alguns dias atrás, parecia impensável ver pessoas serem assassinadas em Kiev, hoje, ainda parece impossível imaginar um grave conflito, com componente militar, entre a Rússia e o mundo ocidental, mas tudo já é possível num mundo onde a diplomacia não é preventiva, mas reativa.

3 comentários:

Fernando Negro disse...

Tentativa de "destruição criativa", tal como foi o Maio de 68 - é o que isto me parece ser...

http://www.globalresearch.ca/egypt-s-revolution-creative-destruction-for-a-greater-middle-east/23131

(Falhada mais uma tentativa de "revolução colorida" pacífica, passa-se então a uma mais violenta...)

Fernando Negro disse...

Vejam, nas seguintes imagens - que não vi serem passadas nos média ocidentais - o tipo de "manifestantes" que são apoiados pela UE:

http://www.youtube.com/watch?v=wEKviJYIlJ4

Anónimo disse...

Sr. Milhazes,

Eu só vejo esta solução para a Ucrânia: dividir o país em dois. Um a parte que fala ucraniano, a outra, a parte que fala russo. Ficando mais ou menos dividido pelo rio que corta o país ao meio. Sendo que Odessa e a Criméia ficam da lado russo.

O lado ocidental seria m república nos moldes ocidentais: seria membro da UE e da Nato, Teria como língua oficial o ucraniano e sua igreja ortodoxa não seria vinculada a da Rússia. O lado oriental teria o russo e ucraniano como línguas oficiais (como já está) e teria sua igreja ortodoxa vinculada a de Moscou. Seria membro da união aduaneira e teria uma relação com a Rússia semelhante a que Belarus tem.

Pronto! Eis a soluçao para o problema da Ucrânia!