quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Rússia vai renovar completamente arsenal nuclear até 2020


O novo programa estatal de armamentos, que deverá ser realizado entre 2011 e 2020, prevê a renovação total do equipamento das forças nucleares estratégicas da Rússia, anunciou Serguei Ivanov, vice-primeiro-ministro do Governo russo.
“Terá lugar a substituição completa dos satélites espaciais por aparelhos mais modernos. Será criado um espaço informativo único do campo de combate. E claro que terá lugar a transição para modelos completamente novos, intelectuais, de armamentos”, declarou Ivanov, que responde pelo complexo militar-industrial russo, numa entrevista publicada hoje no diário Rossiskaia gazeta.
Segundo o vice-primeiro-ministro, “esta enorme encomenda é também uma oportunidade de sobrevivência para outros ramos da economia em tempo de crise”.
Ivanov sublinhou que, até finais de março de 2009, deverão ser distribuídas por 1400 empresas estratégicas do complexo militar-industrial encomendas no valor de. um bilião de rublos (cerca de 22 mil milhões de euros).
O vice-primeiro-ministro recordou que nesse ramo da indústria trabalham 1,5 milhões de pessoas, sublinhando que “as encomendas de Estado são a medida mais eficaz de combate à crise”.
Antes, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, tinha anunciado que, entre 2009 e 2011, o Governo tencionava investir em comendas militares quatro biliões de rublos (cerca de 88 mil milhões de euros), frisando que a crise financeira não iria provocar a redução de investimentos na área do fabrico de armamentos.
Serguei Ivanov chamou a atenção para o facto de a passagem para novos armamentos pressupõr o emprego de nanotecnologias no seu fabrico.
“Na companhia Sukhoi (que fabrica aviões militares Su), foram criados materiais nanotecnológicos de construção. Isso já não é ficção científica, mas realidade”, concluiu.

Está a chegar a hora das guerras de informação


Os países mais desenvolvidos do mundo terão, dentro de dois ou três anos, a possibilidade de conduzir verdadeiras guerras de informação, declarou hoje o general Anatoli Nogovitsin, vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Rússia.
“Os principais objectivos dessas guerras serão a perturbação do funcionamento dos sistemas de defesa, industriais e administrativos fulcrais do inimigo, bem como um impacto info-psicológico na sua população, nas suas tropas e na sua direcção, com recursos às tecnologias de informação modernas”, indicou o general, numa conferência de imprensa.
Segundo ele, uma guerra da informação apresenta traços característicos que a distinuguem de uma guerra tradicional, cria novos problemas e merece, por isso, uma atenção especial.
O general sublinhou que o baixo custo da preparação e da aplicação da arma informativa é a principal característica.
Os meios criados para uma guerra da informação podem constituir “um podente utensílio de manipulação através da percepção”, acrescentou.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Portugueses na Sacalina 4

Fotos enviadas por Vitor Fernandes











Agente russo com passaporte português procurado na Europa


O agente secreto russo Serguei Iakovlev (na foto), que servia de elo de ligação entre Herman Simm, alto funcionário do ministério da Defesa da Estónia e tinha passaporte português, está a ser procurado em toda a Europa, noticía a imprensa estónia de hoje.
O Tribunal do Bairro Hariumaa, em Tallinn, condenou Herman Simm por espionagem a favor da Rússia a uma pena de prisão de 12 anos e seis meses e a uma multa de 1,3 milhões de euros.
Simm e a sua esposa foram detidos nos finais de Setembro de 2008, tendo sido acusado de transmitir informações secretas à Rússia. Segundo a imprensa estónia, Siim e a esposa conseguiram transmitir cerca de três mil documentos secretos aos serviços secretos russos.
Na acusação escreve-se que Simm entregava os documentos aos oficiais russos Valeri Zentsov e Serguei Iakovlev, trabalhando este último com um passaporte português passado em nome de António de Jesus Amorett Grafa.
A imprensa estónia escreve que foi emitido um mandado de captura europeu (European Arrest Warrant) contra Iakovlev-Jesus.
Em 1995, Simm passou a dirigir a Secão da Política de Defesa do Ministério da Defesa da Estónia e, em 2000, passou a ter sob a sua alçada a Secção de Segurança desse ministério. Em 2006, foi nomeado conselheiro do Ministério da Defesa.
A Secção de Segurança é uma secção do Ministério da Defesa da Estónia que protege segredos de Estado no país.
Além disso, Simm dirigiu delegações estónias quando da assinatura de acordos sobre a defesa de informação secreta com países estrangeiros. Ele ocupava-se também da elaboração de sistemas de informação na NATO e União Europeia.
Graças aos cargos ocupados, Simm dispunha de um passaporte diplomático, que lhe permitia transportar informação confidencial.
Segundo fontes da Lusa em Tallinn contactadas por telefone, Herman Simm tinha acesso aos sistema de cifra da NATO Elektrodat e conseguiu fazê-lo chegar a Moscovo.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Ucrânia à beira de explosão social

O presidente da Federação Nacional de Sindicatos da Ucrânia (FNSU), Miroslav Iakibchuk, advertiu hoje as autoridades sobre a possibilidade de uma greve geral incontrolada no país.
“A Federação Nacional declara que a sociedade ucraniana se encontra no limiar do aparecimento de um movimento grevista incontrolável que poderá ter consequências imprevisíveis para o Estado”, declarou Iakibchuv numa conferência de imprensa em Kiev, acrescentando que “semelhantes acções ameaçam terminar num levantamento colectivo e violento contra as autoridades”.
Segundo as suas palavras, “a análise da situação na economia revela que o pessoal de mais de mil empresas está disposto a iniciar acções radicais”.
O presidente da FNSU garantiu que os sindicatos “continuam a defender os interesses dos trabalhadores, sendo um instrumento de diálogo com as autoridades”.
Por outro lado, Iakibchuk reconhece que os sindicatos “poderão ver-se impotentes perante a agressividade massiva das pessoas desiludidas, milhares das quais ficam diariamente sem emprego e meios de subsistência”.
Vladimir Litvin, presidente da Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia, tem a mesma opinião, considerando que as manifestações de rua que já têm lugar em Kiev podem transformar-se em acções de protesto nacional.
Nos últimos dias, a capital ucraniana tem assistido a manifestações de protesto contra o aumento do preço dos serviços comunais.
“O que se passa em Kiev é o prelúdio. Se não forem tomadas medidas, em primeiro lugar de cariz económico, isso entrará numa fase incontrolável”, declarou ele num encontro com dirigentes do poder local.
Litvin assinalou que “o poder na Ucrânia se fragmenta, o controlo da situação apenas se conserva por inércia”.
“A situação deteriora-se devido à sabotagem. Vigora o princípio de quando pior, melhor”, acrescentou.
Segundo ele, a consequência de tudo isso poderá ser que “as pessoas varrerão tudo e não farão qualquer tipo de distinção”.
“As pessoas estão categoricamente contra as eleições, mas quando elas virem que o poder é inadequado, dirão: “Queremos eleições gerais”, frisou Litvin.
O presidente do Parlamento ucraniano não poupou críticas à oposição: “ouço alguns políticos que afirmam que se estivessem no poder, não teriam permitido a crise mundial global”.
A Ucrânia está mergulhada numa profunda crise económica e política, agravada pela disputa entre o Presidente ucraniano, Victor Iuschenko, e a primeira-ministra Iúlia Timochenko.

Oposição exige demissão de Presidente Saakachvili

A ex-ministra dos Negócios Estrangeiros da Geórgia, Salomé Zurabischvili, dirigente do partido da oposição Via da Geórgia, pediu hoje ao Presidente Mikhail Saakachvili para apresentar a demissão antes de 09 de Abril.
“Se Mikhail Saakachvili não se demitir antes de 09 de Abril, sairemos para as ruas e não as abandonaremos até que seja alcançado o objectivo fixado”, declarou hoje a antiga ministra numa conferência de imprensa.
Esta iniciativa tem também o apoio do Partido Conservador, outra força da oposição georgiana. O seu dirigente, Zviad Dzidziguri, prometeu organizar um comício por tempo indeterminado em frente ao edifício do Parlamento caso Saakachvili se recuse a deixar o cargo de Presidente.
Na véspera, a união política Aliança para a Geórgia, liderada pelo antigo embaixador georgiano na ONU, Iraki Alasania, deu a Saakachvili um prazo de dez dias para convocar um referendo sobre eleições presidenciais antecipadas.
“Já que o Presidente Saakachvili não tem vontade política para tomar a medida adequada e demitir-se do seu cargo, damos-lhe dez dias para que convoque um referendo para que o povo se pronuncie a favor ou contra a realização de novas eleições presidenciais”, declarou Alania, um dos dirigentes da união da oposição, numa conferência de imprensa.
Se o Presidente não aceitar o ultimato, a oposição dará início a um plano de acções concretas para a convocação de um plebiscito nacional, acrescentou o antigo embaixador georgiano.
David Usupachvili, dirigente do Partido Republicano da Geórgia, sublinhou que o objectivo principal da oposição é conseguir a demissão de Saakachvili e a convocação de novas eleições presidenciais.
“Por isso, propomos à opinião pública Irakli Alasania candidato a Presidente”, anunciou.
É de sublinhar que não existe unanimidade entre as forças da oposição quanto à forma como afastar Mikhail Saakachvili do cargo de Presidente, o que permite ao último manobrar. Segundo alguns analistas políticos, o dirigente georgiano poderá avançar para eleições presidenciais antecipadas para se antecipar à oposição, bem como poderá rever a Constituição do país, transformar a Geórgia numa república parlamentar e tornar-se primeiro-ministro após a realização de eleições parlamentares antecipadas.

Portugueses na Sacalina 3

Fotos enviadas por Vitor Fernandes da Ilha Sacalina, Extremo Oriente russo











segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Comunistas contra reforma militar



O Partido Comunista da Federação da Rússia realizou manifestações em várias regiões para protestar contra a reforma militar, acusando o Governo de Vladimir Putin de pretender destruir as Forças Armadas.
Na URSS, 23 de Fevereiro era o “Dia do Exército e da Marinha Soviéticos” e, hoje, continua a ser comemorado, mas com outro nome:“Dia do Defensor da Pátria”
Não obstante o frio intenso que se faz sentir na capital russa, onde o mercúrio dos termómetros desceu até aos 15ºC negativos, vários milhares de pessoas saíram para a rua a fim de exigir o fim da reforma militar.
“Povo e Forças Armadas unidas!”, “Viva as Forças Armadas da Rússia!”, “A reforma militar é uma traição da pátria!”, lia-se em cartazes transportados por manifestantes, a maioria dos quais reformados.
Bandeiras vermelhas, numerosos retratos de Estaline e outros símbolos soviéticos não deixam dúvidas quanto às saudades dos manifestantes pela União Soviética.
“Isto é uma autêntica vergonha. Antes, na era soviética, os oficiais não tinham de participar em manifestações de protesto, mas assistiam a concertos” – declarou à Lusa um antigo oficial do Exército Vermelho.
“O nosso país era temido, mas agora está doente, precisa de um novo Estaline para o fazer renascer”, junta-se à conversa uma mulher idosa que vendia jornais comunistas.
Guennadi Ziuganov, secretário-geral do Partido Comunista, discursou para considerar “mortal” a reforma militar actualmente realizada por Vladimir Putin, considerando que ela irá provocar “o despedimento de milhares de jovens oficiais”.
“O que hoje está a ser realizado sob a capa de reforma é a liquidação das forças armadas, sem as quais a Rússia não terá futuro”, acrescentou.
O dirigente comunista criticou também duramente a política realizada pelo Governo de Putin no combate à crise.
“Devido à pilhagem das reservas em ouro, nem um cêntinmo chegou aos professores e médicos. E nenhum cêntimo chegará também às mãos dos militares”, defendeu.
No Outono passado, Anatoli Serdiukov, ministro da Defesa da Rússia, anunciou a reorganização das Forças Armadas da Rússia, considerando ser necessário a forte redução de efectivos e a modernização do sistema de comando.
“Exigimos a demissão de Serdiukov!”, “Exigimos a demissão de Kudrin (ministro das Finanças)!”, “Exigimos a demissão de Putin!”, gritaram os manifestantes ao aprovar uma decisão tomada durante o comício.
Além de participarem no comício de protesto, os manifestantes podiam adquirir livros sobre os feitos do ditador comunista José Estaline (“Generalíssimo”, “Verdades e mentiras sobre Estaline”, etc.), bem como sobre as “intrigas” da maçonaria e dos judeus contra a Rússia: “Maçons no poder”, “Escritores russos sobre os judeus”, “Sionismo como fonte do fascismo”.
Segundo a polícia, no comício participaram cerca de mil pessoas, mas os organizadores falam em mais de quatro mil.
Manifestações semelhantes realizaram-se em várias cidades russas e todas elas decorreram sem incidentes.
As autoridades mobilizaram cerca de quatro mil polícias e soldados para manter a ordem em Moscovo, onde se realizaram outras manifestações para assinalar o “Dia do Defensor da Pátria”.

domingo, fevereiro 22, 2009

Soprano Lara Martins cativa ouvintes moscovitas



A soprano portuguesa Lara Martins, acompanhada pela Orquestra de Câmara do Kremlin, deu , na sexta e sábado, dois concertos de música clássica na capital russa, ambos com casa praticamente cheia.
A Orquestra de Câmara do Kremlin, sob a direcção do maestro Misha Rakhelevski, começou por interpretar a obra “Variações num tema de Tchaikovski” do compositor russo Anton Arensky.
Depois, foi a vez de Lara Martins entrar em cena para cantar a “Ária Nicea” da ópera “Testoride Argonauta”, obra do compositor português João de Sousa Carvalho (1745-1800).
A soprana lusa continuou a sua actuação, interpretando obras do compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828): “Salve Regina”, “An die Musik”, “Rastlose Liebe” e “Ave Maria”.
Os concertos, que se realizaram na sala de espectáculos do Museu Ilia Glazunov, terminaram com a Orquestra de Câmara do Kremlin terminou o concerto com a interpretação de outra obra de Franz Schubert. “A morte e a donzela”, obra para quarteto de cordas transcrita para osquestra de câmara pelo maestro Misha Rakhlevski.
“É uma autêntica descoberta, não conhecia cantoras líricas portuguesas, é a primeira vez que ouço e não me desiludiu”, declarou à Lusa Maria Petrovna, melómana moscovita, depois de um dos concertos.
“Cantou a Ave Maria de Schubert com tanto sentimento, ternura!”, acrescentou.
No fim dos concertos, Lara Martins estava feliz com o seu desempenho e com a forma como foi recebida pelo público.
“Não é a primeira vez que canto em Moscovo, mas tenho sempre presente que é um grande desafio, uma grande responsabilidade actuar nesta cidade com uma rica oferta musical”, declarou à Lusa a soprana portuguesa.
“Preocupei-me em interpretar uma obra de um compositor português, pois chama a atenção dos ouvintes para a nossa herança musical”, acrescentou Lara Martins.
Enquanto a cantora falava com os jornalistas portuguesas, ouvintes russos aproximavam-se dela e, ora em russo, ora em inglês, agradeciam-lhe pela actuação.

Portugueses na Sacalina 2

Fotos enviadas por Vitor Fernandes da Sacalina
















sábado, fevereiro 21, 2009

O médico dos "males de amor"


A fim de recordar uma vez mais o meu saudoso amigo Rachid Kaplanov, reproduzo aqui um artigo que escrevemos para o jornal Público e que foi publicado a 07 de Março de 1999.


"Portugal e a Rússia foram as suas duas pátrias, mesmo se fugiu delas e aceitou o asilo francês em Paris. Em Portugal, escapou-se da vigilância da Santa Inquisição e, na Rússia, às intrigas da corte czarista. Nos dois casos, poderes absolutos que intelectualmente execrava e de que foi unicamente vítima, pois a política não era a sua esfera de intervenção. Foi graças a ele que estes dois países, colocados nos extremos opostos da Europa, estabeleceram ligações culturais, para lá dos regimes políticos que neles vigoraram.

António Nunes Ribeiro Sanches, por indicação de Boerhaave, seu mestre holandês e um dos mais eminentes médicos do seu tempo, foi trabalhar para a Rússia, onde passou dezassete anos (1731-1749). Aí deixou um rasto relevante na ciência e na cultura deste longínquo país.

Ribeiro Sanches deixou as melhores recordações na Rússia principalmente graças à sua actividade no campo da medicina. Quando já exercia as funções de médico da corte de São Petersburgo, o iluminista luso salvou da morte a noiva do grão-príncipe Pedro e futura imperatriz da Rússia, Catarina II, a Grande. Por isso, em 1782, o seu filho e sucessor no trono, Pavel I, exprimiu-lhe publicamente gratidão em Paris. Isso valeu-lhe também uma pensão vitalícia da corte russa.

Já depois de ter abandonado a Rússia, por ter sido acusado de não ter renunciado ao judaísmo, ele nunca se recusou a prestar assistência médica aos nobres russos que o procuravam na capital francesa.

É de sublinhar que Ribeiro Sanches era, na época, considerado um mestre incomparável no tratamento de doenças venéreas, o que vinha muito a propósito: os jovens nobres russos (e não só jovens) que visitavam Paris sofriam frequentemente desses "males do amor".

O cientista luso continuou a corresponder-se com colegas seus na Rússia, bem como a dar por correspondência consultas a altos dignatários russos. Mas claro que, tanto na Rússia como em França, os contactos entre Ribeiro Sanches e os russos não se limitavam a temas de medicina. Por exemplo, quando se encontrava a viver em São Petersburgo, ele não só tratava da família real, como também fornecia livros para leitura aos seus membros, incluindo a duquesa Ana de Macklenburgo, futura regente do trono russo.

O enciclopedista português mantinha contactos estreitos com o mundo científico russo, contribuindo para o estabelecimento de relações entre cientistas russos e sábios de outros países da Europa e do mundo. Por sua iniciativa, em 1735, dá-se início à troca de cartas e de livros entre a Academia de Ciências de São Petersburgo (de que Ribeiro Sanches se tornou mais tarde membro) e a Academia Portuguesa de História.

É também ele que está na origem dos contactos entre São Petersburgo e Pequim, onde as sociedades científicas eram dirigidas por jesuítas portugueses. A propósito, é curioso assinalar que a troca de cartas entre os orientalistas russos e os missionários portugueses na China continuaram até meados do séc. XIX, o que fez com que várias dezenas de livros, incluindo alguns em língua portuguesa, transitassem das missões católicas na China para diversas bibliotecas russas, entre elas a Biblioteca Universitária de Irkutsk, na Sibéria, e a Biblioteca da Universidade Estatal de Moscovo.

Outros estrangeirados portugueses, que haviam fugido da Inquisição e se instalaram noutras capitais estrangeiras, estabeleceram também contactos científicos - e não só - com a Rússia. O exemplo mais relevante é o de Jacob de Castro Sarmento, médico judeu de origem portuguesa que residia em Londres. Alguns meses antes da morte de Ribeiro Sanches, João Jacinto de Magalhães, outro estrangeirado português residente também em Londres, físico e popularizador da ciência, torna-se, tal como o seu amigo Sanches, membro correspondente da Academia de Ciências de São Petersburgo.

Os contactos de Ribeiro Sanches não se restringiram a Portugal e à diáspora portuguesa no estrangeiro. Quando se encontrava na Rússia e mesmo depois de partir para Paris, correspondeu-se com cientistas de quase todo o mundo civilizado de então. Entre os seus interlocutores havia ingleses, holandeses, espanhóis, italianos, suíços, latino-americanos, etc.

Respondia com prazer e saber aos seus colegas europeus a perguntas que lhes interessavam da história da Rússia. Por exemplo, as informações sobre os peixes da Rússia por ele concedidas ao famoso naturalista francês Buffon foram por este incluídas nas suas obras.

Os dirigentes da Academia de Ciências de São Petersburgo tinham em linha de conta a opinião de Sanches quando da eleição de novos membros estrangeiros.

O iluminista português dava a conhecer aos seus interlocutores a situação sócio-política e económica na Rússia. Nos anos 70 do séc. XVIII, informava-os das reformas da imperatriz Catarina II, a Grande. Por outro lado, ele comunicava de Paris para a capital russa as transformações que ocorriam nos vários Estados europeus. Da pena deste ilustre sábio luso saíram numerosas obras sobre a Rússia, muitas das quais continuam nos arquivos à espera de publicação. Alguns manuscritos de Ribeiro Sanches sobre este tema eram considerados perdidos e só foram descobertos em Moscovo, São Petersburgo e Lisboa nos anos 80 do nosso século.

É impressionante a amplitude de interesses científicos de Ribeiro Sanches. Entre os seus tratados e cartas manuscritas, há escritos etnográficos sobre alguns povos do Sul da Rússia, que ele conheceu durante a campanha militar da Crimeia (anos 30 do séc. XVIII), onde exercia funções de médico militar. Nomeadamente, redigiu em manuscrito o único dicionário da língua dos tártaros de Kuban, povo hoje desaparecido.

Ribeiro Sanches deixou igualmente escritos sobre os cossacos, ucranianos, povos do Báltico, etc. Todavia, ele dedicou maior atenção aos russos, suas tradições, costumes, vida económica e agricultura. Na sua conhecida obra "Dos banhos a vapor russos", a única traduzida do francês para russo durante a vida do autor, Ribeiro Sanches analisa o tema não só enquanto médico, mas também como economista. Ele via nos populares banhos russos um meio universal de tratamento de doenças quando não era possível o acesso a outros tratamentos e recomendou-o aos seus leitores ocidentais.

Quando se encontrava já há vários anos na capital francesa, Ribeiro Sanches tornou-se conselheiro de vários estadistas russos, principalmente no campo da pedagogia e da economia. Ivan Betskoi, um dos grandes reformadores russos do sistema de ensino no reino de Catarina II, reconheceu que frequentemente se orientava pelas recomendações enviadas pelo sábio luso.

Nos seus conselhos aos altos dignitários russos, Ribeiro Sanches não poupava críticas à Igreja Católica, embora fosse muito cauteloso ao abordar temas religiosos. Por exemplo, recomendava não exagerar no ensino do latim nas escolas da Igreja Ortodoxa Russa, considerando que isso poderia conduzir ao aumento da influência do papado romano na Rússia, que transportava em si uma ameaça constante à independência política do país.

Pondo de parte semelhantes exageros ideológicos, raros em Ribeiro Sanches, as suas recomendações são de um saudável realismo. Ao abordar, por exemplo, as reformas no campo agrário na Rússia, ele não ia ao ponto de proibir a liquidação da servidão da gleba neste país (que só ocorreu em Fevereiro de 1861), mas defendia mudanças significativas nesse sistema. Baseando-se nas reformas do czar Pedro I, "o Grande", o ilustre estrangeirado português aconselhou o marquês de Pombal na sua tarefa de modernização de Portugal.

Ribeiro Sanches, que fez parte dos enciclopedistas franceses, tinha uma visão filosófica das ciências sociais e considerava que a auto-subsistência agrícola era fundamental para qualquer país, insistindo, para isso, no incremento das culturas cerealíferas. Nesse aspecto tinha uma visão proteccionista e gostava de discorrer sobre os problemas da agricultura, mesmo quando lhe colocavam questões completamente diferentes. Quando um seu interlocutor russo lhe perguntou: "Como introduzir as belas-artes na Rússia?", ele respondeu que, primeiramente, era preciso ter camponeses minimamente alimentados e com algum nível de autonomia na sua actividade económica. As belas artes vinham depois.

As recomendações no campo agrário feitas pelo cientista português foram entusiasticamente recebidas pelo seu jovem amigo e admirador, príncipe Dimitri Golitsin, encarregado de negócios da Rússia em Paris, mas, infelizmente, rejeitadas pela imperatriz Catarina II.

Convém dizer que depois de 200 anos de reformas e revoluções, o problema agrário continua por resolver. Mas Ribeiro Sanches enganou-se numa previsão: não obstante a permanente crise agrária, as belas-artes floresceram na Rússia.

Portugueses na Sacalina 1

Fotos enviadas pelo leitor Vitor Fernandes, português que participou na construção da primeira fábrica de gás liquefeito na Sacalina, Extremo Oriente da Rússia.












sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Até a música pimba é uma arma!


Em tempo de profunda crise económica internacional, qualquer insignificância pode servir para distrair as atenções do público. Uma canção sem qualquer tipo de qualidade de um grupo desconhecido de jovens georgianos conseguiu "tirar o sono" ao primeiro-ministro Vladimir Putin, cujo porta-voz já reagiu.

Dmitri Peskov, porta-voz do primeiro-ministro russo Vladimir Putin e membro do comité organizador do Festival da Eurovisão-2009, considerou hoje que a interpretação da canção “We don’t wanna put in!”, pelo grupo georgiano “Stephane & 3G”, será recebida como “transmissão de ambições pseudo-políticas” ou “simples hooliganismo”.
“Se realmente é assim, apenas resta lamentar o facto de os participantes da Geórgia não tencionarem realmente apostar na criação, mas utilizarem um concurso tão popular em toda a Europa para a transmissão das suas ambições pseudo-políticas, ou seja, simples hooliganismo”, declarou Peskov aos jornalistas.
O conjunto “Stephane & 3G”, que irá representar a Geórgia no Festival da Canção da Eurovisão, cuja final se realizará na capital russa no mês de maio, vai interpretar uma canção já considerada “anti-russa” por numerosos órgãos de informação russos.
A letra da canção em inglês “We don’t wanna put in” está a ser considerada como um ataque ao primeiro-ministro Vladimir Putin, podendo ser interpretada como “Nós não queremos Putin”.
Dmitri Peskov espera que os “hóspedes georgianos da Eurovisão moscovita mostrem uma música bonita e verdadeira, que corresponda à riqueza do povo e cultura georgianos”.
“Em todo o caso, estou convencido que, na Rússia, ninguém irá cantar a canção “Adeus, nosso querido Micha”.
Micha é o diminuitivo de Mikhail, nome do Presidente georgiano e inimigo fidalgal de Vladimir Putin. Essa composição musical foi o hino dos Jogos Olímpicos de 1980 em Moscovo.
A Geórgia participará nas primeiras meias-finais do concurso a 12 de Maio, tendo a canção portuguesa como uma das concorrentes.
A final do Festival da Eurovisão realiza-se a 16 de Maio, havendo ainda muito tempo para novos capítulos da novela.

É pretexto para dizer: até a música pimba é uma arma!

Portugueses na Sacalina











O nosso leitor Vitor Fernandes, um dos cerca de vinte portugueses que participaram na edificação da primeira fábrica de liquefação de gás na Rússia, enviou-me o mail abaixo reproduzido e numerosas fotos, que irei publicar para que os leitores também façam uma ideia da grandeza da obra.




"Caro Sr. José Milhazes, Gostaria de o informar que o presidente Medvedev inaugurou passado dia 18 na ilha de Sacalina a primeira LNG russa. Estas instalações fazem parte do projecto SK2 da Sakhalin Energy. Deste projecto faz parte a construção de um oleoduto e um gasoduto com 800 kilometros cada.
Este projeto executado em condições climatéricas extremas teve a participação de duas dezenas de portugueses trabalhando para a empresa Starstroi ao longo dos últimos quarto anos. Na administração, na engenharia e na construção Portugal deu um contributo ao maior projecto mundial na área do óleo e gás.Agora na hora da despedida, obrigado aos cidadãos russos por tudo. Tenho pena que o governo não seja a imagem dos seus cidadãos.
Devo realçar que durante o tempo que aqui estive nem sempre foi fácil a comunicação com a embaixada portuguesa em Moscovo devido à diferença horária e a diminuta quantidade de pessoas a trabalhar, apesar da disponibilidade e simpatia com que sempre fomos atendidos, acho que a nossa embaixada em Moscovo merece mais atençãoo do nosso país. Com os melhores cumprimentos, Vitor Fernandes".

Portugueses na construção da primeira fábrica de gás liquefeito na Rússia


Recebi um mail de um dos cerca de vinte portugueses (não exagero se lhes chamar heróis) que participaram na construção da primeira fábrica de gás liquefeito na Rússia, projecto mais conhecido por Sakhalin-2. Logo que esse leitor me autorizar a publicação do mail, farei isso com a maior satisfação.

Na mensagem, o leitor chama a minha atenção para eu nada ter escrito sobre esse acontecimento, e tem razão. Eu escrevi para a Agência Lusa, mas nada postei no blog. Aqui fica o texto, não muito "fresco", mas penso que sempre útil.

"O primeiro-ministro nipónico, Taro Aso, e o presidente russo, Dmitri Medvedev, reuniram-se hoje de manhã em Iujno-Sakhalinsk, capital da ilha Sacalina, para inaugurar a primeira fábrica de gás condensado.
Esta é a primeira vez que um dirigente japonês visita esta ilha, cuja parte meridional foi território japonês até ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Na reunião que durou 80 minutos, os dois líderes discutiram várias questões bilaterais, entre elas a disputa territorial das ilhas Curilhas, ao norte de Hokkaido, chamadas pelo Japão de Territórios do Norte. A disputa pela soberania das quatro ilhas - Kunachir, Etorofu, Shikotan e Habomai - é a principal barreira para a assinatura de um tratado de paz entre os dois países desde o fim da guerra.
Moscovo admite a devolução de duas das quatro ilhas em troca da assinatura do tratado de paz entre os dois países, mas Tóquio insiste na devolução das quatro ilhas da cordilheira.
As conversações sobre esta disputa territorial terminaram sem resultados positivos e, por isso, os dois líderes concordaram em “aumentar os esforços para resolver o impasse”.
A visita do primeiro-ministro nipónico ao sul da Ilha da Sacalina foi um sinal de que Tóquio reconhece a soberania russa sob esse território. Alguns políticos e movimentos da direita japonesa reivindicam também a devolução desse território ao Japão.
Porém, esse gesto não foi acompanhado de cedências russas.
“O problema territorial entre a Rússia e o Japão exige uma solução política. Esse problema paira sobre todo o complexo de relações bilaterais. A posição da Rússia que fala de duas ilhas e a nossa sobre as quatro ilhas não permitiram avançar”, constatou Aso.
Não obstante esta forte divergência política, as relações económicas russo-nipónicas desenvolve,-se dinamicamente.
Logo após a reunião, Medvedev e Aso participaram da cerimónia de inauguração da primeira unidade de produção de gás natural liquefeito (GNL) em território russo, que faz parte do projecto de desenvolvimento e exploração de petróleo e gás natural "Sakhalin-2".
O projecto, que tem a participação das empresas japonesas Mitsui & Co. e Mitsubishi Corp., do consórcio anglo-holandês Royal Duch/Shell, vai assegurar 7% das importações anuais de GNL do Japão. Avaliado em 20 mil milhões de dólares, o "Sakhalin-2" emprega 17 mil trabalhadores e é considerado o projecto de investimento internacional mais importante da Rússia, que espera aumentar suas exportações de GNL no mercado asiático.
A nova fábrica, com uma capacidade anual de 9,6 milhões de toneladas de gás, irá fornecer também combustível azul liquidificado para a Coreia do Sul.
Na construção deste nova fábrica participaram cerca de duas dezenas de operários portugueses".

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Absolvidos presumíveis assassinos de Anna Politkovskaia


Os alegados assassinos da conhecida jornalista Anna Politkovskaia foram considerados inocentes por um júri. Antes de relatar o sucedido, gostaria de chamar a atenção para um facto: o fracasso total da investigação, que não conseguiu reunir factos capazes de levar os 12 jurados a tomar outra decisão. Muito barulho foi feito quando da detenção dos alegados criminosos, mas a acusação desmoronou-se como um baralho de cartas.

Por isso, este crime continuará a fazer parte da lista de assassinatos de militantes e jornalistas da oposição russa que ficaram por esclarecer.

"A Procuradoria-Geral da Rússia tenciona recorrer da decisão dos jurados no processo do assassinato da jornalista Anna Politkovskaia.
“Claro que iremos recorrer da decisão devido a erros cometidos durante o julgamento”, declarou aos jornalistas a procuradora Iúlia Safina.
Hoje, os jurados do Tribunal Militar de Moscovo consideraram, por unanimidade, inocentes os três acusados da morte da jornalista russa Anna Politkovskaia.
O júri considera que a investigação não reuniu « elementos suficientes » para provar que os irmãos tchetchenos Djabrail e Ibraguim Makhmudov, bem como Serguei Khadjikurbanov participaram no crime.
« O colégio de jurados considerou que a instrução não conseguiu provar a participação deles no crime », lê-se na decisão dos jurados.
Depois da decisão, o juiz libertou imediatamente os três réus, que foram recebidos com abraços e aplausos pelos numerosos familiares e amigos que os esperavam à saída do tribunal.
« Exigimos ! Precisamos que seja descoberto o verdadeiro assassino, lutaremos por isso ! », exclamou Karina Moskalenko, advogada de defesa dos filhos da jornalista assassinada, depois de ser conhecida a decisão.
A advogada acusou a Procuradoria-Geral da Rússia de ter realizado uma « investigação superficial », não tendo descoberto o « encomendador » e o « executor » do crime.
« Sou apoderado por um sentimento de inacreditável vergonha : qual o nível da investigação realizado se os jurados decidiram por unanimidade considerar os arguidos inocentes ? », interroga-se Vselovod Bogdanov, presidente da União dos Jornalistas da Rússia, ao comentar a decisão.
« Depois da decisão de hoje, posso dizer que o processo de Anna Politkovskaia não ficará encerrado. A principal investigação ainda está por fazer ! », considerou Dmitri Muratov, director do bi-semanário Novaya Gazeta, onde trabalhava Anna Politkovskaia.
« A justiça triunfou ! », declarou Murad Mussaiev, principal advogado de defesa, acrescentando que os arguidos irão exigir do Estado « o pagamento de uma compensação por terem estado tanto tempo detidos.
« A decisão dos jurados pode dar pretexto à comunidade mundial para falar da falta de liberdade de expressão na Rússia », considera Nikolai Ziatkov, director do semanário « Argunenti e fakti ».
« Claro que, no plano político, essa decisão é absolutamente desvantajosa para a Rússia, porque Politkovskaia era realmente um símbolo do jornalismo livre e muitos dos nossos adversários no Ocidente tentam utilizar o seu nome para provar que na Rússia não há liberdade de expressão », declarou ele à agência Ria-Novosti.
Anna Politkovskaia era um dos poucos jornalistas russos que continuava a cobrir o conflito na Tchetchénia e a denunciar os atentados contra os direitos do homem na Rússia.
Jornalista do bi-semanário da oposição Novaia Gazeta, Politkovskaia foi assassinada a tiro no dia 07 de Outubro de 2006 à entrada da sua residência em Moscovo".

Contenda entre Geórgia e Rússia chega à Eurovisão



O conjunto “Stephane & 3G” (na foto), que irá representar a Geórgia no Festival da Canção da Eurovisão, cuja final se realizará na capital russa no mês de maio, vai interpretar uma canção já considerada “anti-russa” pela agência Interfax.
A letra da canção em inglês “We don’t wanna put in” está a ser interpretada como um ataque ao primeiro-ministro Vladimir Putin, podendo ser interpretada como “Nós não queremos Putin”.
A interpretação da canção pode ser vista em http://www.youtube.com/watch?v=t7sm9OZM0l4
A decisão de enviar o grupo “Stephane & 3G” para representar a Geórgia no Concurso da Eurovisão foi tomada ontem à noite, após a realização de um concurso interno.
“Considero que está canção causará impressão em Moscovo, porque, além de conter mensagens políticas particulares, soa bem ao ouvido”, declarou o presidente do júri, o produtor britânico Steven Bud.
A final do Festival da Canção da Eurovisão terá lugar a 16 de Maio em Moscovo.
Em Agosto passado, Moscovo enviou tropas suas para a Geórgia a pretexto de proteger os cidadãos russos residentes na Ossétia do Sul, região separatista georgiana. Após cinco dias de combates, tropas russas ocuparam não só a Ossétia do Sul e Abkházia, outra república separatista georgiana, bem como parcelas do território da Geórgia propriamente dito.
Em Setembro, o Kremlin reconheceu a independência desses dois territórios.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Al-Qaeda aperfeiçoou-se e tem centenas de réplicas


Longe de estar mais fraca, a organização terrorista internacional Al-Qaeda aperfeiçoou-se e centenas de células do mesmo género foram criadas no mundo, considera Anatoli Safonov, representante especial do Presidente russo para a cooperação internacional na luta contra o terrorismo e o crime tansnacional.
“Nós dissemos que a Al-Qaeda tinha enfraquecido financeiramente; de facto, teve lugar uma mudança de gerações, mas isso levou não à perda de direcção, mas a uma reforma, ao aperfeiçoamento da organização. E hoje constatamos que ela não só não enfraqueceu, mas, pelo contrário, adaptou-se melhor à situação actual no mundo”, explicou Safonov, numa conferência de imprensa realizada na terça-feira.
“Na órbita da Al-Qaeda apareceram centenas de estruturas orientadas para ela, mas sem manter ligações com ela”, assinalou ele.
Segundo Safonov, essa organização terrorista sofreu um reves no Iraque o no Líbano, mas não se trata de uma derrota estratégica.
“Essa derrota foi devida a erros de cálculo cometidos pela direcção da Al-Qaeda”, considerou.
Anatoli Safonov reconheceu que representantes da Al-Qaeda continuam a operar no território do Cáucaso do Norte.
“Membros de organizações terroristas internacionais, nomeadamente da Al-Qaeda, continuam a operar no Cáucaso do Norte. Eles não são centenas, mas continuam presentes nessa região onde sofreram sérias perdas sem, todavia, serem completamente erradicados”, explicou.
Em conformidade com o assessor de Medvedev para a luta contra o terrorismo, algumas organizações não governamentais estrangeiras apoiam terroristas por todos os meios, “no plano financeiro e ideológico, entre outros”.
Anatoli Safonov declarou também que a rede terrorista internacional envia jovens para centros de ensino europeus para prepará-los como terroristas nucleares.
“A Al-Qaeda selecciona jovens e envia-os para as principais universidades europeias para que se formem como físicos, químicos e biólogos. Colegas nossos europeus afirmam ter descoberto pistas da Al-Qaeda em várias universidades da Europa”, sublinhou.

Recentemente, falei com um conhecido político do Cáucaso do Norte que mostrou-se convencido de que, a partir de Abril ou Maio, ou seja, com a chegada da Primavera, a guerra islamita desencadeára fortes operações no Cáucaso do Norte, principalmente na Inguchétia, tendo sublinhando que na região estão a ser acumuladas grandes quantidades de armamento.

Por enquanto, a guerrilha realiza, quase diariamente, pequenas operações contra forças policiais russas, isto porque, durante o Inverno, tem pouco poder de manobra.

Guerra verbal pode levar à expulsão de embaixador russo


O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia preveniu, na terça-feira, Victor Tchernomirdin, embaixador da Rússia nesse país, que poderá ser considerado “persona non grata” devido aos seus “comentários e declarações não diplomáticas sobre a Ucrânia e os seus dirigentes”.
Segundo o centro de imprensa do MNE da Ucrânia, Tchernomirdin ouviu do chefe da diplomacia ucraniana, Vladimir Ogrizko, um protesto contra “as avaliações e comentários adversários e extremamente não diplomáticos sobre a Ucrânia e a sua direcção”.
Victor Tchernomirdin, antigo primeiro-ministro russo e actual embaixador em Kiev, é conhecido pelas suas declarações extravagantes.
Durante a chamada “crise do gás” entre a Rússia e a Ucrânia, Tchernomirdin, ucraniano de origem, comentou a propósito de Kiev não pretender ceder o controlo do sistema de transporte ucraniano a Moscovo. “Eles (ucranianos) estão muito perto de ficar sozinhos com o seu sistema de distribuição de gás, com sucata enterrada”.
Quanto às declarações dos dirigentes ucranianos sobre que a Rússia não tem gás para fornecer à Europa, Tchernomirdin afirmou: “Quem diz isso? Eles têm cérebros pequenos se dizem isso! Não olhem para os bolsos alheios, não metam o nariz onde não entendem nada... Tudo o que temos é nosso. Temos gás garantido nos próximos cem anos”.

Moscovo já prometeu responder se Tchernomirdin for expulso da Ucrânia.

Na capital russa, alguns analistas consideram que Kiev está a provocar mais "uma tempestade num copo de água", chamando a atenção para o facto de Tchernomirdin não ser diplomata de carreira e de ser conhecido pelas suas tiradas extravangantes, que não devem ser interpretadas como insultuosas.

Esse político russo, quando era primeiro-ministro, pronunciou uma frase que fez história: "Queríamos fazer da melhor forma, mas o resultado é sempre o mesmo".

Outros são os que consideram que um embaixador deve escolher melhor as declarações que faz.

Num período de relações bilaterais complicado, não seria demais exigir dos diplomatas mais cuidado com a língua.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Washington passa uma das "batatas quentes" para Moscovo


A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton começou a sua actividade diplomática pela Ásia, o que significa que ficou para trás o tempo em que Moscovo estava no primeiro lugar das preocupações de Washington.

Todavia, as relações entre os Estados Unidos e a Rússia continuarão a ser muito importantes, pois delas dependerá, significativamente, o estado das coisas na Europa.

A julgar pelas primeiras declarações dos membros da Administração de Barack Obama, Washington muda de táctica no campo internacional: a teimosia e a arrogância da política externa de George W.Bush cedem lugar ao diálogo e a uma certa abertura. Porém, no que diz respeito às relações com a Rússia, o diálogo não deverá ser muito fácil.

No fim da semana passada, num artigo que escrevi para a Agência Lusa sobre o primeiro encontro de Medvedev e Obama, que deverá ter lugar no início de Abril, cito uma fonte diplomática em Moscovo, que afirmou: “Por exemplo, Obama manifestou a vontade de reduzir os arsenais nucleares da Rússia e dos Estados Unidos, mas o Kremlin só estará disposto a analisar essa questão se no processo de redução de armamentos nucleares forem incluídas outras potências atómicas como a China, Grã-Bretanha, França, Paquistão e Índia”.

A política dos Estados Unidos em relação à Rússia também mudou ao transferirem para as mãos de Moscovo uma das "batatas mais quentes": a solução do "problema nuclear iraniano".

Um diálogo mais profundo entre a Rússia e os Estados Unidos só poderá ter início quando houver uma grande confiança no carácter pacífico do programa nuclear iraniano, declarou, na segunda-feira, Serguei Riabkov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
“Logo que se torne evidente um avanço no sentido do restabelecimento da confiança total no carácter pacífico do programa nuclear iraniano, abrir-se-ão possibilidades para o maior aprofundamento da conversa sobre as perspectivas da cooperação na esfera da defesa antimíssil”, declarou o diplomata.
“Nós estudamos os sinais da administração dos Estados Unidos e propusemos, da nossa parte, as formas como cooperar na esfera da defesa antimíssil, o que consideramos ser possível fazer no quadro dessa cooperação”, acrescentou.
“Confirmamos que, em relação ao programa nuclear iraniano, não temos elementos que possam ser interpretados ou mostrem o seu endurecimento”, concluiu o diplomata.
A Administração de George W.Bush tinha decido instalar um sistema de defesa antimíssil na Polónia e na República Checa para defender a Europa de países párias, como, por exemplo, o Irão.
Porém, Moscovo viu nessa intenção uma ameaça à sua segurança e prometeu responder com a instação de mísseis na Região de Kanininegrado.
Barack Obama prometeu reanalisar a posição norte-americana e Washington aceitou envolver a Rússia na solução deste problema.
Na segunda-feira, o diário russo Vremia Novostei tinha noticiado que “Washington prometera renunciar à instalação do sistema antimíssil se a Rússia convencesse o Irão a renunciar ao seu programa nuclear”.

Hoje, terça-feira, o diário Kommersant noticia que Moscovo está a atrasar o fornecimento ao Irão dos sistemas de defesa antimíssil S-300 para não estragar o início do diálogo entre Medvedev e Obama.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

O primeiro índio no Kremlin


O Presidente russo, Dmitri Medvedev, manifestou ao seu homólogo boliviano, Evo Morales, que se encontra na capital russa em visita oficial, vontade em cooperar com a Bolívia na luta contra o narcotráfico.
“A Rússia considera importante a coordenação das relações com a Bolívia no campo internacional. Claro que, nalguns casos, das nossas posições conjuntas depende a solução de grandes tarefas globais, estamos prontos para desenvolver esses contactos”, declarou o Presidente Medvedev, ao receber, hoje, Evo Morales no Kremlin.
“Nomeadamente, a Rússia está pronta a cooperar com a Bolívia em questões como a luta contra o narcotráfico e da elaboração de abordagens comuns face à luta contra as alterações climatéricas”, precisou.
Evo Morales não esconde o seu descontentamento face às actividades dos Estados Unidos no campo do combate ao tráfico de drogas na América Latina e defende a sua substuição pela Rússia nesse campo.

Medvedev defende que a Rússia e a Bolívia devem incrementar a troca de mercadorias através do aumento de contactos bilateriais no campo da energia, das indústrias mineira e técnico-militar,
“Infelizmente, por enquanto, o nível do comércio bilateral continua a não ser significativo, mas, não obstante, considero que seremos capazes de dar um impulso complementar, durante a sua visita, em diferentes áreas”, começou Medvedev.
“Podemos avançar nas questões energéticas, na cooperação na esfera mineira e no campo da agricultura. Podemos voltar a uma série de projectos do passado”, precisou.
“Ambos os presidentes reconhecem os êxitos conseguidos no campo da cooperação energética e encarregaram os respectivos ministros de, em breve, assinarem um acordo-quadro sobre a integração na cooperação na esfera energética com vista a utilizar os recursos energéticos nos interesses dos Estados”, lê-se na declaração conjunta de Medvedev e Morales.

Em 2008, as trocas comerciais entre a Rússia e a Bolívia atingiram os 5,5 milhões de dólares.
O dirigente russo anunciou também que a a cooperação técnico-militar entre a Rússia e a Bolívia irá ser “uma direcção importantíssima”, sublinhando que o seu país irá fornecer “um grande número de helicópteros” à Bolívia.
“Esperamos que, nos tempos mais próximos, comece a realização do primeiro grande contracto de fornecimento de helicópteros à Bolívia”, declarou Medvedev, na conferência de imprensa realizada após as conversações.
“E estamos prontos a realizar conversações nesta área no futuro”, acrescentou.
Viatcheslav, Davidenko, porta-voz do consórcio Rosoboronexport, reconheceu que a Bolívia está interessada em adquirir armamentos russos, nomeadamente helicópteros Mi-17B-5.
Evo Morales, antes da visita a Moscovo, manifestou interesse nesses helicópteros, que poderão ser usados para destruir plantações ilegais de coca na Bolívia.
Mikhail Dmitriev, director do Serviço Federal da Rússia para Cooperação Técnico-Militar, não excluiu, em declarações à imprensa, a possibilidade de Moscovo vir a conceder à Bolívia umm empréstimo para adquirir armamentos russos.
“É uma questão que está em análise”, declarou.
O Presidente da Rússia sublinhou também a importância do incremento de contactos no campo da ajuda humanitária e ensino, acrescentando que “na URSS foramaram-se numerosos especialistas bolivianos”.
Evo Morales foi o primeiro chefe de Estado de origem índia a visitar a Rússia e mostrou-se supreendido com a recepção.
“Eu pensava que um índio não fosse alvo de semelhante recepção na Rússia, estou-lhe muito grato por isso”, reconheceu o dirigente boliviano na conferência de imprensa.
Dirigindo-se a Medvedev, Morales acrescentou: “Nunca imaginei que uma grande potência como a Rússia recebesse a mim, que, frequentemente, é chamado de traficante e terrorista”.
“A Rússia é uma potência mundial e tem importância na consecução do mundo multipolar. Apoiamos a disposição pacifista da Rússia”, sublinhou.
“O regresso da Rússia à América Latina é de extrema importância”, rematou Morales.

domingo, fevereiro 15, 2009

Foi há vinte anos que as tropas soviéticas retiraram


No dia 15 de Fevereiro de 1989, os últimos destacamentos militares soviéticos, sob o comando do general Boris Gromov, atravessaram a ponte sobre o rio Amu Dária, que separava a União Soviética e o Afeganistão, pondo assim fim a uma intervenção militar de nove anos.
Centenas de veteranos da “guerra do Afeganistão” desfilaram hoje nas ruas centrais da capital russa para assinalar essa data, tendo o cortejo terminado com a deposição de flores na campa do Soldado Desconhecido e do monumento ao marechal soviético, Gueorgui Jukov.
Os antigos combatentes, muitos deles portando as numerosas ordens e medalhas com que foram condecorados por feitos militares, concentraram-se também junto do monumento “aos combatentes internacionalistas” (como são conhecidos os soldados e oficiais soviéticos que combateram no Afeganistão, Angola, Moçambique, Etiópia, Somália, etc.), situado na Colina das Vénias de Moscovo, onde se encontra o Museu da Grande Guerra Pátria (1941-1945) e uma importante exposição de material bélico.
A partir de hoje, os visitantes da exposição poderão ver também o veículo de infantaria soviética BMP-1, muito utilizado no Afeganistão.
Segundo o movimento de veteranos “Irmandade de Combate”, “pela “guerra do Afeganistão”, passaram mais de 700 mil soviéticos, dos quais cerca de 15 mil tombaram em combate”. As baixas entre a população e a ressitência afegãs são calculadas em mais de cem mil pessoas.
Numa conferência de imprensa realizada na véspera, o general Gromov considerou que a intervenção militar soviética no Afeganistão não foi uma ocupação, mas um episódio da luta contra o terrorismo internacional.
“As nossas tropas não foram ocupantes. Nós não combatemos contra o povo do Afeganistão, mas cortavamos as vias de tráfico de drogas, destruíamos caravanas com armas, terroristas, guardavamos caminhos e oleodutos”, justificou o general.
“Na realidade, enfrentámos o golpe dos terroristas que, hoje, transbordou para além das fronteiras do Afeganistão”, concluiu.
As cerimónias terminam à noite com um concerto no Palácio dos Congressos do Kremlin, onde será também exibido um filme sobre os “combatentes internacionalistas”.
A imprensa russa compara a intervenção militar soviética à actual operação dos Estados Unidos e da NATO no Afeganistão, sublinhando que os países ocidentais estão a cometer o mesmo erro da URSS.
“Então, a única forma de esmagar os guerrilheiros consistia numa operação militar contra as suas bases no território do Paquistão, mas semelhante alastramento da guerra era impossível”, considera Ilia Kramnik, analista militar da agência Ria-Novosti.
“O que se passa agora? Praticamente a mesma coisa. Os Estados Unidos lutam contra destacamentos da guerrilha que recebem apoio de fora, do Irão e do Paquistão, mas não têm possibilidade de destruir essas bases externas”, sublinha Kramnik.
Segundo esse analista, a derrota norte-americana poderá ter consequências negativas não só para Washington, mas também para a Rússia, pois esta ver-se-á novamente obrigada a ir em ajuda dos seus aliados na Ásia Central a fim de travar a onda fundamentalista.

Queda de nevão em Moscovo (da minha janela)

Os leitores assíduos do meu blogue, e principalmente aqueles que já passaram pelo meu apartamento em Moscovo, sabem que a vista que tenho da minha janela pouco ou nada tem de agradável. Já lá vai o tempo em que, quando fazia bom tempo, via da minha janela as torres da Universidade de Moscovo ou a torre da televisão russa.
Publiquei estas fotos tiradas agora mesmo, durante um forte nevão que cai em Moscovo. Sei que para os portugueses isso deixou de ser novidade, pois o último Inverno foi "duramente frio" e "com muita neve", mas é agradável para os brasileiros em época de verão.







Música portuguesa em São Petersburgo



A Orquestra Sinfónica Kapella de São Petersburgo, sob a direcção do jovem maestro português João Tiago Santos (na foto), interpretou, ontem à noite, obras de compositores lusos para uma sala quase cheia, com mais de 700 espectadores.
“É uma experiência única. Um público exigente quase enche uma sala de espectáculos de São Petersburgo num concerto onde são intrerpretadas obras de compositores de um país tão pouco conhecido como Portugal”, declarou por telefone à Lusa o maestro João Tiago Santos.
A orquestra interpretou “Modos de Expressão Ilimitada”, de Eurico Carrapatoso; “Abertura D.Inês de Castro”, de Viana da Motta, e “Sinfonia n.1 em ré menor, op. 08, “Aos heróis e másrtires da última guerra mundial””, de Joly Braga Santos.
“Foi um excelente concerto. A sala de espectáculos estava quase cheia, tinha mais de setecentas pessoas, o que é muito bom”, considerou João Mendonça, leitor do Instituto de Camões em Moscovo, que se deslocou a São Petersburgo especialmente para assistir ao concerto.
Depois de cantar durante oito anos no Coro da Gulbenkian e de ocupar o cargo de maestro-assistente da Orquestra do Algarve, o maestro João Tiago ingressou, em 2004, na Faculdade de Direcção de Orquestra do Conservatório de São Petersburgo.Dirigiu a Orquestra do Teatro de Ópera do Conservatório de São Petersburgo e a Orquestra Sinfónica de Tomsk, na Sibéria.
“No início, quando comecei a ensaiar as obras, os músicos da orquestra, que são mais de 80, olhavam com desconfiança, porque não tinham ideia do que iam tocar, mas foram gostando à medida que ensaiavamos”, acrescentou o maestro.
“Eles não estavam à espera que em Portugal se compusesse música clássica de tão alto valor. Foi uma surpresa muito agradável”, frisou João Tiago Santos.
“Todas as três composições foram recebidas muito bem pelo público, que não poupou aplausos”, acrescentou João Mendonça.
O concerto da Orquestra Sinfónica Kapella de São Petersburgo foi patrocionado pelo Instituto de Camões.
Nos próximos dias 21 e 22 de Fevereiro, em Moscovo, a soprano portuguesa Lara Martins interpretará a “Ária de Nicea” da Ópera Testoride Argonauta, de João de Sousa Carvalho, bem como obras de Anton Arensky e Franz Schubert.

sábado, fevereiro 14, 2009

"Ou eu, ou Putin!"




No dia dos namorados, a cidade de Moscovo foi atingida por um forte nevão, transformando o trânsito num autêntico inferno. Em poucas horas, a capital russa ficou coberta por espesso manto branco.
Não obstante o dia não estar para grandes manifestações, quinze jovens do movimento juvenil da oposição “Nós” manifestaram-se no centro da capital russa contra a política dos actuais dirigentes russos, apelando às restantes jovens e mulheres russas que recusem fazer sexo com namorados e maridos que apoiem Vladimir Putin e Dmitri Medvedev.
“Ou eu, ou Putin!”, “O lugar de Medvedev (apelido do Presidente russo que significa urso) não é a cama!”, “Não dormimos com putinistas!”, lia-se em cartazes transportados por jovens.
“São poucas, mas o impacto está ser grande! Trata-se de uma iniciativa original”, declarou à Lusa Roman Dobrokhotov, dirigente da organização “Nós”.
“Já distribuímos todos os emblemas onde estava escrito: “Não dormimos com putinistas!”, eram mais de trezentos. Até os polícias que mantêm a ordem pediram emblemas para oferecer às namoradas e esposas”, acrescentou Dobrokhotov.
De súbito, do local onde se realizava a manifestação aproximou-se um grupo de jovens empunhando balões cor de rosa e um cartaz onde se lia: “Putin é o homem dos nossos sonhos!”, mas a polícia aconselhou-as a dispersar porque essa ajuntamento não tinha tido o consentimento das autoridades.
“Há tanto anos que andamos na política e esta é a primeira vez em que a polícia não cria problemas à oposição. Não pedimos autorização para realizar a nossa manifestação, mas cumprimos o que está previsto na Constituição e informamos as autoridades do que estavamos a organizar”, explicou Dobrokhotov à Lusa, acrescentando que o grupo de apoio a Putin foi aconselhado a retirar-se, porque não tinha avisado a polícia.
Segundo o dirigente da organização juvenil, esta mudança de atitude da polícia deve-se aos contactos estabelecidos entre as autoridades e a oposição.
“Reunimo-nos com os chefes da polícia de Moscovo recentemente e explicámos que a Constituição não exige que a oposição peça autorização para se manifestar, mas apenas comunique. Foi o que fizemos hoje e tudo correu muito bem!”.
Romam Dobrokhotov recordou que as jovens foram buscar a ideia da manifestação à comédia Lisístrata, escrita pelo grego Aristófanes em 411 a.C. Na época em que foi escrita, Atenas atravessava um período difícil da sua história. Abandonados pelos seus aliados, os atenienses tinham ao redor das muralhas de suas cidades as tropas de Esparta. Essa luta fratricida enfraquecia a Grécia, pondo-a à mercê dos Persas e Medos.
A peça de Aristófanes, faz uma crítica severa a essa guerra, envolvendo as mulheres das cidades gregas na Guerra do Peloponeso, lideradas pela ateniense Lisístrata, que decidem instituir uma greve de sexo até que seus maridos parem a luta e estabeleçam a paz. No final, graças às mulheres, as duas cidades celebram a paz.

Contributo para a História (Portugal-Rússia) 5


Por outro lado, quando estudantes russos desejaram entrar na casa do poeta para lhe prestarem a sua última homenagem, Iúlia Stroganova mandou chamar a polícia. Sendo ela e o marido padrinhos de casamento de Georges d’Anthés com Ekaterina Gontcharova, cunhada de Puschkin, optaram por ficar do lado do oficial francês e da sua esposa depois do duelo. Por exemplo, esforçaram-se por difundir boatos sobre a posição do czar face ao duelo: “Os Nesselrodi [influente família nobre russo de origem alemã] e os Stroganov esforçaram-se por difundir em toda a capital a notícia de que o czar tinha condenado Puschkin e olhado com condescendência para as acções do assassino”.
A posição de Idália é que foi sempre clara: demonstrou solidariedade com Georges d’Anthés. Quando este se encontrava detido a aguardar a expulsão da Rússia, devido ao assassinato do poeta, a neta da Marquesa de Alorna escrevia-lhe para a prisão: “Meu pobre amigo, quando penso na tua detenção, o meu coração começa a bater mais forte. Não sei o que daria para estar um pouco com o senhor a fim de conversar; parece-me que tudo o que se passa é um sonho, mas um sonho mau, para não dizer pesadelo, visto que fiquei privada de vos ver... Adeus, meu maravilhoso e querido prisioneiro, não perco a esperança de vos ver antes da vossa partida. Todo o meu coração é vosso”.
O oficial francês respondeu a Idália, enviando-lhe um anel e uma bracelete, o que a levou a escrever-lhe mais uma missiva: “Você possui o dom de me fazer chorar, mas, desta vez, as lágrimas aliviam-me, porque a sua prenda tocou-me profundamente, nunca mais sairão da minha mão; mas estou ofendida convosco, meu amigo, porque pensa que basta partir para que eu o esqueça? Isso mostra que me conhece mal, porque, se amo, faço-o fortemente e para sempre”.
Idália alegra-se com os fracassos na divulgação das obras do poeta, publicadas após o duelo mortal: “O grande afinco na difusão das obras do defunto dimunuiu muito; em vez de terem rendido quinhentos mil rublos, não renderam sequer duzentos mil”.
E nem sequer o andar dos anos fez Idália mudar de sentimentos. Quando idosa, e a residir em Odessa, cidade situada no Sul do Império Russo, continuava a manter vivo o ódio ao poeta. Piotr Barteniov encontrou-se então com ela e registou: “Bastou-lhe saber que escrevo sobre Puschkin para ela não desejar conhecer-me. Ela odiava Puschkin... É ridículo e vergonhoso que, ainda hoje, anciã, não tenha vergonha de amaldiçoar Puschkin. Diz que se sente ofendida por terem erigido uma estátua de Puschkin em Odessa e que tenciona cuspir nela...”.
FIM

Moscovo e Ancara assinam novo acordo de cooperação estratégica


Ontem, o Presidente da Turquia encontrou-se com os dirigentes russos em Moscovo. Conversações muito importantes para a política externa e segurança regional. Por isso, aqui deixo o artigo que escrevi ontem para a Agência Lusa.

Quero apenas assinalar que Abdullah Gul se encontrou com Putin, mas os acontecimentos prinncipais tiveram lugar no Kremlin:

"Os Presidentes da Rússia e da Turquia, Dmitri Medvedev e Abdullah Gul, assinaram uma declaração conjunta sobre “o avanço para uma nova etapa das relações e para o posterior aprofundamento da amizade e parceria”.
“Não se trata simplesmente de um papel, mas sim de um documento que será a base da cooperação na esfera da política externa, das relações económicas e na esfera humanitária”, sublinhou Medvedev, na conferência de imprensa realizada após as conversações com o seu homólogo turco.
Os dirigentes dos dois países não escondiam o optimismo quanto ao futuro das relações bilaterais.
“As nossas relações económicas são verdadeiramente poderosas, mostram um dinamismo económico positivo, que, espero, será conservado não obstante as dificuldades do período actual”declarou Medvedev.
“As bases das nossas relações económicas são muito fortes, constituídas por projectos como a “Corrente Azul”, cooperamos também noutras áreas: energia eléctrica, nuclear, no campo da cooperação industrial”, acrescentou.
“Corrente Azul” é o nome do projecto que prevê a construção de um gasoduto que trasnsportará “combustível azul” da Ásia Central, através do Mar Negro e da Turquia, para a Europa.
“Este é um dos projectos que visa concorrer com o gasoduto Nabucco (pipeline que deverá transportar gás da Ásia Central para a Europa, ladeando o território russo). Moscovo tem desenvolvido grandes esforços para levar Ancara a apostar o “Corrente Azul” em detrimento do “Nabucco””, declarou à Lusa uma fonte diplomática na capital russa.
Medvedev recordou que as trocas comerciais entre os dois países aumentaram 35 vezes nos últimos dez anos.
A fim de aumentar ainda mais o comércio bilateral, Medvedev e Gul prometeram simplificar ainda mais o processo de concessão de vistos para os homens de negócios.
Serguei Schmatko, ministro da Energia da Rússia, que também participou nas conversações, declarou aos jornalistas que Moscovo poderá assinar contratos no campo da produção de energia, incluindo a construção de quatro reactores nucleares, no valor de mais de 60 mil milhões de dólares.
A declaração conjunta prevê também a cooperação russo-turca na manutenção da paz e da estabilidade na região do Mar Negro e do Cáucaso, tendo Medvedev sublinhado que os países dessa região podem resolver os problemas sem a participação de “potências externas”.
“A crise de Agosto (guerra entre a Rússia e a Geórgia) mostrou a importância da coordenação de todos os países da região quando do aparecimento de ameaças e mostrou também que somos capazes de resolver semelhantes problemas sozinhos, sem a participação de potências de fora”, precisou o dirigente russo.
Medvedev manifestou apoio à proposta da Turquia de criação de uma plataforma de estabilidade e cooperação no Cáucaso.
“A plataforma por nós proposta será um campo regional indispensável para o diálogo entre as partes interessadas. Nesta parte do planeta há muitos conflitos congelados e seria incorrecto mantê-los assim durante séculos”, acrescentou Gul.
“O Kremlin não se esquece que a Turquia não tem grandes hipóteses de aderir à União Europeia e tenta criar condições para que Ancara se integre em estruturas regionais”, comentou uma fonte diplomática à Lusa".

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Rublo: moeda de reserva regional?


Os dirigentes russos não se cansam de apregoar que o rublo, moeda nacional da Rússia, pode e deve transformar-se numa moeda de reserva regional, mas as ambições são “arrefecidas” pela crise económica e financeira.
Há um ano atrás, dirigentes e cidadãos russos olhavam com optimismo para o futuro. Em 2007, o Produto Interno Bruto russo conhecera um crescimento recorde de 08,1pc e os prognósticos para 2008 eram de 07,6 pc, o que permitia acreditar na promessa do primeiro-ministro Bladimir Putin de duplicar o PIB até 2010.
O alto preço dos combustíveis no mercado mundial, o aumento em flecha dos investimentos estrangeiros na economia russa o reforço do rublo em relação ao dólar levaram os dirigentes russos a defender a transformação da moeda nacional numa divisa de reserva, convertível.
“A partir das altas tribunas, a direcção do país começou a falar da transformação do rublo numa divisa de reserva, por enquanto regional, mas claramente com planos posteriores mais ambiciosos”, recorda a analista económica Ekaterina Mereminskaia.
Hugo Chavez e Daniel Ortega, presidentes da Venezuela e Nicarágua, defenderam, em Dezembro passado, a transformação do rublo russo na moeda de reserva da Alternativa Bolivariana para a América.
Não obstante as declarações de Vladimir Putin e de outros dirigentes russos de que a Rússia era uma “ilha de estabilidade”, de que “o país não será atingido pela crise”, os investidores estrangeiros começaram a debandar do mercado russo, a produção desceu abruptamente e o rublo entrou numa perigosa queda.
Porém, no início de Fevereiro, Putin voltou a defender a transformação do rublo em moeda de reserva pelo menos no interior da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), organização que reúne 11 das 15 antigas repúblicas da URSS.
Ele assinalou, nomeadamente, que “90pc das mercadorias russas exportadas para a Bielorrússia são pagas em rublos e 45pc das importadas”.
Além disso, Moscovo defende que os combustíveis russos podem ser vendidos em rublos aos países estrangeiros, existindo já contratos assinados com a Bielorrússia, o Cazaquistão e outros países da CEI.
No entanto, os analistas, não pondo de parte a possibilidade de o rublo se vir a tornar no “dólar da CEI”, consideram que isso não está para breve.
“Claro que, potencialmente, o rublo se pode transformar numa divisa de reserva! Mas tomemos como exemplo a Ucrânia, um forte parceiro comercial nosso... Aí, a grivna (moeda nacional ucraniana) perdeu, num curto espaço de tempo, 2/3 do seu valor em relação ao dólar, o rublo perdeu 1/3. Como será possível estabelecer um câmbio fiável entre essas moedas se não se sabe o que irá acontecer com elas amanhã?”, pergunta Andrei Netchaev, antigo ministro da Economia da Rússia e actual presidente da “Corporação Financeira da Rússia”, em declarações aos jornalistas.
O economista kazaque Dossim Satpaev, director do “Grupo de Avaliação de Riscos”, chama a atenção para outros obstáculos.
“Em muitos países da CEI, nomeadamente da Ásia Central, há desconfiança em relação à Rússia. Todos vêem que a Rússia tenta reforçar a sua influência, reforçar as suas posições, e eles receiam que, ao ao avançar essa ideia, a Rússia simplesmente quer impôr o seu domínio económico”, considera ele.
“Além disso, embora já tenham passado 17 anos da desintegração da URSS, muitos ainda recordam como a Rússia expulsou esses países da zona do rublo”, acrescentou.
“Para que o rublo seja visto como o dólara ou o euro, é preciso percorrer um longo caminho... Hoje, essa questão precisa ainda de ser bem estudada”, considera Karim Massimov, primeiro-ministro do Cazaquestão.