sábado, setembro 30, 2006

Geórgia mantém em prisão preventiva oficiais russos


Ameaças de Moscovo a Tbilissi sobem de tom. Aliança Atlântica pede moderação aos dois países cujos laços se deterioraram

O Tribunal de Tbilissi decidiu ontem manter em prisão preventiva, durante 60 dias, quatro oficiais russos e dez cidadãos georgianos. Os primeiros são acusados de espionagem e os segundos de "traição à pátria".
Estas decisões irão provocar novas reacções e sanções da parte do Kremlin, que exige a "libertação imediata" dos seus militares e considera estar a ser alvo de uma "grave provocação". O ministro georgiano do Interior, Vano Merabichvili, acusou Moscovo de "concentrar tropas junto da fronteira com a Geórgia e de preparar manobras militares de grande envergadura na região".
Segundo as autoridades de Tbilissi, os militares russos são agentes do Serviço de Informação Militar (GRU) e recolhiam, com a ajuda de cidadãos georgianos, informações "sobre o programa de cooperação da Geórgia, a situação da segurança energética, os partidos da oposição, a importação de armamento e as comunicações férreas e marítimas".
A justiça georgiana libertou um quinto militar russo detido, por se tratar de um soldado profissional que trabalhava como condutor dos oficiais russos.
A Rússia apelou às organizações internacionais para que travem a Geórgia e lançou novas ameaças. Moscovo apresentou no Conselho de Segurança das Nacões Unidas um documento em que acusa o Governo de Tbilissi de violar as resoluções da ONU e os acordos sobre as regiões separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul.
Moscovo chamou também o seu embaixador em Tbilissi, Viatcheslav Kovalenko, e retirou, em dois aviões, 84 familiares de diplomatas e militares russos que trabalham na Geórgia. Kovalenko declarou, antes da partida, que só regressará depois da libertação dos oficiais russos.

Fora dos prazos

O general Andrei Popov, comandante das tropas russas estacionadas na Transcaucásia (Geórgia, Arménia e Azerbaijão), declarou que a detenção dos seus oficiais "torna problemática a retirada das tropas russas estacionadas na Geórgia nos prazos estabelecidos", ou seja, até finais de 2007.
Numa conferência de imprensa depois da cimeira NATO-Rússia, que ontem terminou na Eslovénia, Serguei Ivanov, ministro russo da Defesa, acusou os "novos países da NATO" de venda ilegal de armas à Geórgia. "Não os enumerarei em público, mas na NATO são conhecidos como o grupo de "novos países"", declarou Ivanov numa alusão clara à Estónia, Letónia, Lituânia, Bulgária, Roménia, Eslováquia e Eslovénia, que ingressaram na Aliança em 2004.
Ivanov acrescentou que aqueles países "violam as leis internacionais" e "desacreditam os certificados de venda de armas", assegurando também que os ministros da Defesa dos países "sérios" da NATO estão plenamente de acordo neste ponto.

Direito soberano

Este mês, a Aliança Atlântica decidiu dar início a um "diálogo intenso" com a Geórgia, um passo importante para uma eventual futura integração. O ministro russo comentou que "é um direito soberano da Geórgia decidir se quer ser ou não membro da NATO", mas acrescentou: "Se a Geórgia aderir à NATO, enviaremos duas divisões para a fronteira com esse país para garantir a nossa segurança."
O secretário-geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer, não respondeu publicamente às acusações de Ivanov, mas apelou à "moderação" de ambas as partes do conflito, por enquanto verbal.
Embora tenha assinalado que o conflito "é um assunto bilateral entre a Rússia e a Geórgia em que a NATO não participa", o secretário-geral declarou que um membro da sua equipa conversou com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Geórgia.
O apelo da Aliança não deverá, porém, ter reflexos imediatos e, depois da decisão do Tribunal de Tbilissi, espera-se que o Kremlin aprove novas sanções contra a Geórgia, que podem ir desde o aumento do bloqueio económico até à prisão e expulsão de trabalhadores georgianos, cerca de 500 mil, do território russo.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Conflito com raízes profundas



Depois do fim da União Soviética, as relações entre Moscovo e Tbilissi nunca pontuaram pela normalidade, porque os governos dos dois países olham de forma radicalmente diferente para o lugar da Rússia e da Geórgia no mundo. Os dirigentes georgianos nunca esconderam a vontade de aproximar o seu país da NATO e da União Europeia. O Kremlin acha-se no direito de impedir esse processo e apoia a Abkházia e a Ossétia do Sul, regiões separatistas da Geórgia, a fim de complicar a acção do Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, que jurou restabelecer a integridade teritorial quando foi eleito.
As conversações com vista à normalização da situação em torno da Abkházia e Ossétia do Sul, no âmbito da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE), decorrem há 15 anos, mas não surtem efeito. Por isso, Saakachvili recorre a acções como a detenção de presumíveis espiões russos para chamar a atenção da comunidade mundial para este grave problema. Moscovo responde concedendo cidadania russa à quase totalidade da população da Abkházia e Ossétia do Sul, que os georgianos consideram uma "ocupação à socapa"; proíbe a entrada de vinhos e águas minerais georgianas no seu território, deixa de passar vistos aos georgianos que querem visitar ou trabalhar na Rússia.

Crise de espiões leva Moscovo a retirar embaixador da Geórgia




A detenção de treze militares russos enfureceu o Kremlin, já indignado com a aproximação de Tbilissi aos EUA e à NATO

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia chamou ontem para consultas o seu embaixador em Tbilissi devido a um conflito diplomático desencadeado pela detenção, pela polícia georgiana, de treze militares russos, acusados de "espionagem". O Kremlin ordenou também a "retirada parcial do pessoal da missão diplomática e dos membros das suas famílias" e "recomenda aos cidadãos russos que se abstenham de viajar para a Geórgia devido à situação criada".
Esta crise grave nas relações entre os dois países, depois de Tblissi ter começado a dar passos de aproximação em relação aos EUA e à NATO, começou na quarta-feira, quando as autoridades georgianas anunciaram a detenção de seis agentes do Serviço de Informação Militar (GRU) da Rússia "por espionagem". Foram também detidos cerca de uma dezena de cidadãos georgianos."Durante meses os oficiais russos participaram em actividades de espionagem e preparavam provocações, pelo que decidimos actuar com diligência para os neutralizar", justificou Vano Merabichvili, ministro do Interior de Tbilissi. O grupo recolhia informação "sobre o programa de cooperação da Geórgia com a NATO, a situação da segurança energética, os partidos da oposição, a importação de armamento e as comunicações ferroviárias e navais", acrescentou.
A polícia georgiana montou ainda um cordão de segurança em torno do quartel-general das tropas na Transcaucásia, em Tbilissi, e exigiu a entrega de mais um oficial russo, também presumivelmente implicado em espionagem e que se encontra refugiado naquele edifício.

Relações tensas

Ontem à tarde, a polícia georgiana deteve mais sete militares russos, agravando o contencioso entre dois países que mantêm tensas relações desde a chegada ao poder do actual Presidente, Mikhail Saakachvili, que não esconde a intenção de aderir à NATO e à União Europeia.Na recente 61.ª Assembleia Geral da ONU, a Geórgia acusou o Kremlin de querer anexar as regiões separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul através da concessão "à socapa" da cidadania russa à sua população. Acusou igualmente Moscovo de pretender impedir "o desenvolvimento democrático da Geórgia".
Serguei Ivanov, ministro russo da Defesa, exigiu a libertação imediata dos militares, considerou os casos de espionagem "inventados" e "ilícita" a detenção dos seus militares. "Isto faz-me lembrar as repressões estalinistas dos anos (19)30. Não ficarei admirado se a Geórgia acusar os militares russos de tentar sequestrar o sol e o céu georgianos", acrescentou Ivanov. As autoridades russas, sublinhou, tomarão "medidas adequadas à provocação" discutirão este assunto na reunião do Conselho Rússia-NATO, que começa hoje na Eslovénia.
Serguei Baburin, vice-presidente da Duma (câmara baixa do Parlamento) em Moscovo, nacionalista, aconselhou as autoridades russas a deter o mesmo número de militares georgianos como medida de represália. Dmitri Rogozin, outro deputado nacionalista, incitou o Kremlin a repetir a experiência israelita no Líbano: "Defendemos (...) que o Presidente use as forças armadas para libertar os militares sequestrados pela Geórgia." O Presidente Putin sabe que a experiência israelita falhou.

A czarina regressou a São Petersburgo reconciliando a Rússia com o seu passado



Imperatriz Maria Fiodorovna foi sepultada em São Petersburgo, após viagem póstuma a partir da Dinamarca

A imperatriz Maria Fiodorovna (1847-1928) foi ontem sepultada no templo da Fortaleza de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, ao lado do seu marido, o czar Alexandre III (1845-1894). A cerimónia fúnebre, descrita como a reconciliação da Rússia com o seu passado, foi celebrada por Alexei II, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, na presença de representantes de várias casas reais da Europa e de milhares de anónimos.
No fim da semana passada, a que foi princesa Maria Sofia Frederica Dagmar da Dinamarca iniciou a sua viagem póstuma a partir da Catedral de Roskilde, onde repousava ao lado dos restos mortais dos reis e rainhas dinamarqueses - era filha do rei Cristiano IX - para o reencontro com o seu marido na antiga capital do Império Russo. Esta união ocorre 112 anos depois da morte do czar e 78 depois da sua própria.
No seu testamento, a imperatriz exprimiu a vontade de ser sepultada, logo que possível, junto do czar e, em Julho de 2001, a Casa Real da Dinamarca autorizou a transladação dos restos mortais de Roskilde para São Petersburgo. "O coração da imperatriz permaneceu sempre na Rússia. Durante os últimos anos de vida em Copenhaga, sentiu-se sempre como emigrante", comentou Margarida II da Dinamarca.
A cerimónia, em que as autoridades locais gastaram cerca um milhão de euros, começou de manhã no sumptuoso Palácio de Peterhoff. O cortejo fúnebre passou depois pela residência de Verão dos czares em Tsarskoe Selo. Seguidamente, o féretro foi transladado para a Basílica de Santo Isaac, conhecido como templo dos Romanov, onde o patriarca ortodoxo celebrou um serviço religioso.
A princesa Dagmar mal tinha feito 17 anos quando o herdeiro da coroa russa, o czarevitch Nicolau, visitou a Dinamarca. Apaixonaram-se e combinaram que o encontro seguinte seria no dia do casamento. Nada fazia crer que Nicolau, aparentemente forte e saudável, morresse de tuberculose pulmonar. A jovem casou com o irmão mais novo, o futuro czar Alexandre III. Para isso, ela teve de se converter antes à fé ortodoxa e optar por um nome eslavo: Maria Fiodorovna.
Na Rússia, a sua vida teve dias felizes e ocasiões dramáticas. Maria Fiodorovna deu seis filhos a Alexandre: duas filhas e quatro rapazes, entre eles Nicolau II, o último czar russo, fuzilado pelos bolcheviques. Maria Fiodorovna, tal como o marido, esteve contra o casamento do seu primogénito e herdeiro do trono, Nicolau, com a princesa Alix de Hesse, que tomou o nome eslavo de Alexandra Fiodorovna e manteve uma forte inimizade com ela durante toda a vida. Estas más relações levaram-na a abandonar São Petersburgo e a instalar-se em Kiev, onde assistiu à revolução comunista de 1917. De Kiev fugiu para a Crimeia e, daí, foi levada para Inglaterra num barco enviado pela sua irmã Alexandra, viúva de Eduardo VII.
Até à sua morte, em 1928 em Copenhaga, recusou-se a acreditar que o seu filho e netos tinham sido fuzilados. Pensava que, para se salvarem, tiveram de fugir e não dar sinais de vida por razões de segurança.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Rússia e Geórgia no limiar da guerra


Serguei Ivanov, Ministro da Defesa da Rússia, acusou as autoridades da Geórgia de terem espancado e detido um oficial e sete soldados das tropas russas que se encontram aquarteladas nesse país do Cáucaso.
Ontem, a polícia georgiana anunciou a prisão de quatro agentes do Serviço de Informação Militar (GRU) da Rússia, bem como dez cidadãos georgianos acusados de fazer espionagem a favor de Moscovo e de preparar “operações provocatórias”.
“As suas actividades centravam-se em obter informação sobre o programa de cooperação com a NATO, a segurança energética, a oposição política, a importação de armamentos e as comunicações por via férrea e marítima” – declarou Vano Merabischvili, Ministro do Interior da Geórgia, acrescentando que esses agentes organizaram atentados terroristas no seu país.
A polícia georgiana cercou o quartel-general das tropas russas na Transcaucásia, situado em Tblissi, capital da Geórgia, exigindo que lhe seja entregue um quinto oficial russo que se refugiou no interior do edifício.
Serguei Ivanov acusou a polícia georgiana de “arbítrio total”, sublinhando que as autoridades de Tblissi estão a provocar a Rússia a tomar “medidas inadequadas”, ou seja, medidas de força, mas o ministro russo garante que Moscovo se limitará a tomar “medidas adequadas”, sem avançar pormenores.
Mikhail Saakachvili, Presidente da Geórgia, acusou Moscovo de “ocupação bandida” do seu país e de tentar travar a aproximação da Geórgia em relação à NATO e União Europeu. O dirigente desta antiga república soviética no Cáucaso exige a retirada das tropas russas do seu país e que o Kremlin deixe de incentivar os separatistas da Abkhásia e Ossétia do Sul, regiões da Geórgia cujos dirigentes não escondem o objectivo de juntar esses territórios à Federação da Rússia.
Alguns políticos e analistas militares russos exigem que a Rússia imite Israel e lance uma operação militar para libertar os seus soldados e oficiais.

Comissão Eleitoral não autoriza referendo sobre recandidatura de Putin




A Comissão Eleitoral Central da Rússia (CECR) impediu a realização de um referendo sobre a possibilidade de o Presidente Putin, Vladimir Putin, se recandidatar a um terceiro mandato, não permitido pela Constituição actual. Porém, ainda nem tudo está perdido para o Kremlin.
A CECR considerou incorrecta e contrária à Lei Fundamental a pergunta formulada pelos promotores do referendo: “Está de acordo que seja excluído da Constituição da Federação da Rússia o parágrafo que proíbe à mesma pessoa ocupar o cargo de Presidente mais de dois mandatos?”.
Nina Kuliássova, membro da CECR, esclareceu que a resposta positiva a essa pergunta apenas confirmaria a norma vigente, enquanto que a negativa criaria confusão legal e não teria consequências jurídicas directas. “Por conseguinte, essa pergunta não pode ser colocada num plebiscito na Federação da Rússia, porque não está conforme a lei federal constitucional e cria confusão sobre as consequências jurídicas” – acrescentou Kuliássova.
Este membro da CECR sublinhou também que a legislação proíbe a celebração de plebiscitos no último ano da legislatura do Parlamento, que termina em Dezembro de 2007, e por isso os promotores não terão tempo suficiente para, nos próximos dois meses, reunir os dois milhões de assinaturas necessárias para apoiar a sua iniciativa.
A ideia de realização do referendo pertenceu à organização social “Concórdia e Estabilidade”, da república caucasiana da Ossétia do Norte, baseando-se no arqumento de que Putin “trouxe estabilidade ao país e necessita de outro mandato para continuar a sua política”.
Esta decisão da CECR, porém, não corta todos os caminhos aos que querem ver Putin no Kremlin depois de 2008. Existe ainda a possibilidade de uma revisão constitucional que lhe permitirá candidatar-se ao terceiro mandato. Ela terá de ser apoiada por mais de dois terços dos deputados da Duma (câmara baixa do Parlamento russo), de três quartos dos membros do Conselho da Federação (câmara alta) e por mais de dois terços dos parlamentos regionais.
Uma proposta nesse sentido foi feita por um grupo de deputados do Parlamento da Tchetchénia e está a ser analisada na Duma.
O próprio Presidente russo, durante a sua visita oficial a França, agradeceu a confiança popular e sublinhou uma vez mais que irá “obedecer à lei e à Constituição vigentes na Rússia”, que proíbe, actualmente, a recandidatura a um terceiro mandato presidencial.
Porém, alguns analistas não descartam a possibilidade de a Reunião Federal (Parlamento) da Rússia realizar uma revisão constitucional que permita a Putin participar nas eleições presidenciais de 2008 sem violar a Lei Suprema do país. O Presidente está a ser alvo de fortes pressões da sua “corte” e de sectores significativos da opinião pública, que receiam o regresso da instabilidade à Rússia.


Magia de Nani vale ponto ao Sporting em Moscovo



Nenhuma das equipas impôs o seu jogo, pelo que o empate foi justo, o que coloca
a formação lisboeta no segundo lugar do Grupo B da Liga dos Campeões
O regresso do FC Spartak de Moscovo à Liga dos Campeões depois de uma ausência de três épocas e a pesada derrota frente ao Bayern de Munique (0-4) faziam prever uma entrada impetuosa da equipa russa no confronto com o Sporting. Tanto mais que o clube da capital russa defrontava em casa um Sporting que nunca tivera jogado em relva sintética na Liga dos Campeões e gozava do apoio quase total dos cerca de 45 mil espectadores. Mas o Spartak não entrou no jogo "a matar" e a táctica parecia ser a definida pelo treinador, Vladimir Fedotov: travar o ataque do Sporting e aproveitar as falhas dos leoninos para lançar contra-ataques. E falhou, ao empatar 1-1.
Os moscovitas não perderam muito tempo para aproveitar um erro grave dos lisboetas, nem lhes deram grandes possibilidades de adaptação ao relvado sintético. Aos 4 minutos de jogo, um descuido da defesa sportinguista permitiu a Boryantzev entrar na grande área e, sem qualquer tipo de oposição, bater para o fundo das redes. Ricardo nada podia fazer para travar a bola.
Este golo rápido do Spartak atordoou os jogadores leoninos, que tardavam a recuperar. A equipa do Sporting não conseguia organizar jogo, limitando-se a passes pouco eficazes na zona central do terreno. Só aos 16 minutos Nani, na marcação de um livre directo, quase surpreendia o guarda-redes polaco Kowalewski. Dez minutos depois, o mesmo avançado entrou rapidamente pela direita, cruzou para o centro da área com muito perigo, mas o guarda-redes do Spartak "tirou o golo" dos pés de Liedson.
A equipa russa parecia estar a cumprir à risca a táctica traçada por Paulo Bento para o Sporting: controlar os movimentos do adversário para não o deixar jogar . Além disso, os "vermelhos e brancos" utilizavam todas as falhas na defesa leonina para passar rapidamente ao contra-ataque. Aos 41 minutos, Boyarintzev entrou pela esquerda, rematou e só uma grande defesa de Ricardo impediu um dos melhores jogadores da noite de marcar o segundo tento.
As equipas foram para o balneário com um resultado que só convinha ao Spartak. Os jornalistas russos já esfregavam as mãos de contentes, pois não esperavam um Sporting tão desorganizado e ineficaz. Paulo Bento tinha de aproveitar o intervalo para fazer alterações na sua equipa, se queria anular a desvantagem do marcador. Por isso, substituiu o defesa direito Miguel Garcia pelo avançado Alecsandro.
Porém, o segundo tempo começou com uma nova ofensiva do Spartak, que parecia disposto a marcar mais um golo para resolver o desfecho do encontro. Aos 48 minutos, Ricardo faz a defesa da noite e salva as suas redes de um perigoso remate do avançado Pavlitchenko. O Sporting respondeu com um contra-ataque, Liedson passa por dois adversários e remata com perigo à baliza de Kowalewski.

Nani cumpre missão quase impossível

O Spartak continuava à procura do segundo golo e criou várias vezes perigo junto da baliza do Sporting, mas foi a equipa de Alvalade que marcou numa jogada rápida de contra-ataque. Aos 58 minutos, Liedson põe a bola nos pés de Nani, que aparecera no flanco direito, e este avançado leonino tirou do caminho o guarda-redes Kowalewski e, de um ângulo muito difícil, quase impossível, conseguiu atirar a bola para o fundo das redes.
Agora era a vez de o Spartak reagir e Boyarintzev quase surpreendia novamente Ricardo. Aos 80 minutos, Vladimir Fedotov, treinador da equipa moscovita, tentou dar a volta ao resultado, pouco conveniente para o Spartak, reforçando o ataque: substituiu Pavliutchenko por Abeye e Mozart por Rebko. Paulo Bento respondeu dois minutos depois fazendo entrar o médio João Alves para o lugar do avançado Djaló, que não estava na sua melhor noite.
Os russos avançaram no terreno e fizeram passar a equipa de Alvalade por momentos desagradáveis. Se não fosse a pontaria desafinada de Kovac, defesa do Spartak, o Sporting poderia ter saído do Estádio Olímpico Lujniki de Moscovo com uma derrota.
Os adeptos do clube moscovita não saíram dos seus lugares antes do apito final, pois esperavam que a onda ofensiva do Spartak terminasse num golo que aumentasse as possibilidades de o ver na segunda fase da Liga dos Campeões, mas as duas equipas acabaram por repartir pontos, um resultado justo, que reflecte o que se passou no relvado sintético.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Cadáver de Lénine ainda aguenta mais um século no Mausoléu



As autoridades policiais russas anunciaram que o Mausoléu de Vladimir Lénine (1870-1924), primeiro dirigente da União Soviética, irá encerrar entre 10 de Novembro e 26 de Dezembro deste ano. "O Comando do Kremlin de Moscovo comunica que, devido a um pedido do Centro de Investigação de Tecnologias Biomédicas "Vilar", entre 10 de Novembro e 26 de Dezembro estará encerrado o Mausoléu de V.I.Lénine para a realização de trabalhos regulares de manutenção" - lê-se num comunicado do Serviço Federal de Protecção da Rússia, órgão policial que responde pela segurança do Kremlin e arredores.
O cadáver de V.I.Lénine será retirado da rodoma de vidro e emerso em soluções líquidas especiais para que os tecidos não se deteriorem. O último tratamento foi realizado na Primavera do ano passado e, segundo Iúri Denissov-Nikolskii, director desse Instituto, tudo decorreu "sem surpresas". O cientista garante que, se os tratamentos forem realizados atentadamente, o cadáver ainda poderá ser conservado no Mausoléu nos próximos 100 anos. Quanto ao fato do dirigente comunista, ele foi substituído pela última vez em 2003.
O monumento da polémica
A ideia de embalsamamento do cadáver de Lénine e da sua exibição num mausoléu pertence a Felix Dzerjinski, primeiro chefe da polícia política soviética NKVD-KGB, depois da morte do "dirigente do proletariado mundial". O primeiro mausoléu soviético, construído em madeira, foi aberto ao público em 27 de Janeiro de 1924 na Praça Vermelha de Moscovo, logo após a morte de Lénine.
O monumento funerário que chegou até aos nossos dias foi construído entre Julho de 1929 e Outubro de 1930. Além do cadáver de Lénine, existiam outras actracções ligadas a essa construção: a guarda de honra, que era constituída por agentes dos serviços secretos soviéticos e que se "manteve em sentido" entre 26 de Janeiro de 1924, dia da morte do dirigente comunista, e 6 de Outubro de 1993, bem como os jazigos de uma série de revolucionários, dirigentes, cientistas e astronautas soviéticos. Além disso, junto do mausoléu estão sepultados comunistas estrangeiros, o mais conhecido dos quais é o escritor norte-americano John Reed, autor da obra "Os dez dias que abalaram o mundo".
O mausoléu funcionava, ao mesmo tempo, como tribuna, onde os dirigentes comunistas máximos pronunciavam discursos em ocasições solenes ou assistiam a manifestações de apoio ao regime.
A presença do cadáver de Lénine no mausoléu da Praça Vermelha tem despertado bastante polémica depois do fim do regime comunista. A Igreja Ortodoxa Russa, por exemplo, defende que os restos mortais do dirigente comunista devem ser transladados para o jazigo da família, que se encontra em São Petersburgo. Segundo uma sondagem do Centro Analítico de Iúri Levada, realizada em Abril passado, 51% dos russos apoiam essa posição dos ortoxos, enquanto que 40% consideram que tanto o cadáver como o mausoléu devem ser mantidos na Praça Vermelha. Entre os apoiantes desta posição estão os comunistas russos e pessoas idosas, que viram a sua vida ligada à União Soviética.
Vladimir Putin, Presidente da Rússia, considera que esta não é a melhor altura para resolver definitivamente o problema, pois receia que a retirada do cadáver de Lénine da Praça Vermelha poderá provocar manifestações de protesto. Por isso, deixa a solução do caso para o futuro, quando a descida à terra de Lénine for recebida com a maior das naturalidades na sociedade russa.

Até na Sibéria há sportinguistas



Alina, estudante do 4.º ano de Jornalismo da Universidade de Tomsk, viajou três dias e três noites de comboio com um só objectivo: assistir ao jogo do Sporting, seu clube preferido. "Não consegue organizar um encontro com Miguel Garcia, gostava tanto de tirar uma fotografia com ele e pedir-lhe um autógrafo? Vim de propósito de Tomsk..." - foi assim que uma jovem se dirigiu ao repórter do PÚBLICO, com um tímido sorriso, quando nos ouviu falar russo.
"De Tomsk? Da Sibéria?", respondemos incrédulos, e tentámos saber como nasceu tal "amor".
"Este amor começou por acaso. Gosto de futebol, vou ver jogos a um bar de Tomsk [cidade situada a três mil quilómetros da capital russa, na Sibéria Ocidental] e, certa vez, vi um jogo do Sporting e apaixonei-me por esta equipa. São jovens, mexem-se durante todo o jogo. O Miguel Garcia [pronunciei bem o nome?] corre para trás e para a frente, é o maior."
Alina, que trazia uma camisola verde e branca, com o emblema do Sporting bordado, e um leão de peluche (que baptizou de Miguel Garcia), disse que a sua irmã mais nova também gosta do futebol português, mas sublinhou: "Ela é adepta do FC Porto!"
Era impossível não ajudar esta jovem siberiana a concretizar o seu sonho. A assessora de imprensa do clube de Alvalade, depois de ouvir semelhante estória insólita, prometeu-nos organizar, hoje, na zona mista, após o jogo um encontro entre a sportinguista siberiana e o seu ídolo português.
Alina não cabia em si de contente e aproveitou a oportunidade para tentar realizar mais um sonho seu: "O Miguel não me vai oferecer a camisola? Isso seria o fim. Ninguém irá acreditar nas minhas palavras em Tomsk, mas se mostrar a camisola..."

Spartak e Sporting não pretendem repartir pontos


Relvado sintético do Estádio Lujniki também pode ter vantagens para os lisboetas

Os treinadores do Spartak de Moscovo e do Sporting, respectivamente Vladimir Fedotov e Paulo Bento, não escondem que o objectivo é vencer o jogo de hoje. Por razões diferentes, mas as duas equipas têm motivos para não repartir pontos na partida. O Spartak perdeu o primeiro jogo frente ao FC Bayern de Munique (4-0) e, se não conseguir vencer o Sporting em casa, poderá ficar com as contas muito complicadas. O Sporting, moralizado pela vitória sobre o Inter de Milão, pretende vencer para "ficar mais descansado" no que respeita à passagem para a fase seguinte da Liga dos Campeões.
A conferência de imprensa do treinador Paulo Bento e do guarda-redes Ricardo estava marcada para antes do treino. Porém, antes de se reunirem com os jornalistas, os representantes sportinguistas foram pisar o relvado sintético do Estado Olímpico Lujniki, inovação técnico-desportista a que os futebolistas de Alvalade não estão habituados.
Este foi precisamente o pontapé de saída da conversa de Ricardo com os jornalistas. "A esmagadora maioria dos nossos jogadores vai fazer o primeiro jogo num relvado artificial. Na Academia do Sporting temos um campo desses, mas não treinamos nele. Vamos fazer tudo para superar um piso que não é normal e conseguir um bom resultado", declarou o guarda-redes sportinguista.
Paulo Bento também assinalou que os futebolistas não estão habituados ao relvado sintético, sublinhando que, nele, "a bola salta muito, temos de a fazer circular, rodar". Porém, frisou que "não vamos dar mais importância a esse factor do que aquele que ele tem"."Tudo o que se faz noutro campo - continuou Paulo Bento - poder ser feito no sintético. Até tem vantagens, o relvado sintético não tem buracos e a bola não ressalta, o que é bom para o nosso jogo técnico".
Paulo Bento não se cansou de repetir que "o nosso objectivo é ganhar o jogo", que "o Sporting não mudará a sua filosofia e tentaremos dominar o jogo", mas , por outro lado, frisou que a sua equipa não se deixará embarcar em aventuras.
Atenção às surpresas
O treinador do Sporting reconheceu ter estudado alguns jogos da equipa russa, considerando que o Spartak deixa jogar o adversário, mas o perigo consiste no facto de os jogadores russos passarem rapidamente da defesa para o contra-ataque, a fim de surpreender o adversário."O Spartak é uma equipa de qualidade, e sofrer quatro golos num jogo da Liga dos Campeões não é muito usual, mas não nos deixaremos ir por aí. Iremos tentar controlar o jogo para não deixar o Spartak jogar como gosta", concluiu Paulo Bento.
Se se comparar as declarações feitas por Paulo Bento e pelo seu homólogo russo, Vladimir Fedotov, fica-se com a impressão de que nas fileiras sportinguistas há mais confiança na vitória. Na conferência de imprensa, realizada na base do Spartak, nos arredores de Moscovo, o treinador russo disse aos jornalistas que prepara os seus pupilos "apenas e só para a vitória", mas tenta desdramatizar um possível desaire: "Não posso dizer que o jogo com o Sporting seja precisamente fulcral, pois ainda temos muitos jogos pela frente". Segundo Fedotov, "o maior perigo para a baliza do Spartak reside na linha média do Sporting, onde estão concentrados jogadores com técnica e rapidez. O Sporting é uma equipa alegre e com perspectivas".
Observador impressionado
Opinião semelhante tem Stanislav Tchertchessov, director desportivo do Spartak, que esteve em Portugal para assistir ao jogo Aves-Sporting. "A linha média do Sporting é realmente rápida e a equipa muito jovem em geral", declarou ele, destacando Alecsandro, "um futebolista experiente, que sabe proteger a bola e joga bem de cabeça", e Liedson, "que não pára durante os 90 minutos".
Não obstante isso, Fedotov não perde o sentido de humor. Quando lhe perguntaram se o peso de seis anos sem vitórias na Liga dos Campeões não influi psicologicamente na equipa, respondeu: Não, não influi. A nossa equipa tem muitos estrangeiros e eles nem sequer fazem ideia disso!".
Nem Paulo Bento, nem Fedotov quiseram avançar com os nomes dos jogadores que hoje entrarão na arena do Estádio Olímpico Lujniki, o antigo Estádio Lénine. "Tenho a equipa escolhida, mas só!", respondeu o treinador sportinguista à curiosidade dos jornalistas.
EQUIPAS PROVÁVEIS - Spartak de Moscovo: Kowalewski, Stranzl, Jiránek, Kovác, Shiskin, Boyarintsev, Titov, Owusu-Abeyie, Mozart,Pavlyutchenko e Bazhenov. Sporting (não disponível, já que a equipa lisboeta realizou o treino em Moscovo à porta fechada)Árbitro Martin Hansson (Suécia)
Nota:os mais de 40 mil adeptos do Spartak que vão ao estádio reservaram duas surpresas para o Sporting. Como o jogo se vai realizar à noite, cada um deles está convidado a trazer um isqueiro para acender quando as equipas entrarem em campo. Além disso, os adeptos do sector B do Estado Olímpico vestirão camisolas vermelhas e brancas, cores do Spartak, para formar uma onda colorida.

terça-feira, setembro 26, 2006

Sporting terá surpresas desagradáveis em Moscovo

Equipa de Alvalade terá de jogar em relvado sintético, mas sob bom tempo

A equipa do Sporting vai treinar hoje ao fim da tarde no Estádio Olímpico Lujniki de Moscovo, onde chegou ontem já noite feita. A seu favor, tem o "Babie Leto" (fenómeno metereológico equivalente ao "Verão de São Martinho" em Portugal) e, por conseguinte, não se poderá queixar da chuva ou neve. Durante o dia, os termómetros rondam os 20 graus positivos e, ao início da noite, descem para os oito, o que é considerado bom para a época.
Porém, irá defrontrar um Spartak de Moscovo extremamente motivado. No primeiro jogo da Liga dos Campeões, este clube russo entrou mal e perdeu por 4-0. Por isso, a vitória sobre o Sporting é decisiva para um dos mais populares clubes russos continuar a manter aspirações a passar à fase seguinte. Além disso, o Spartak, no passado domingo, fez uma boa exibição frente ao Rubin de Kazan, batendo esta equipa por 3-0, e continua na luta pelo título russo.
O Sporting terá contra si também o facto de ter de jogar no Estado Olímpico de Moscovo, que tem relvado sintético. Reconstruída para os Jogos Olímpicos de 1980, essa arena era a principal no país. No final do século passado, as autoridades moscovitas decidiram cobrí-lo com uma cúpula a fim de permitir a realização de jogos durante todo o ano. Porém, depois de cobertas as bancadas, os especialistas constataram que a relva natural não vingava e, foi decidido substituí-la por um piso artificial.Durante alguns anos, essa arena foi utilizada apenas para competições internas, mas hoje já tem a homologação da UEFA e FIFA para a realização de jogos internacionais.
O Spartak de Moscovo, tal como o CSKA, adversário do FC do Porto na Liga dos Campeões, não têm "casa própria" (os seus novos estádios estão em fase de estudos), jogando, normalmente, nos estádios Tcherkizovski do Lokomotiv de Moscovo ou no Lujniki. O primeiro é um estádio moderno, mas o seu relvado está em condições deploráveis. As chuvas frequentes no Verão, bem como o Campeonato do Mundo de futebol entre mulheres (que teve como vencedora a equipa da Coreia do Norte) transformaram o campo num autêntico "batatal".
A capital russa tem mais dois estádios em condições razoáveis: o do FC Moskva e o do Dínamo de Moscovo. Porém, o primeiro não está homologado pela UEFA e, quanto ao segundo, o Spartak não tem contrato com o Dínamo sobre a cedência do estádio.A falta de bons estádios é uma das razões apresentadas pelos especialistas para justificar o nível mais baixo do futebol russo em comparação com o europeu.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Tadjiques vão ficar sem dentes de ouro


Emomali Rakhmonov, Presidente do Tadjiquistão, proibiu os funcionários do seu país de portarem dentes de ouro. Segundo a agência "Novvi reguion", semelhante decisão foi tomada depois do dirigente tadjique ter visitado uma escola média.
"Os professores queixam-se de que têm salários baixos, mas têm dentes de ouro. Como é que os representantes das organizações internacionais poderão acreditar na vossa pobreza se a boca do professor está repleta de ouro? Isso não faz parte nem da nossa cultura, nem da nossa tradição" - declarou Rakhmonov, que presentemente faz campanha eleitoral com vista a ser eleito pela terceira vez Presidente do Tadjiquistão, antiga república soviética da Ásia Central.
O dirigente tadjique encarregou o seu ministro da Educação, Abdudjabor Rakhmonov, de levar à prática essa orientação. O conselheiro do Ministério da Educação, Zamon Alifbekov, considera que esta inovação dirá respeito, antes de tudo, aos professores jovens, pois só apenas 10% dos actuais mestres têm ouro na boca.
O Presidente Rakhmonov aconselhou todos os funcionários públicos a substituírem os dentes de ouro. Porém, a máquina do Estado tadjique ficará paralizada se forem despedidos todos os funcionários com dentes de ouro. No Tadjiquistão, segundo a tradição, tudo o que brilha, incluindo os dentes, é um símbolo de prosperidade.
Saparmurat Niazov, Presidente vitalício da Turcoménia, república vizinha do Tadjiquistão, já havia lançado uma campanha semelhante em 2004. Num encontro com os estudantes de uma das universidades do país, transmitido pela televisão, o "pai de todos os turcomenos", como gosta de ser chamado Niazov, declarou: " Quando eu era jovem, gostava de observar cães. Atiravam-lhes ossos, que eles roíam. Eles não faziam isso porque tinham fome. Neles há cálcio, um pouco de fluorina. Não vos quero ofender. Quanto mais duros forem os alimentos, mais fortes serão os dentes. Quem já perdeu os dentes é porque não roeu ossos. Eis o meu conselho".

Afinal não fui só eu! Português roubado e espancado em Moscovo


Depois de publicar a postagem: "Cuidado com os carteiristas no "Caramba" ou "Porra", recebemos um mail do leitor José Mendes, vítima de espancamento e roubo em Moscovo, na sexta-feira passada. Reproduzimo-lo abaixo na íntegra:

"Caro Milhazes,

Se me permite gostava de partilhar consigo este triste episódio que pela primeira vez me aconteceu por terras Russas!

É verdade !!! sexta feira , a sair do hotel Metroplol ia a caminho do metro para regressar a casa,depois de deixar lá um grupo de Portugueses que estiveram cá na feira Textil.
Fui sovado por quatro ENERGÚMENOS que me roubaram o computador, dinheiro e o telemóvel!!!
Fiquei num estado do qual estou a recuperar...e lá se foram todos os meus documentos , contactos e trabalhos; isto sem falar no valor AVULTADO do roubo...Mas como disse a policia durante a minha participação;

-"Até nós temos medo de andar por aquí...(..)"

Por isso aqui fica o meu alerta a todos os visitantes e não só...

P.S- Eram 23:00 !!! quando isto aconteceu!!!


Um abraço,

José Luís Mendes"

E mais uma informação. Ontem à noite, Domingo, em São Petersburgo foi assassinado à facada um jovem indiano que frequentava o último ano da Faculdade de Medicina dessa cidade russa. Os seus conterrâneos estão convencidos que o crime foi mais uma acção dos "cabeças rapadas" russos e exigem justiça.

Kremlin quer controlar petróleo e gás na Rússia



Autoridades moscovitas travam aspirações das petrolíferas ocidentais

A petrolífera anglo-holandesa Royal Dutch/Shell está a ser alvo de fortes pressões da parte das autoridades russas para que aceite ceder à Gazprom, controlada pelo Estado, 25 por cento das acções do projecto de exploração de gás e petróleo Sakhalin II, em que também participam as companhias japonesas Mitsui e Mitsubishi e onde já foram investidos mais de 15 mil milhões de euros. Desta vez, o Kremlin escolheu a ecologia como alavanca de pressão."O Procurador-Geral da Rússia publicou um comunicado que anula o decreto de aprovação do acordo após um relatório ecológico. Somos obrigados a cumprir essa decisão" - declarou Rinat Guizatulin, porta-voz do Ministério dos Recursos Naturais da Rússia. O mesmo poderá suceder aos projectos Sakhalin I da da empresa americana ExxonMobil, Khariaga da francesa Total e Kovikta da empresa mista russo-inglesa TNK-BP.O Sakhalin II é o principal energético privado do mundo do mundo, com investimentos da ordem dos 15 mil milhões de euros. A petrolífera Shell detém 55 por cento das acções, enquanto que as empresas nipónicas repartem o resto (25 e 20 por cento respectivamente). O monopolista de gás russo, Gazprom, está em negociações com a Shell para comprar-lhe 25 por cento das acções. Em 2005, a Gazprom tinha chegado a um acordo com a Shell para trocar esse número de acções por um pacote de acções de um jazigo seu de gás no Ártico. Porém, esse acordo foi assinado quando os custos de Sakhalin II eram avaliados em cerca de 7.500 milhões de euros. Há poucos dias atrás, a Shell anunciou que o custo tinha disparado para o dobro, o que, naturalmente, indignou a Gazprom, que não tinha sido informada da subida antes da assinatura do acordo.A decisão das autoridades russas põe também em causa a segunda etapa do projecto, que inclui os jazigos de Piltun-Astoi e Lunski, com reservas de 150 milhões de toneladas de petróleo e 500 milhões de metros cúbicos de gás, a construção de gaseodutos e oleodutos entre o Norte e o Sul da Península da Sakhalina, a construção de uma fábrica de liquefação de gás e um terminal portuário de petróleo.
Kremlin "lembra-se" da ecologia
A decisão da Procuradia Geral da Rússia baseia-se em queixas apresentadas pela Agência de Controlo da Natureza, apresentadas no fim do mês passado. Oleg Mitvol, dirigente desse órgão, declarou que dezenas de hectares de bosques tinham sido destruídos e que milhares de peixes tinham morrido durante os trabalhos de prospecção.As organizações ambientalistas russas e ocidentais desde o início da realização do projecto que vêm chamado a atenção para os prejuízos ecológicos provocados pelo Sakhalin I e saudaram a suspensão do contracto, mas revelam perplexidade face ao facto de essa decisão coincidir com o conflito entre a Shell e a Gazprom. Isto é tanto mais estranho quando se constata que as autoridades russas se têm preocupado muito pouco com autênticos crimes ecológicos cometidos pelas empresas nacionais."Todas as observações feitas ao operador do projecto Sakhalin Energy não podem ser fundamento para suspender o processo. Não se pode dizer que o operador não reage às nossa observações. Nas partes problemáticas da construção, foi a própria companhia que suspendeu os trabalhos e, agora, juntamente com institutos técnicos, procura novas soluções de engenharia" - declarou Ivan Malakhov, governador da Sakhalina, concluindo: "É um absurdo organizar um show em torno do projecto Sakhalin II". Existe mais uma razão para se supor que se trata de uma ofensiva do Kremlin pelo controlo do sector do gás e petróleo.O projecto Sakhalin II desenvolveu-se na Rússia no âmbito da chamada Lei da Produção Compartida, uma fórmula utilizada para atrair investimentos estrangeiros. Em poucas palavras, consiste em que o Estado não cobra todos os impostos que deveria cobrar dos investidores até que estes recuperem o custo do projecto que desenvolvem. No caso de Sakhalin II, antes da recuperação dos gastos, o Estado receberá cerca de 23,6 milhões de euros e, depois disso, nos cofres públicos entrarão 1.557 milhões de euros.A Lei da Produção Compartida era vantajosa para a Rússia quando os preços dos hidrocarbonetos estavam baixos e o Kremlin se debatia com grave falta de meios financeiros. Porém, actualmente, o Governo russo não sabe o que fazer com o avalanche de dinheiro provocada pelo aumento do preço do petróleo e gás nos mercados internacionais.Além disso, o Kremlin não está interessado em que um projecto privado de tão grande envergadura como o Sakhalin II tenha êxito. Só assim terá motivos para continuar a política de "renacionalização" das grandes petrolíferas russas.

domingo, setembro 24, 2006

Primeiro campeonato nacional de toucinho na Ucrânia


Lembram-se de um dos símbolos do emigrante português nos finais do séc. XX? Exactamente, o garrafão de cinco litros. Entre os ucranianos que partem para o estrangeiro à procura de vida melhor, o toucinho é o símbolo equivalente. Não deve haver mala de emigrante ucraniano que passe no Aeroporto da Portela sem um belo naco de toucinho de porco lá dentro.
Aquando da "Revolução Laranja" na Ucrânia, em 2004, bem andei eu à procura dos famosos bombons ucranianos recheados de toucinho, mas não consegui encontrar. Provei esse petisco das mais variadas formas, mas não foi possível comê-lo envolto em chocolate. Um diplomata ocidental acreditado em Kiev jurou-me por todos os santos que já tinha comido esse petisco, fabricado em Odessa, a cidade do humor na Ucrânia.
Seja como for, o toucinho está para os ucranianos assim como o bacalhau está para os portugueses. Por isso a Ucrânia não podia deixar escapar o título de pátria do primeiro Campeonato Nacional de Toucinho, onde deverão ser batidos vários recordes mundiais.
Nas vésperas desse acontecimento gastronómico, que se deverá realizar a 14 e 15 de Outubro na cidade ucraniana de Lutsk, terá lugar uma "conferência científica e prática" que debaterá os seguintes temas: "O toucinho no mundo" e "Conselhos para o criador de porcos". Depois dessa reunião, realizar-se-ão um desfile dos melhores porcos, um concurso de beleza suína, exposições de toucinho e chouriços de porco.
Só depois desses eventos começará o campeonato propriamente dito, em que os candidatos ao título de "melhor comedor de toucinho" da Ucrânia competirão na velocidade de consumo do produto mais apreciado pelos ucranianos. Quanto aos recordes, espera-se que seja produzido o maior pedaço de toucinho do mundo, acontecimento a registar no livro "Guiness".
O segundo recorde, que constituirá, sem dúvida, um dos momentos mais saborosos do campeonato, será batido quando o público convidado devorar o maior toucinho do mundo.
Além disso, será também erigido o primeiro monumento do mundo ao toucinho e inaugurado o primeiro museu ambulante do mundo de "figuras suínas de toucinho".
O conhecido artista ucraniano Vitali Ivanitski, organizador da nova competição, declarou que essas iniciativas visam "chamar a atenção da opinião pública nacional e internacional para as importantíssimas qualidades benéficas do toucinho do ponto de vista medicinal".

Cuidado com os carteiristas no "Caramba" ou "Porra"


Aconteceu! E, desta vez, em Moscovo! Roubaram-me a carteira, onde se encontravam algumas notas de rublos e euros, mas, o que é bem mais lamentável, é que lá estavam as minhas credenciais de jornalista! Ainda bem que deixei o passaporte e o visto em casa! Não fiquei completamente "depenado"!
... Domingo, primeiro dia do ano hebraico, visita de um amigo espanhol de longa data! Num país onde se diz que o principal é que haja alguma coisa para beber, pois não faltam motivos para festejar, esses eram motivos mais do que suficientes para uma reunião de amigos!
Angel, o meu amigo espanhol que nos veio visitar a Moscovo, optou por um encontro no Restaurante "Iolki Palki", porque é dos poucos lugares na capital russa onde ainda se pode comer sem ter de se pagar uma fortuna. Mas, desta vez, o barato saiu caro!
Quase todos chegaram a horas ao encontro: Angel, uma poetisa russa de quem não me lembro o nome, parece que se chamava Natália, Rachid, Volodia, Rafael, António, Sveta e Benjamim. Acho que não me esqueci de ninguém...
Alguns de nós já não se encontravam há bastante tempo, por isso era necessário pôr a conversa em dia... Projectos futuros no campo da História, recordações do passado estudantil..., até veio à conversa, não me recordo a razão, "Crime e Castigo" de Dostoevski! Resumindo, o ambiente estava bom...
Um jovem bem vestido sentou-se numa mesa por detrás das minhas costas e, a certa altura, tocou na minha cadeira, o que me levou institivamente a pôr a mão no bolso do casaco para verificar se a carteira estava no lugar. Tudo bem.
Mas, alguns minutos depois, a empregada de mesa dirigiu-se a mim : "Tem a carteira no bolso?"e, quando constatei que já tinha o bolso vazio, ela exlamou: "Vá a correr atrás do ladrão, talvez ainda o apanhe!"
Alguns dos meus amigos saíram do restaurante a correr, mas de nada adiantou. O rapaz já devia estar a "estudar" a minha carteira nalgum pátio escondido ou estação de metropolitano.
A polícia registou o roubo e existe alguma esperança de que o carteirista atire os documentos para algum caixote do lixo ou para o chão e alguma boa alma os entregue às autoridades ou me telefone.
Escrevo tudo isto apenas para que outros portugueses que venham a Moscovo tenham mais cuidado do que eu quando forem almoçar ou jantar ao "Iolki Palki". A propósito, o nome do restaurante pode ser traduzido para português como "caramba", "porra". Que coincidência!
Não acredito em horóscopos, nem em estrelas, mas, quando cheguei a casa e comuniquei o sucedido, a minha filha comentou: "o teu horóscopo dizia que hoje não devias ter saído de casa, mas dedicar-te à família!" Desta vez, as estrelas acertaram no prognóstico e hoje já não saio de casa...

sábado, setembro 23, 2006

Dínamo de Moscovo continua a afundar-se na tabela classificativa

Spartak de Moscovo, próximo adversário do Sporting na Liga
dos Campeões, venceu o Rubin de Kazan. CSKA, avdersário do FCPorto na mesma prova, perdeu em casa frente ao Lokomotiv de Moscovo


O Dínamo de Moscovo, a equipa ainda mais luso-brasileira do futebol russo, perdeu frente ao Rostov 1:2. Sem Danny e Derlei, que foram alvo de pesados castigos por terem insultado árbitros em partidas anteriores, o Dínamo não arranjou argumentos para derrotar uma equipa que também se encontrava na parte inferior da tabela classificativa. O jogador luso Cícero bem se esforçou e até conseguiu um provocar um penalti, mas o golo não foi suficiente para conquistar os três pontos necessários para fugir à despromoção. Moreira, outro jogador português, ficou no banco de suplentes do Dínamo.
Depois de 21 jogos, o Dínamo de Moscovo conquistou apenas 17 pontos e corre cada vez mais o risco de descer de divisão.
Quando ao CSKA, clube adversário do FC do Porto na Liga dos Campeões, perdeu em casa frente ao Lokomotiv de Moscovo: 1-2 e arrisca-se a não renovar o título de campeão nacional. O CSKA continua à frente da tabela classificativa com 41 pontos, seguido do Lokomotiv com 40.
O Spartak de Moscovo, que defrontará o Sporting na próxima quarta-feira, infligiu uma pesada derrota ao Rubin de Kazan:3-0. Os golos foram apontados por Pavliutchenko, Bistrov e Titov.

Estónia tem novo Presidente


Estónios repetem experiência da Letónia e Lituânia e escolhem para Presidente um cidadão nascido no estrangeiro
O Colégio de Eleitores da Estónia, numa reunião realizada hoje, escolheu um social-democrata, Toomas Hendrik Ives (na foto), Presidente da República. Este candidato recebeu 174 votos a favor de um total de 345 membros do Colégio de Eleitores, derrotando Arnold Rüütel, que ocupa actualmente o Palácio Kadriorg de Tallinn, residência oficial do Presidente estónio.
Toomas Hendrik Ives, actual vice-presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu, foi eleito com o apoio de vários partidos do centro e da direita (Partido das Reformas, União da Pátria, República e Partido Social-Democrata).
Ilves nasceu a 26 de Dezembro de 1953 em Estocolmo, capital da Suécia, numa família de cidadãos estónios fugidos à ditadura comunista soviética, imposta na Estónia depois da Segunda Guerra Mundial. A sua avó, pela linha materna, era russa e originária de São Petersburgo. A sua mãe nasceu também nessa cidade russa e, juntamente com o avô, foram viver para a Estónia, a fim de fugir ao regime comunista na União Soviética. Porém, no Outono de 1944, a sua família, tal como dezenas de milhar de estónios, viu-se novamente obrigada a atravessar o Mar Báltico e a encontrar refúgio na Suécia.
Mais tarde, a família de Ilves muda-se para os Estados Unidos, onde ele estudou Psicologia nas Universidades da Colômbia e Pensilvânia. Entre 1984 e 1988, trabalhou como analista político do Instituto de Investigação da Rádio "Free Europe" em Munique e, entre 1988 e 1993, ocupou o cargo de vice-chefe da redacção estónia dessa rádio.
Depois do restabelecimento da independência da Estónia em 1991, regressou à terra dos seus antepassados. Em 1993, foi nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Estónia nos EUA. Em 1996-1998 e 1999-2002, ocupou o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia. Foi precisamente na qualidade de chefe da diplomacia estónia que Toomas Hendrik Ilves visitou oficialmente Portugal em 2000. E, 2004, foi eleito deputado do Parlamento Europeu. Ilves fala, além de estónio, inglês, alemão, espanhol, francês e finlandês.
Os órgãos de informação da Estónia consideraram que esta campanha eleitoral foi não só uma das mais renhidas, mas também uma das mais "sujas" depois do restabelecimento da independência deste pequeno Estado do Báltico em 1991. Por exemplo, os apoiantes do actual Presidente, Arnold Rüütel, acusaram Ilves de ser "arrogante", "cosmopolita" que nasceu na Suécia, "viveu a maior parte da vida na América" e "conhece mal o povo estónio". Os seus adversários não tiveram mesmo pejo de recorrer a insinuações anti-semitas para denegrir a figura de Ilves, procurando "sangue judeu" na linha materna dos seus antepassados. Claro que não faltaram também as acusações de Ilves ser "agente da CIA".
Com a derrota de Arnold Rüütel, desaparece a última figura de entre os dirigentes estónios saídos do período soviético, abrindo caminho a uma geração de políticos bem mais jovem.
Com a eleição de Ilves, a Estónia junta-se às suas vizinhas do Báltico: Letónia e Lituânia, cujos presidentes nasceram no estrangeiro. A Presidente letã nasceu no Canadá e o seu homólogo lituâno nos Estados Unidos. Será que os povos bálticos chegaram mesmo à conclusão de que "santos da casa não fazem milagre"?
É de assinalar que a eleição do Presidente da Estónia não é feito através de escrutínio directo, mas de um processo extremamente complicado. O nome dos candidatos a esse cargo é votado no Parlamento, sendo eleito o que consegue o apoio de mais de 2/3 dos deputados. Caso não seja possível escolher assim o Chefe de Estado, a eleição é realizada por um Colégio de Eleitores, formado pelos deputados do Parlamento e representantes do poder local. Foi precisamente desta forma que foi eleito Ilves.
Durante a sua campanha eleitoral, Ilves apresentou como um dos principais objectivos "superar a divisão da sociedade estónia". Tarefa difícil se tivermos em conta que quase metade da população da Estónia é russófona e que ainda falta fazer muito para integrar este segmento da população na língua, cultura e sociedade estónias.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Jornalista no banco dos réus acusado de insultar o Presidente da Rússia



“Putin como símbolo fálico da Rússia”

Ivanovo, localidade situada a Nordeste de Moscovo, era conhecida por ser um importante centro textil russo, por ser a “cidade das noivas” (assim chamada devido à grande quantidade de mulheres bonitas que trabalham aos teares) e por ser o lugar da Casa Infantil Internacional, onde encontraram refúgio os filhos de militantes comunistas que viviam na clandestinidade nos seus países.
Porém, Ivanovo pode entrar novamente na história devido ao julgamento insólito que começou hoje, 21 de Setembro. Num dos tribunais dessa cidade está a ser julgado o jornalista Vladimir Rakhmankov (na foto) por “insultar um representante das autoridades”, mais precisamente o Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
No dia 18 de Maio, Rakhmankov publicou o artigo “Putin como símbolo fálico da Rússia” no seu sítio electrónico http://www.cursiv.ru/ , onde abordava, com ironia e humor, as perspectivas do aumento da natalidade no país.
O jornalista analisava a mensagem anual do Presidente Putin à nação, principalmente o capítulo dedicado à crise demográfica na Rússia, mas o principal motivo que levou à escrita do artigo foi o comunicado do centro de imprensa da Câmara de Ivanovo sobre a reprodução, no jardim zoológico local, de cavalos, póneis e linces. O autor concluiu que os animais responderam operativamente ao apelo do Presidente.
No dia seguinte, funcionários da Pocuradoria-Geral (Ministério Público) invadiram a redacção do jornal, confiscaram os computadores e selaram as instalações. O apartamento do jornalista também foi revistado.
Nem o Presidente Putin, nem a sua administração apresentaram queixa, mas os representantes da Procuradoria-Geral em Ivanovo não deixaram escapar a oportunidade de castigar o “herege”.
A organização internacional “Repórteres sem fronteiras” condenou o encerramento do jornal electrónico e considerou essa acção uma perseguição política.
“A prática jurídica mostra que só o calão pode ser ofensivo. No meu artigo não há palavrões, nem nada que se pareça. Na realidade, a peritagem linguística mostrará tudo” – declarou Rakhmankov antes do início da sessão do tribunal.
Porém, a filóloga Elena Belova, perita convidada pela acusação pública, declarou que realizou a peritagem “exclusivamente do ponto de vista da filosofia ortodoxa”, e concluiu que “símbolo fálico” é um insulto ao Presidente.
Se o jornalista for considerado culpado, poderá ser condenado ao pagamento de uma multa de mais de mil euros ou a trabalhos administrativos.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Futebolista brasileiro faleceu no Cazaquistão



Na segunda-feira à noite, em Karagandá (cidade do Cazaquistão), faleceu, vitimado por um ataque cardíaco, o futebolista brasileiro Nilton Pereira Mendes, que jogava no clube local “Chakhtior”.
"O futebolista de 30 anos sentiu-se mal durante um treino no estádio do Chakhtior, queixou-se de dor na região do coração" – contou à agência Interfax-Cazaquistão Grigori Loria, presidente do clube Chakhtior, apesar de, segundo ele, ainda de manhã Nilton Mendez se sentir bem.
Os médicos do clube constataram que o futebolista estava com a pressão alta, chamaram uma ambulância, mas não conseguiram salvar o futebolista.
Nilton Pereira Mendes, ponta de lança, jogou no Atlético de Minas Gerais e no Internacional de Lameira, antes de rumar ao Cazaquistão. Nessa país da Ásia Central, "Mena"como era carinhosamente chamado pelos adeptos cazaques, defensou a camisola de outros clubes cazaques: "Irtich" e "Genis", tendo-se transferido para o "Chakhtior" de Karagandá no início do ano.
"Todo o futebol do Cazaquistão chora a perda de um dos melhores avanços que jogaram no campeonato do nosso país" - escreve o diário electrónico gazeta.kz.

Minas da morte


Duas avarias em minas da Ucrânia e do Cazaquistão, que ocorreram hoje de manhã, roubaram a vida a dezenas de mineiros. Na mina Zasiadko de Donietsk, na Ucrânia, a fuga de metano numa mina de carvão matou 13 mineiros e 62 foram internados com ferimentos. Na mina Lénine, no Cazaquistão, a explosão de gás metano matou 43 mineiros.
A mina Zasiadko já foi palco de várias tragédias: em Agosto de 2001, 54 mineiros morreram devido a uma explosão e, em Julho do ano seguinte, pela mesma causa perderam a vida mais 20 trabalhadores. As explorações da bacia carbonífera da região de Donietsk encontram-se entre as mais perigosas do mundo, pois, anualmente, nos seus poços ocorrem dezenas de acidentes que causam centenas de mortos. Na Ucrânia há cerca de 200 minas de carvão, das quais 75% são consideradas explorações de alto risco pelos seus níveis de concentração de metano.
As tragédias ocorrem fundamentalmente devido à incúria humana. É sabido que, na maioria das minas existentes nos países da antiga União Soviética, a maquinaria é extremamente obsoleta e os novos donos preocupam-se mais em obter lucros imediatos do que em modernizar produções tão perigosas. As condições de segurança e de trabalho são precárias e o controlo da parte do Estado é ineficaz

terça-feira, setembro 19, 2006

Rússia coloca os Estados Unidos e NATO “à frente” dos terroristas



O diário russo “Gazeta” revelou hoje o projecto da nova doutrina militar da Rússia, que deverá ser analisado pelo Governo do país até 1 de Outubro.
Não obstante o documento ter sido discutido no maior dos secretismos, o jornal teve acesso aos princípios fundamentais que irão orientar os militares russos.
“Se a nova doutrina militar for aprovada, a Rússia poderá ingerir-se em conflitos perto das suas fronteiras, fechar os olhos à difusão das armas nucleares e combater contra os adversários prováveis: Estados Unidos, Aliança Atlântica e terrorismo internacional” – escreve o diário “Gazeta”.
A actual doutrina militar russa foi aprovada em 1993, mas, em Abril de 2000, o Presidente Putin introduziu algumas alterações.
A principal diferença entre a nova doutrina militar e o documento aprovado em 2000 consiste na alteração do próprio carácter do documento. A anterior concepção era temporária: “A doutrina militar é um documento do período de transição, do período de formação de um Estado democrático, de uma economia mista, de uma reforma da organização castrense do Estado, de uma transformação dinâmica do sistema de relações internacionais”.
A actual, porém, já é permanente: “A doutrina militar é um documento do Estado democrático, da economia mista...”
Tanto no primeiro como no segundo documento se afirma que “a doutrina militar é defensiva”, mas também aqui há alterações. Foi acrescentado o seguinte parágrafo no capítulo “Bases do emprego das Forças Armadas da Federação da Rússia”: “A Rússia pode recorrer à força para defender os interesses dos seus cidadãos no estrangeiro, se a sua vida for posta em perigo”.
A segunda particularidade fundamental consiste em que, segundo o novo documento, a Rússia poderá participar em conflitos armados junto das suas fronteiras se tiver lugar “a violação de princípios do Direito Internacional que entre na definição de agressão contra os seus cidadãos”.
Esta alteração permitirá a intervenção militar na Abkhásia e Ossétia, regiões separatistas da Geórgia, onde a esmagadora maioria da população já tem cidadania russa.
A terceira diferença encontra-se no capítulo “Garantia da segurança militar”. Por exemplo, se antes a Rússia realizava uma “política militar conjunta” apenas com a Bielorrússia, hoje propõe-se fazer com “os países da Comunidade de Estados Independentes”.
Mas o principal, neste capítulos, é que a Rússia “manifesta-se pela não difusão de armas nucleares e de meios do seu transporte”. Na redacção anterior, estava escrito que o país se manifestava “pelo carácter universal da não difusão de armas nucleares”. Segundo uma fonte militar citado pelo Gazeta, “a renúncia ao “carácter universal” é uma prevenção para o caso de o Irão vir a possuir armas nucleares”.
Entre os princípios que não sofreram alterações está o rol de prováveis adversários da Rússia, que os autores do novo documento e numeram na seguinte ordem: Estados Unidos, NATO, terrorismo internacional.
“O facto de a NATO e os Estados Unidos continuarem a ser apresentados como adversários prováveis é um resquício da doutrina militar soviética. E acho que inadequado. Claro que devemos estar prontos para enfrentar qualquer adversário, mas precisamos do desenvolvimento das Forças Armadas nos conflitos locais” – declarou Serguei Markov, politólogo próximo do Kremlin e director do Instituto de Estudos Políticos.

Português acusado de pedofilia foi detido na Letónia




A polícia de Riga, capital da Letónia, deteve um cidadão português que utilizava crianças da cidade para fins sexuais. Segundo o diário letão Diena, o homem, de 29 anos, foi descoberto graças ao trabalho de um psicólogo que teria conseguido obter o depoimento de dois rapazes, respectivamente de oito e doze anos.
A detenção, que ocorreu no passado 1 de Junho, foi realizada por agentes de uma nova secção criada pela polícia de Riga para combater a prostituição. O detido visitava frequentemente a capital letã como turista, mas nunca se instalava em hotéis, preferindo alugar com antecedência apartamentos particulares. Ele encontrava as suas vítimas menores em cafés, estações ferroviárias e rodoviárias; regra geral, tratava-se de crianças de famílias necessitadas que pediam.
O presumível pedófilo, que continuará em prisão preventiva até ao fim da investigação em curso, que deverá terminar no final do ano, não tinha dificuldade em conversar com as crianças, porque domina o russo, língua falada pela maioria dos habitantes de Riga. Depois de entrar em contacto com os menores, o “turista” levava-os para locais desertos e, recorrendo à violência, violáva-os. Segundo a polícia, às vezes, ele “dava dinheiro” ou “oferecia gelados” às vítimas, mas, noutros casos, “nada dava às crianças”.
Ints Kuzis, chefe da Polícia Judiciária de Riga, afirma ter testemunhos de duas crianças, bem como “provas materiais encontradas num apartamento alugado pelo português”.
Sigita Pildava, funcionária das relações públicas da polícia, declarou que as autoridades já têm provas de que o português violou, pelo menos, dois rapazes e uma rapariga, todos menores, mas acrescenta que “esse número irá crescer”.
Os crimes sexuais tornam-se cada vez mais frequentes, mas as autoridades policiais de Riga consideram que “o caso do pedófilo português” é o mais mediático devido ao número de vítimas envolvidas. Fontes policiais letónias, contactadas pelo Público a partir de Moscovo, reconheceram que a investigação não pôs de lado a versão de que o detido possa estar ligado a redes internacionais de pedofilia.
“A situação com os crimes sexuais contra menores piorou seriamente depois da adesão da Letónia à União Europeia” – sublinha Sigita Pildava, explicando: “Deixou de ser necessário, para os cidadãos da UE, ter visto para entrar na Letónia, o que fez aumentar bruscamente o “turismo sexual”. Além disso, se antes, os turistas europeus podiam alojar-se apenas em hotéis, hoje têm possibilidade de alugar apartamentos particulares, o que dificulta o controlo por parte da polícia.
O presumível pedófilo poderá ser condenado a uma pena de prisão até oito anos.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Transdniestre: 97,1% a favor da incorporação na Rússia



Segundo dados da Comissão Eleitoral Central, 97,1% dos votantes da região separatista moldava de Transdniestre apoiou a independência e a futuro adesão deste território à Federação da Rússia, enquanto que apenas 2,3% votou contra. Quanto à segunda pergunta: "Considera possível a renúncia à independência da República Moldava de Transdniestre e a sua incorporação na República da Moldávia?", 94,6% responderam "não". No referendo participaram 78,6% dos 389.061 votantes inscritos nas listas eleitorais.
Moscovo reconheceu os resultados do escrutínio, mas tenta moderar as expectativas dos habitantes de Transdniestre. Em visita oficial a Portugal, Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, declarou que se deve abordar o referendo "a partir da posição do bom senso" e "sem emoções", que não devem "esconder a essência da questão". Segundo ele, "a essência consiste na necessidade de voltar à mesa das conversações com vista à regularização do conflito".
"O referendo não é uma tentativa de agravar a situação, mas uma tentativa de chamar a atenção para a difícil situação em Transdniestre, que é alvo de um bloqueio económico" - concluiu Lavrov.
Mikhail Evstaef, porta-voz da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, anunciou que esta organização "jamais reconhecerá os resultados desse referendo". Moldávia, Ucrânia, União Europeia e Estados Unidos manifestaram posição semelhante.
Em 12 de Novembro próximo, referendo semelhante, também inspirado pela Rússia, irá realizar-se na Ossétia do Sul, região separatista da Geórgia.
P.S. Salvo raras excepções, este referendo passou quase despercebido na imprensa portuguesa. Talvez porque poucos sejam os que ouviram falar de Transdniestre (ou Transdnístria), mas o facto é que este território separatista da Moldávia "terá fronteiras" com Portugal a partir do próximo ano. Em 2007, a Roménia adere à União Europeia e as fronteiras desta organização irão chegar precisamente à Moldávia. Coisas da globalização!

domingo, setembro 17, 2006

A adesão à Rússia consegue apoio esmagador em Transdniestre


Uma sondagem realizada à boca das urnas em Transdniestre indica que o “sim” à independência desse território separatista da Moldávia e à sua posterior integração na Rússia conquistou 96% dos votos, enquanto que apenas 2% dos eleitores apoiaram a continuação na Moldávia e outros 2% se abstiveram.
O escrutínio, que é considerado ilegítimo pelos Estados Unidos e a União Europeia, mas apoiado e financiado pela Rússia, foi bastante concorrido, tendo participado 70% dos quase 400 mil inscritos.
A Comissão Eleitoral Central de Transdniestre, que deverá anunciar hoje os primeiros resultados, informou que o escrutínio num clima de calma e de activa participação.

História de um “conflito congelado”


O afastamento de Transdniestre em relação à Moldávia começou ainda na época soviética, no final dos anos 80 do séc. XX.
O território, que até 1940 fez parte da Ucrânia no seio da URSS, depois de consumar-se a anexação das regiões romenas da Bessarábia e Bukovina, formou com elas a República Socialista Soviética da Moldávia (RSSM), constituindo a sua parte mais desenvolvida. Em 1990, produzia 40% do PIB e 90% da energia eléctrica da Moldávia.
A declaração do moldavo como única lingual estatal, a proclamação da ilegalidade da ocupação das regiões romenas e da formação da RSSM, e a declaração da independência pelo Parlamento moldavo em 1991 desencadearam forte resistência na Transdniestre, cuja população se sentiu ameaçada perante uma hipotética reunificação com a Roménia.
Esses receios foram aproveitados tanto pelos dirigentes soviéticos locais, que, primeiro, impulsionaram a proclamação da autonomia e, depois, a independência, como pelas autoridades de Moscovo, com o objectivo de não deixar escapar a Moldávia.
Em 1992, o conflito entre Transdniestre e Moldávia degenerou em guerra, que terminou graças à intervenção do 14º Exército russo. Esta força militar mantém-se instalada na região e constitui a protecção do regime separatista.
A Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa envolveu-se na solução do conflito, mas sem êxito, tal como tem acontecido noutras regiões do antigo espaço soviético.

Transdniestre referenda união com a Rússia




Exemplo de Timor-Leste serve para justificar o separatismo apoiado pelo Kremlin

A região separatista moldova de Transdniestre (a amarelo no mapa) pretende legitimar num polémico referendo a sua aspiração de integrar-se na Federação Russa.Os eleitores deverão optar entre duas perguntas: "Considera possível continuar a política de reconhecimento internacional da República Moldava de Transdniestre (RMT) para sua posterior incorporação na Federação da Rússia?" ou "Considera possível renunciar à independência da República Moldava de Transdniestre e a sua incorporação na República da Moldávia?".
Praticamente ninguém duvida que mais de 90 por cento dos participantes no escrutínio optarão por dizer sim à primeira pergunta. "Graças à Rússia tivemos paz muitos anos e, por isso, os habitantes de Transdniestre, sem olhar à sua pertença étnica, têm uma mentalidade pró-russa", declarou Igor Smirnov, dirigente da república separatista.
Sem fronteira terrestre com a Rússia, a RMT constitui uma pequena faixa na margem oriental do rio Dniestre, situada entre a Moldávia e a Ucrânia, com 200 quilómetros de comprimento e 12 de largura, com uma população de 555 mil habitantes (40 por cento moldavos, 30 por cento ucranianos e 30 por cento russos.
Valeri Litskai, chefe da diplomacia de Transdniestre, justificou a decisão de realizar o referendo com "a mudança da situação a nível internacional, e com a concordância com a política da Rússia", baseando-se em exemplos como Montenegro e Kosovo, nos Balcãs, e Chipre e Timor-Leste.
A Moldávia não reconhecerá o resultado do escrutínio, considerando-o "a continuação da política de separatismo". A Ucrânia, a União Europeia e os EUA defendem a mesma posição com base na necessidade de manter "a integridade territorial da Moldávia".
Porém, a provável independência do Kosovo e o recente referendo no Montenegro levaram o Kremlin a pôr em cima da mesa as "novas realidades europeias" como principal argumento para reforçar o princípio da autodeterminação perante o postulado da integridade territorial no espaço da ex-União Soviética. O Presidente russo, Vladimir Putin, advertiu várias vezes que a independência do Kosovo será um precedente para os "conflitos congelados" nas antigas repúblicas soviéticas, entre os quais destacou Transdniestre, Ossétia do Sul, Abkházia e Nagorno-Karabakh.
Moscovo concedeu já cidadania russa a cerca de cem mil habitantes da RMT e abriu, esta semana, um consulado na região para acelerar esse processo, como fez na Ossétia do Sul e Abkhásia, onde mais de 90 por cento da população já tem cidadania da Federação da Rússia.

História: O que une Portugal à Estónia?



Destaque Reza a lenda que foi graças às pressões da católica Berengária que o seu marido decidiu, em 1210, lançar uma cruzada contra os últimos povos pagãos do Báltico Pela primeira vez na sua História, Portugal inaugurou uma representação diplomática em Talin, capital da Estónia, tarefa realizada por uma mulher: a embaixadora Ana Paula Zacarias. Era necessário dar esse passo, pois os dois países fazem parte do mesmo espaço económico e político: a União Europeia.
Porém, os primeiros contactos entre os dois povos ocorreram na Idade Média e o mar era o principal corredor de ligação entre eles. E, talvez coincidência ou sinal do destino, os primeiros contactos entre portugueses e estónios estão ligados a outra mulher: Berengária de Portugal (1194-1221), filha do Rei D. Sancho I e de Dulce de Barcelona e Aragão.
A princesa portuguesa casou-se em segundas núpcias com Valdemar II, o rei da Dinamarca cognominado de "Conquistador" e "Vitorioso". Reza a lenda que foi graças às pressões da católica Berengária que o seu marido decidiu, em 1210, lançar uma cruzada contra os últimos povos pagãos do Báltico, entre os quais se encontravam os "eestis", a fim de os converter ao cristianismo.
Uma outra lenda conta que a 15 de Junho de 1219, durante a batalha de Lyndanisse (local onde actualmente se situa Talin), do céu caiu milagrosamente nas mãos de Valdemar II um pedaço de tecido vermelho com uma cruz branca estampada no meio, que se veio a transformar na bandeira da Dinamarca. Segundo uma das versões existentes, a própria cidade de Talin deve o seu nome a esse Rei: Taani-linna (a cidade dos dinamarqueses).
Desde os primórdios da nacionalidade portuguesa que existiam contactos directos entre Portugal e a Estónia, principalmente de cariz comercial. Talin, depois de conquistada pelos cruzados teutónicos, transformou-se num dos importantes portos marítimos hanseáticos onde chegavam o sal, as frutas secas e o vinho portugueses, que, em seguida, eram encaminhados para locais tão longínquos como a Rus (Rússia). Em troca, eram exportados para os portos portugueses produtos como peles, cânhamo, linho, madeiras, etc.
No início do séc. XVIII, ao abrir "a janela para a Europa", o czar russo Pedro I anexa as terras estónias ao seu império, continuando os portos de Talin e Pärnu a manter o seu carácter estratégico. Entre 1721 e 1755, por exemplo, só a Reval (como então se chamava Talin) aportaram 70 navios de várias nacionalidades provenientes de portos portugueses. Por isso, o senhor das Rússias envia um dos seus mais fiéis colaboradores: António Vieira, judeu de origem portuguesa que chegou a ocupar o cargo de chefe da polícia de São Petersburgo, para reconstruir o porto de Talin.
A aldeia de Vääna, a algumas dezenas de quilómetros da capital estónia, viu nascer Otto-Magnus von Stackelberg, barão de origem alemã que desempenhou um papel relevante no estabelecimento das relações diplomáticas entre as cortes de Lisboa e São Petersburgo. Representante diplomático da Rússia em Madrid entre 1767 e 1711, segue com atenção a situação política em Portugal.
Numa das suas cartas enviadas à imperatriz Catarina II, Stackelberg caracteriza da seguinte forma o Marquês de Pombal: "O seu génio penetra todos os ramos do Estado, ao mesmo tempo que dá ao comércio toda a prosperidade possível no contexto da situação pouco vantajosa que existe no comércio entre Portugal e a Inglaterra... Homem raro que conseguiu abalar parcialmente o jugo que Portugal sofria devido aos tratados com Carlos II de Inglaterra."
É precisamente no reinado da czarina Catarina II que a Rússia passa a ter interesses importantes no Mediterrâneo, vendo-se obrigada a enviar para lá armadas militares. Estas passam a ter em Lisboa um seguro porto de apoio para reabastecimento dos navios russos.
Situada nas costas do mar Báltico, a Estónia é também terra de grandes navegantes. Aí nasceu e faleceu Johann Kruzenstern (1770-1846), que empreendeu a primeira viagem russa de circum-navegação (1803-1806), durante a qual visitou o Brasil e Macau.
Na Estónia teve igualmente o seu berço o poeta Guilherme Kiukhelberg (1797-1846), homem ligado à cultura portuguesa. Conhecido pela sua participação activa no Movimento Dezembrista na Rússia, que tentou derrubar o czar Nicolau I em 1825, Kiukhelberg, tal como outros dezembristas, foi beber as ideias liberais que nortearam o movimento às revoluções liberais em Espanha e Portugal. Kiukhelberg figura entre os intelectuais russos que sabiam falar português e espanhol, tendo visitado a Península Ibérica. "Agora, nas horas livres, releio os meus livros espanhóis e portugueses e dedico maior atenção, entre outros, a Camões e ao criador de "D. Quixote"" - escreve ele da cidade de Cádis em 1819.
Em meados do século XIX, Ivan Velho, neto de José Celestino Velho - mercador portuense e primeiro cônsul luso em São Petersburgo que passou a servir os czares russos e recebeu o título de barão -, foi governador da cidade estónia de Narva. Ainda hoje, no centro da urbe, se encontra um edifício conhecido por "Palácio do Velho", onde residiu o neto do negociante portuense.
O século XX foi talvez um dos mais atribulados da história da Estónia. Por um lado, foi o tempo que viu nascer o primeiro Estado estónio independente, reconhecido pelo Governo da República Portuguesa de facto em 1918 e, "de jure", a 6 de Fevereiro de 1921. Por outro lado, essa independência foi sol de pouca dura devido, entre outros factores, à traição das democracias da Europa Ocidental, que assistiram imóveis à divisão da Europa do Leste entre Hitler e Estaline em 1939.
Entre as duas guerras mundiais, Portugal manteve relações diplomáticas com a Estónia, mas sem ter qualquer representante seu neste país. Em Lisboa, os interesses estónios eram defendidos por um consulado-geral honorário em Lisboa, na pessoa de M. K. Andersen, bem como por dois vice-cônsules residentes em Ponta Delgada (Açores) e no Porto.
A Estónia foi, entre 1918 e 1939, um refúgio para todos aqueles que procuravam escapar da ditadura comunista. Entre aqueles a quem os estónios deram guarida está o jornalista e escritor Piotr Piilski (1875-1941), descendente, por linha materna, de António Vieira.
Depois da catástrofe que foi a Segunda Guerra Mundial, a Estónia foi anexada pela União Soviética, acto que o Estado Novo e os governos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 não reconheceram como legítimo. É verdade que, em 1987, uma delegação parlamentar portuguesa visitou a União Soviética e, quando se preparava para embarcar no avião em Moscovo rumo a Talin, as autoridades de Lisboa lembraram-se de que isso significaria o reconhecimento de facto da anexação soviética e suspenderam a viagem.
Portugal esteve entre os primeiros países que reconheceram o restabelecimento da República da Estónia a 27 de Agosto de 1991, mas está entre os últimos países europeus a abrir uma representação diplomática em Talin. Por seu lado, os estónios foram bem mais céleres e inauguraram a sua embaixada em Lisboa em 1998.
Gradualmente, as trocas comerciais e os fluxos humanos aumentam, embora não tão rapidamente como ambas as partes pretendem. Mas há sinais positivos. Neste ano, por exemplo, cerca de cinco mil cidadãos da Estónia visitaram Portugal, número significativo para um país que tem apenas um milhão de habitantes.
Porém, no campo cultural, o intercâmbio poderia ser mais intenso. Os portugueses conhecem apenas o escritor estónio Jaan Kross, autor do romance "O Louco do Czar", enquanto os estónios, por seu turno, têm apenas acesso a algumas obras de Eça de Queirós e Fernando Pessoa. Depois da adesão da Estónia à União Europeia cresce substancialmente o interesse pela língua lusa, a que o Instituto Camões correspondeu com o envio de dois leitores de português para as universidades de Talin e Tartu.
No campo político, Portugal e Estónia são dois países pequenos no seio da União Europeia, o que os leva a uma cooperação mais estreita, a fim de defender os seus interesses face aos Estados mais poderosos. As autoridades estónias revelam grande interesse pela experiência de Portugal na adesão à União Europeia e ao euro, tentando, assim, evitar os erros cometidos pelos portugueses.
Para os portugueses poderia ser interessante a experiência estónia no campo da sua reestruturação económica. Quando da desintegração da União Soviética, em 1991, algumas vozes em Moscovo profetizaram a falência económica e social da Estónia independente, mas o facto é que este país foi, entre as antigas repúblicas soviéticas, o que teve mais êxito na transição do "socialismo para o capitalismo", revelando uma taxa de crescimento económico anual invejável: 9,8 por cento. Os estónios apostaram em domínios promissores, como o turismo e as altas tecnologias. A Estónia não deixa, contudo, de enfrentar problemas complicados, como sejam o futuro da sua agricultura no seio da União Europeia ou as dificuldades da integração na sociedade estónia da numerosa comunidade russófona.
Artigo publicado na revista Pública de 17 de Setembro

sábado, setembro 16, 2006

Centenário do nascimento de Dmitri Schostakovich


No próximo dia 25 de Setembro, celebra-se o centenário do nascimento do grande compositor soviético e russo Dmitri Schostakovich (1906-1975),um dos grandes vultos da cultura mundial.
Autor de 15 sinfonias, obras para piano, cordas, bandas sonoras para filmes, canções, etc., as suas composições são um espelho da vida extremamente complexa e até dramática de Schostakovich. Durante o regime comunista na União Soviética, que terminou em 1991, a obra de Schostakovich era apresentada como um dos expoentes da "criatividade socialista", destacando-se a sua faceta política mais do que a criativa.
Actualmente, assiste-se a um processo contrário, tentando alguns críticos apresentar Schostakovich como um puro dissidente e resistente ao regime ditatorial comunista. Na realidade, qualquer uma dessas abordagens da vida e obra do compositor é demasiado simplista para que se possa compreeender a luta travada por ele para compor peças musicais bem distantes do "realismo socialista" e para, simultaneamente, sobreviver física e intelectualmente num regime de intolerância para com o pluralismo político e cultural. Só um mortal que passe pelas situações mais antagónicas que atravessou Schostakovich: ora era elogiado,enaltecido, ora insultado e humilhado publicamente, conseguirá compreender o que realmente ia na alma do compositor. Haverá alguém capaz de o condenar por ter composto "obras encomendadas" pelo regime comunista em troco da sobrevivência física e intectual sua e da sua família?
Em Portugal, este centenário vai ser também assinalado e as principais comemorações terão lugar no Centro Cultural de Belém. O programa dos concertos no CCB vem a seguir, mas, antes disso, um conselho: não percam os espectáculos, tanto mais que algumas das grandes obras de Schostakovitch vão ser interpretadas pela primeira vez em terras lusas.



Programa:
PROGRAMA CICLO SCHOSTAKOVICH

24 Prelúdios e Fugas Opus 87 (1950-1951) – I Parte
Primeira audição em Portugal pelo pianista Filipe Pinto-Ribeiro
24 de Setembro – Auditório 3 no Centro de Exposições
Hora: 19:00
Duração aproximada: 1:25, sem intervalo

A Nova Babilónia, filme mudo de Grigori Kozintsev e L. Trauberg (1929)
Partitura de Schostakovich, Opus 18, executada ao vivo pela Orquestra Metropolitana de Lisboa. Direcção: Álvaro Cassuto
25 de Setembro – Grande Auditório
Hora: 21:00
Duração aproximada: 1:20, sem intervalo

24 Prelúdios e Fugas Opus 87 (1950-1951) – II Parte
Primeira audição em Portugal pelo pianista Filipe Pinto-Ribeiro
26 de Setembro – Auditório 3 no Centro de Exposições
Hora: 21:00
Duração aproximada: 1:25, sem intervalo

E cantou como canta a tempestade
Ciclo de canções de Schostakovich e Prokofiev sobre poemas de Marina Tsvetaieva e Anna Akhmatova
27 de Setembro – Pequeno Auditório
Hora: 21:00
Duração aproximada: 1:00

The Unknown Shostakovich(Shostakovich desconhecido)
Documentário legendado em Português
A apresentação do documentário será feita pelo seu autor, Lewis Owens, que no final discutirá com o público aspectos da vida e da obra de Schostakovich
28 de Setembro - Sala Luis de Freitas Branco
Hora: 21h00
Duração: 1h30

Schostakovich-Ensemble Quinteto
Trio N.º 1 para piano, violino e violoncelo, Opus 8 (1923)
Quarteto de Cordas N.º 8 Opus 110 (1960)
Quinteto para piano, 2 violinos, viola e violoncelo Opus 57 (1940)
29 de Setembro – Auditório 3 no Centro de Exposições
Hora: 21:00
Duração aproximada: 1:30

Trilogia de Maxim
Filmes de Grigori Kozintsev e L. Trauberg (1934/1938). Banda sonora original de Schostakovich.
30 de Setembro – Grande Auditório
Hora: 18:00
Duração aproximada: 5:00, com dois intervalos

Orquestra Metropolitana de Lisboa
Suites de Jazz n.º 1 e n.º 2
Participação da Big Band do Hot Clube de Portugal
Direcção: Pedro Moreira
1 de Outubro – Grande Auditório
Hora: 19:00
Duração aproximada: 1:20

Schostakovich-Ensemble Trio
Sonata para violoncelo e piano Opus 40 (1934)
Sonata para violino e piano Opus 134 (1968)
Trio n.º 2 para piano, violino e violoncelo Opus 67 (1944)
8 de Novembro – Pequeno Auditório
Hora: 21:00
Duração aproximada: 2:00

Três últimos Opus
Schostakovich - Ensemble (DSCH) (Trio)
Yuri Kissin, Baixo
Natalia Tchitch, Viola
Rosa Maria Barrantes, Piano
30 de Novembro – Pequeno Auditório
Hora: 21:00
Duração aproximada: 2:00

Norchtein:um génio da animação







Iúri Norchtein, que ontem fez 65 anos, é um nome que pouco diz à maioria dos portugueses e lusófonos em geral, mas diz muito aos especialistas em desenhos animados. Se Vasco Granja ainda tivesse o seu programa na RTP, onde revelou grandes nomes dos desenhos animados dos antigos "países socialistas", certamente não deixaria passar esse nome. Não excluímos mesmo a possibilidade de algum dos seus desenhos animados ter passado na televisão pública portuguesa, porque a sua obra-prima, "O Ouriço no Nevoeiro", foi desenhada em 1965.
Para se compreender a grandeza deste autor da "cultura infantil", basta recordar o seguinte facto. Em 2004, o Comité Organizativo do "Festival de Animação de Laput", no Japão, decidiu pedir a 140 autores de desenhos animados de diferentes países do mundo para escolher os 20 melhores filmes dessa arte. A obra "O Ouricinho no Nevoeiro" recebeu a palma de "melhor desenho animado de todas as épocas e povos". Além disso, mais três obras dele fazem parte dessa lista: "O Conto dos Contos" (2º lugar); "A Garça e a Cegonha" (52º), "A Raposa e a Lebre" (70º), "Boa noite, pequeninhos" (81º) e "O Capote" (92º).
Norchtein começou a sua carreira em 1961, nos estúdios "Souizmultifilm", a maior "fábrica" de desenhos animados da União Soviética. Às vezes mal compreendido no seu país, onde alguns ideólogos comunistas consideravam a sua obra "demasiadamente filosófica", o desenhador recebeu numerosos prémios em festivais internacionais.
Mas considero que a melhor prova da grandeza da obra de Norchtein reside no facto de as crianças recordarem com grande carinho os seus trabalhos. Os meus filhos, bem como os de muitos portugueses que passaram pela União Soviética e a Rússia, adormeciam ao som da canção "Boa noite, pequeninhos!", que era ilustrada por desenhos animados de Norchtein em plastilina. Quanto a "O Ouricinho no Nevoeiro", ainda hoje os meus filhos recordam diálogos inteiros desses desenhos animados, bem como personagens como o cavalo, a coruja, o ursinho, a raposa, etc.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Futura adesão da Ucrânia à NATO provoca crise política em Kiev


O Presidente da Ucrânia, Victor Iuschenko, acusou o primeiro-ministro, Victor Ianukovitch, de não defender os interesses nacionais ao anunciar que o país não estava pronto para cumprir o plano de acções para a adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica.
“A posição de Ianukovitch é errada, não corresponde aos interesses nacionais e deve ser corrigida” – declarou Iuschenko numa conferência de imprensa em Kiev, capital da Ucrânia, acrescentando que o primeiro-ministro e o seu partido se opuseram sempre à aproximação da Ucrânias às instituições euro-atlânticas.
Na quinta-feira, Ianokovitch foi a Bruxelas explicar ao Secretário-Geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer (na foto),que a baixa popularidade da Aliança Atlântica no país ditava uma pausa no processo de aproximação da Ucrânia a essa organização, revelando também que este processo poderia prejudicar as relações entre Kiev e Moscovo. “Devemos convencer a sociedade” – declarou o político pró-russo na sua primeira visita à sede da NATO desde que se tornou primeiro-ministro em Agosto passado.
Estas declarações provocaram um vendaval político no país, visto que, no acordo de unidade nacional, assinado pelos apoiantes de Iuschenko com a oposição, todas as partes aceitaram o rumo europeísta da política externa. Não obstante, a fim de superar a crise política, o partido pró-presidencial “Nossa Ucrânia” aceitou a exigência de Ianukovitch e dos comunistas de submeter a adesão à NATO a um referendo.
Os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, que são directamente nomeados por Iuschenko, juntaram-se ao coro dos críticos das declarações de Ianukovitch, tendo Boris Tarassiuk, chefe da diplomacia ucrania, lembrado que “a política externa é uma prorrogativa do Presidente que o primeiro ministro deve seguir”.
Tarassiuk reconheceu que as discrepâncias entre Iuschenko e Ianukovitch quanto à Aliança Atlântica levam a que a NATO não convide a Ucrânia a ingressar na Organização na sua próxima cimeira, marcada para Novembro em Riga.
Se este conflito não tivesse desplotado, a NATO teria sérias dificuldades em dar esse passo, porque ele implicaria uma agudização das relações com a Rússia, que tudo tem feito, nomeadamente desestabilizando a situação política nalgumas regiões ucranianas, para impedir a adesão da Ucrânia à Aliança. Assim, Ianukovitch retirou um pesado fardo das costas dos dirigentes da NATO.
Quanto às relações da Ucrânia com a União Europeia, Benita Ferrero-Waldner, Comissária para os Assuntos Internacionais da UE, declarou, num encontro com Ianukovitch, que a adesão potencial da Ucrânia a essa organização “não está na ordem de dia”, prometendo apenas um novo acordo de ampla cooperação depois da entrada desse país na Organização Mundial do Comércio.
Depois disto, ainda há pessoas que não compreendem porque é que as forças pró-europeias e pró-ocidentais perdem terreno a favor dos políticos pró-russos!
Parafraseando uma expressão, cuja autoria, infelizmente, não conhecemos, é caso para exclamar: “É o petróleo e o gás russos, estúpidos!”